Uma tarde-noite
lusco-lusco no fuso da abóbada celeste
vi algumas nuvens passando
numa velocidade insólita
( O lusco-fusco é um verbete
no dicionário ou enciclopédia da noite
- um apontamento para a madrugada subseqüente
enregelada no glaciar da Patagônia
com a sequela do terror no ar rarefeito
na dispnéia dos pesadelos com Íncubos e Súcubos
na obra pictórica de Fussli
- um retrato sem daguerrótipo da noite
Escura na alma aflita )
Pareciam, as nuvens passageiras,
fac-símile de fantasmas
sob os clássicos lençóis alvacentos
esgarçados no matiz para uma ausência de cor
da garça branca
nada cromática ave magérrima
longo pescoço
- esgarçada nas nuvens implumes
com plumagem de gaivota-hiperbórea
- nada, nada nefelibata
bípede emplumado
com as patas plantadas na lâmina d'água do lago
enquanto o lago é peixe
nadando na piscina
- que o písceo nada na piscina
e (idem!) na piscicultura belicosa
do latim pagão de Roma dos Césares
a começar a arenga em Júlio César
escritor em campanha de general
ditador na República romana
As nuvens cantam a garça
exprimem rapsódias de garças geométricas
no desenho racional de Euclides
( miríades de Euclides
saindo do cupinzeiro
qual térmita, mariposa lépida
com o fito de espargir a semente da geometria
pelo mundo civilizado depois de Alexandre Magno
até marco aurélio do Império romano!...)
Ah! a graça da garça branca!
antes da barra da alva
lavar a flor de laranjeira
com abelhas operárias
mel e orvalho matinal
para quem pisou outro rocio
( ou atravessou o Rubicão! )
depois de passar a madrugada
no mundo onírico
de onde levantou com o sol no levante
para amar a luz viva
de outra aurora com alma
a espreguiçar no corpo vivo
depois dos passos sobre o aljôfar
arroio sem rumor
brotando da madrugada em vergônteas
dissimuldas nas trevas
medrando a medo
( A madrugada é a hora de alma
queda no corpo
quedo no leito
com o sonho dentro
a nadar a cavaleiro sobre o cavalo-marinho
no mar vermelho
revisitando o sangue
mar-oceano em clave no corpo humano
até que o homem seja trespassado
a fio de espada
e a água vire pó em segundos!
por ordem do românico império
múltiplo nos cavaleiros do Apocalipse
segundo a visão do profeta judeu
que assim descreveu o mundo da besta
pródiga em chifres! )
Todavia, vida de ave pernalta
com asas brandas-brancas
a adejar sobre a brandura da lagoa
em mansuetude de Jesus
no lago plácido
com plumas matizadas na brancura-alvura pura
flutuando suaves no canto vocal da nomenclatura de Lineu
em latim de missa
língua com a qual o sábio erudito
imortalizou a ave
a flora e a fauna
numa espécie nobilíssima
de poema de amor de naturalista
- autêntica epopéia digna da Musa
cantando a beleza coral do canto trágico dos gregos
emulando o belo poema épico : " A Eneida!"
da lavra de Virgílio Romano
ou a obra magnífica do excelso poeta latino Lucrécio
epicureu, epicurista de gênio
da pena do qual foi editada a obra "De Rerum natura"
com fulcro na filosofia de Epicuro de Samos
filósofo grego que fundo a doutrina do epicurismo
uma intuição genial da ciência moderna e coeva
Lineu deixou como legado de sua erudição
e inteligência viva e natural
um glossário da língua e da filosofia natural
na forma de nomenclatura binominal
que ainda contém sua alma viva
na inteligência viva aplicada à ciência taxionômica
- na sua taxionomia navega no ar
seu espírito encravado na alma
e esta grafada indelevelmente no pensamento
dentro de sua alma
conservada em gênios da natureza
escrita na estela dos genes
Naquele arrebol
as nuvens fugiam no vento
com almas de fantasmas
em formas fantasmagóricas
que mostrei à minha filha
quando ela tinha nove para dez anos
tempo que eu olhava para o verde do abacateiro
assomando sobre o telhado
da casa onde minha companheira
era a melancolia
a me espicaçar...
Assombrações, abantesmas, visagens de cemitérios
( a casa ficava nas era adjacências da necrópole
praticamente contígua ao campo santo)
meras sombras com algo de macabro, lúgubre
tétrico nas trevas a se reproduzir furiosamente
- seres que não estão fora do homem
não estão na existência natural
mas dentro da mente humana
apenas nesta forma de existência fictícia
enquanto seres dados pelo pensamento humano
porquanto para o homem
há uma existência intrínseca
onde convivem um acervo de seres
criados pelo pensamento
e que não têm existência de fato
porém apenas em ato
- no ato de pensar e imaginar
os seres dos sentidos internos
genuínos monstros de Frankenstein
modelados à base dos seres
percebidos pelos sentidos externos
na mixórdia entremeada de sonho e vigília
- noite apagada e dia aceso
madrugada em carvão
dilúculo em brasa
tempo Carbonífero ou Carbônico
éon Fanerozóico
sucessor do Devoniano
precede o Permiano
Eras, Épocas, Períodos
para as rochas calcárias
- tempo sem o homem
na Gondwana e na Pangéia
quando a vida vem montada na cavalinha
com alma verde-clorofila de amazona
a desbastar a antítese por hipérbato
e outras ( ostras sem ostracismo!)
figuras geométricas de linguagem
recursos da oratória
de priscas eras
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