Não acho que amo hagiograficamente /
a São Francisco de Assis do rio pisado /
- São Francisco de Assis em ribeirão /
que baptizou meus pés /
quando o profeta era baptista por lá
á jusante daqueles águas à montante /
do meu coração de menino passarinho no ninho
a pipilar ao devorar as minhocas /
que me trazia o pelicano pai /
e minha mãe, alcatraz branco /
Não, não gosto de São Francisco de Assis /
mendigo italiano medieval /
errabundo pelo mundo /
medievo homem mendicante /
fascinado pela pobreza abstracta /
pois de fato era filho de um nababo local /
- nascera sob a opulência /
vivera de forma nababesca /
até seu alumbramento /
no sentido pneumotórax de Manuel Bandeira /
bardo em ritmo dissoluto /
assim como a poetisa Safo /
da ilha de Lesbos /
quase sibila /
no que sibila o vento passageiro /
( Toda sua concupiscência /
lançada em suas rapsódias fugazes /
a se esvair languidamente /
no que era a cinza do tempo /
- um tabagista peremptório /
o tempo a mascar o fumo nos relógios ) /
Foi canonizado pela igreja católica apostólica romana /
este idólatra que cultuava o Santo Lenho /
porquanto os santos da igreja /
vinham para propiciar hagiografias fecundas /
cujo escopo era amealhar poder para a igreja /
Eram santos de época /
ou o tempo arquitectado pelo homem /
sobre a caberia e os ossos dos antepassados frades /
padres e outros clérigos /
que serviam a igreja /
vivos ou mortos /
As insígnias que o cobriam feito veste talar
não era a metáfora da pobreza /
mas o cíngulo com que rodeava a cintura /
a estola e a casula do prelado /
não trazia báculo mitra tiara
mas tonsura sim
nem tampouco solidéu
ou outro símbolo da heráldica eclesiástica
tiara hierofante ou férula /
não estava neste pingue personagem medieval
da idade média central /
no hemisfério ou hemistíquio das trevas /
derramadas no tempo /
que cozeu o contexto daquele anacoreta /
Não menosprezo os atos de São Francisco de Assis /
enquadro-os em intercontextualização /
mendigo italiano medieval /
medievo mendigo /
canonizado pela igreja católica apostólica romana /
nem tampouco do romantismo italiano /
- romantismo que aloco em Assis /
em época nada romântica /
de um tempo medieval /
cercado por templos /
em formato de catedral gótica /
e castelos feudais /
São Francisco de Assis /
não passava de um mendigo medieval /
medievo ser de época /
camada geológico do seu tempo /
estela franciscana apagada em geoglifos ( ou geóglifos) /
cuja vida imaginária /
esplende beleza e candor irresistível /
A história sem escrita /
mas sim na existência /
no tempo do homem /
é a de um certo Giovanni de Pietro di Bernardone /
um italiano esbanjador de paixões /
um homem que construiu em roda de si /
o seu tempo-de-idiossincrasia /
para contrastar com o tempo genérico dos homens /
espargido em redes para peixes miúdos e podres /
( o tempo é um produto ou um feito do homem /
mas alguns homens personalíssimos /
cuja inteligência é indômita e selvática /
fabricam seu tempo personalíssmo /
exegetas que são do tempo alienado /
que sói sair nos retratos /
nos vetustos daguerrótipos /
que ainda vêem o poeta Alan Poe /
sem nenhum corvo agourento /
( São Francisco de Assis /
é apenas um vocábulo no dicionário onomástico /
para servir à literatura /
narrar uma bela história literária /
transcrever um drama para o teatro /
ou uma reminiscência trágica /
com lastro nas hagiografias do mártires cristãos /
dos tempos de antanho /
quando Santo Antão nem chegara às tebaidas
muito menos à obra de Salvador Dali ou Goya ) /
Acho que o que me atrai é da tonsura /
- da tonsura de São Francisco de Assis /
santo no imaginário da ficção do Direito canónico /
( todo Direito é uma literatura escrita para uma ópera /
ou para representar no teatro próprio /
com e com rito apropriado ao contexto /
que rima com o escrito ) /
- asceta metido em surrão remendado /
roto paramento da ascese /
cordas cingindo a cintura /
( o nome eclesiástico para essa "cordas" rotas /
no jargão da prelazia é "cíngalo" ) /
- já no jargão da matemática /
cordas designam senos trigonométricos /
Entretando, o santo seráfico
não tocava tais cordas de viola ou alaúde, cítara /
porém cordas para tocar /
num coração cálido /
de ardente paixão pulsante /
à maneira dos italianos /
pois este coração o frade exibia no peito /
( O frade de Assis ostentara intensa paixão /
no decurso de sua vida breve /
Era um homem intenso /
de vigoroso temperamento /
e vontade onipotente! /
- um deus, uma divindade medieval! ) /
São Francisco de Assis /
o homem representado por Giotto /
( amo São Francisco de Assis na obra de Giotto ) /
porquanto o santo de Assis /
era um homem das dores /
prescrito nos vaticínios do profeta Isaías /
poeta da mais alta cepa /
este profeta teatral /
que amava o bombástico /
e os oráculos terrificantes /
mas também um arauto do evangelho /
que quase leva o progenitor à bancarrota /
( Este santo é um nume da igreja católica /
cuja hagiografia idílica ou romanceada /
embasada em panegíricos e apologias /
exorta um proêmio ao devaneio /
ilustra, no entanto, a megalomania do pai seráfico /
- sua vida medieval é proverbial /
mesmo metamorfoseada na tradição oral /
profícua em erigir formosura /
a haurir numa vida medíocre e ocasional /
com notório gris por cor /) /
Fico embevecido com a ordem dos mendigos /
cujo nome ou inteligência nomeada /
põe em lugar do mendigo miserável e infeliz /
o vocábulo mendicante /
das ordens em forma na idade média efervescente /
então evanescente /
nas vascas da agonia /
no seu ocaso /
que afina harmoniosamente /
com a voz sofisticada do violino mais estridente da orquestra /
o magno soprano /
que não sopra o anjo da goela ou da laringe /
mas dá a tónica da nota da Ordem mendicante /
a qual se estriba num dó maior sustenido bemol /
( ou algo assim musical timbrado ) /
e floresce melhor em qualquer solo /
( solo de violoncelo belo! /
ou anelo por esse solo ) /
quer seja este solo para clarinete /
e não tão-somente para tuba em solilóquio /
num solipsismo lastimoso /
moroso e lacrimoso /
solo só solene e sem soluço de violino divino em hino! /
- violino em solitude de fagote /
vivo no sopro do músico solista /
- músico cuja filosofia é o solipsismo /
amuado no solo de oboé cantante /
a rumorejar no riacho pequenino de riso em menino /
- bem pequenino menino /
menino Jesus /
pois menino é menino /
- é menino Jesus! /
é filho dos tempos em desarranjo de banjo nos relógios /
neto no tempo para miosótis em êxtase /
bisneto ou trisneto em tempo em que houve a metamorfose nos desenhos /
nos artefactos tangíveis e nas coisas intangíveis /
para o macróbio sobrevivente às intempéries abruptas /
e às vicissitudes da vida /
se cônjuge supérstite /
quando o homem logra sobreviver à viúva eterna /
à viúva de Sarepta /
visitada pelo profeta Elias /
- mulheres sempiternas /
e ternas, sempre ternas /
da ternura infusa nas dálias /
nas amapolas, gerânios, no alecrim campestre... /
floradas de uma meiguice silvestre! /
ou capitulares no girassol /
que gira o sol na abóbada celeste /
para violinista celeste /
ou verde se o violino está nos baixios /
aonde vai o arroio e o arroz dos campos /
estepes, tundras, cerrado, paul... /
Ser o menino Jesus /
o bem pequenino menino Jesus /
era o desiderato de São Francisco de Assis /
o pequenino São Francisco de Assis /
cujo sonho acordou com a montagem do presépio /
- a invenção do presépio tirado ao surreal /
à areia do surreal que enche a praia da ilha onírica /
( Haverá uma cor onírica /
para se apreciar na aldeia abandonada na imaginação /
para onde peregrina o artista /
toda a noite /
através do véu da madrugada "frígida"?!...) /
Oh! o pio presépio de São Francisco de Assis! /
um frade menor /
criador da ordem menor /
fundador da ordem dos irmãos mínimos /
para não dizer os irmãos meninos /
- a Ordem dos Irmãos Meninos-Jesus!
( A Ordem Franciscana dos Meninos Jesus /
ou frades menores ) /
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