quarta-feira, 31 de agosto de 2011

VESTAL ( sagrada virgem sacerdotisa pitonisa sibila donzela véus sete )

Tudo o que era
virou cinzas
de um cigarro abandonado por um bêbado
na madrugada da lua amarela
quase aquarela
velha querela
sem taramela
tramela
onde tranque ela
na escrita em estela
entre o opaco da pedra
e a luz da estrela
curvando-se luxuriante à janela na viela
onde está pendida a flor da umbela
que zela pela chama da vela
no templo da vestal sagrada
com a bela donzela
a velar o que não deve ser desvelado
( O ato de desvelar é função do filósofo grego
não da sibila, pitonisa...
que vela o mistério
com sete véus )

Tudo foi queimado pelo tempo
e se transformou em cinzas :
a casa com o sótão
o vetusto sobrado
pedindo luar e sol ao anil
solicitando palmeira a barlavento
com marimbondos vestidos num xadrez
elegantes naquele fraque natural
a evocar noites e dias num tabuleiro de xadrez
de treva e luz branca
- num jogo de treva e luz
de anum branco e anum preto
aves de vôo claudicante
ou dividindo a noite e o dia
nos gêneros masculino e feminino
do célebre círculo chinês
que mapeia campos negros e brancos
no corpo oblongo do marimbondo
cujo vespeiro estava alicerçado
na parte de baixo da palma do coqueiro
que às vezes fazia o vento tremular
quando caía um coco com estrépido
ou uma palma já decaída
para um verde já acinzentado
verde terminal sonhando a palha
enquanto aguarda em semi-queda um pára-queda
descaindo no empuxo da ventania
ou num sopro de nada para cair fragorosamente
em meio à madrugada tecida a canto de galo
- cantor do candor da vida sentida
observada no corpo pelo lado de fora dos sentidos em sintonia fina
outrossim quando o vento vem bufando
e toca fole e pistão
e canta o nome de Deus
- do clemente e misericordioso Alá!

Enquanto minha imaginação
joga xadrez no corpo dos marimbondos
lá naquele lugar que foi o lar
de dois pequeninos felizes
e pais encrustados na felicidade daquelas crianças
Lá ainda brincam felizes
um menino e uma menina!
- O menino e a menina!

Oh! quanta saudade de pai
sinto daquelas crianças!
- do pai que fui
com imenso orgulho
e pleno exercício da felicidade!
e paternidade patética

Pena que felicidade não volte para trás
e se repita incessante e intermitente
tipo chuva chata
( chula se não fosse chuva )
ou tal qual uma música
com musa e estro para poeta menor
da qual muito gostamos
e tocamos com frequência
porque gravada
no coração e fora dele
nos sinais do mundo lido pelo ouvido
no fonógrafo
que nos ouve
e ouve os vivos e os mortos conosco
e me faz ouvir junto ao meu pai
e aos meus filhos
com os ouvidos deles grafados no fonógrafo
- todos ouvindo juntos! :
mortos e vivos
miraculosamente no mesmo tempo
do giro do fonógrafo
pelo ralo do buraco negro
sorvedouro em espiral

O estado da felicidade
está montado sobre o corpo do tempo pretérito
porquanto raramente a percebemos
no estado regente ou presente
porque o ato apaga a opulência infinita de detalhes
e a opção por uma espécie de felicidade
é exatamente pela imaginária felicidade
que não podemos ter senão naquele passado
quando as crianças ainda não haviam
conhecido os pruridos da puberdade
e transmutado a relação com seus progenitores
- quando irrompe o fauno
e a deusa Flora se junta à Vênus calipígia
- depois que o tempo passar pelos olhos e ouvidos
pelo corpo todo com o pelo eriçado
e somente poder dar o aceite
endossado na forma de idílio
da única moeda e sinal
que impossibilite uma transação frustrante
de um tempo feliz
que foi inventado
mas não pode ser reinventado
para um tempo
cujo contexto pode ser lido e tocado
em outras invenções
que antes não constavam dos retratos
- não estavam na foto
como novos artefatos

Sem a faculdade de abstração
que permite eleger atos e fatos felizes
e evidentemente raros
até fictícios
ignorando peremptoriamente
os fatos existentes
apagando-os da memória
- sem tal faculdade
não é possível dar existência simbólica à felicidade
porquanto não há no ar felicidade sublunar
senão o que concerne à escolha
de alguns atos em formação de arquipélagos
ocorridos em ilhas cercadas por águas
que ficam num mar interior
nadando peixe espada
nadando na água interior do marlin
dentro de nossos sonhos mais caros
- no líquido amniótico
onde a felicidade tem o poder de gozar de existência
conquanto não possa viajar de canoa
até aquele arquipélago inacessível ao mundo
ligado por um istmo fora de um mundo
o qual faz ponte para dentro de outro mundo
- este inventado e criado por cada um de nós
para deleite refrigério regozijo

Lá atrás das folhas de um oval longo
brilhosas ao sol
escondida sob o palor refinado do luar
ficou preso à raiz
o pé de canela ascendendo reto aos céus
que não pode nos acompanhar
senão em espírito
pois a alma é vegetal
é um fauno que ainda está naquela árvore
exilado quando do êxodo
- A Caneleira ou "Cinnamomum zeylanicum"

Sei que se ainda vegeta
aquele pé de canela
tem também saudades das crianças!
- daquelas crianças afeitas ao natal
criadas para eternos natais
que podiam até dispensar Cristo
por supérfluo naquelas noites natalinas
bem como todos os estúpidos cristãos
com sua fé e ritos para a morte
ou para matar através da estupidez
implantada paulatinamente na alma cristã
de todos os filhos do latim não pagãos

Ainda havia o pé de pinha
o pé de carambola
e o mais de bioma
de macrobiota e microbiota
ali junto a lagartas e lagartos
verdes ou avessos ao verde
no coqueiro que subia torto
a escada de seu próprio tronco
rumo ao céu abaulado no azul
- no muito azul!
transcendente aos olhos
imanente ao olhar
feito para mar amar
- amar o mar de cada dia!
de anum branco a anum preto

Tudo ou quase tudo
ainda está lá
inclusive a lua latindo o amarelo
o latim cristão na palmeira
o latim de Roma no lugar da alma cristã
a dizer o que é alma natural
alma para naturalista
ou filósofo natural
( os cristãos são sobrenaturalistas
que enfrentam o mundo com o medo das crianças
no escuro de um anum anti-pomba branca
na casa de de trevas do tabuleiro de xadrez
cujos jogadores de luz e sombra
são a noite e o dia )

Todavia no transcurso de menos de dois anos
do nascimento de um menino em casa
no medrar da planta desenhada dentro do neto
- aquela casa com um sótão
ficou lá atrás do tempo
preterida como um museu
o qual saiu do tempo
voou nas cinzas do tempo findo
guardando cinzas
- cinzas para a cabeça do penitente profeta
e silício para o corpo do santo

O tempo com a antiga felicidade
não é passível de reconstrução
nem tampouco desconstrução no construto
porquanto não junta mais o pó
perdido a girar no tempo daquele sol
que já passou pelo zênite e nadir
- em menos de dois anos do nascimento de um menino!
- menos de dois anos e mais alguns avos
e avós no denominador comum!
do número do tempo apagado
do que foi fogo ou brasa no cachimbo
ou da lareira na fogueira de São João
cozinhando o céu noturno
ao som de num estudo de Chopin para piano
e o espocar de fogos
e pipocas na panela

Tudo virou cinzas
de cigarro ou charuto
cachimbo espiralado
acompanho as volutas de fumaça no ar
- sendo o oxigênio, o monóxido e o dióxido de carbono
a base aonde se vai desenhar a fumaça branca
procurando caminhos para o céu
evoluindo até a Via Láctea
- a qual é algo no leite
no lácteo da via "Crucis"
assinalando ou sugerindo fumaça
desenhada no plano lógico da geometria
primeiro instrumento técnico
que serviu ao engenheiro e ao arquiteto
à engenharia mental induzindo a técnica
levando a voz à tecnologia
pela língua em sues conceitos filosóficos-lógicos
e a linguagem matemática
que transcreve a abstrata gnoseologia da álgebra
bem como a geometria algébrica
originado arabescos e pensamento árabe
sagrado e profano

Nada restou
nem cinzas do homem morto
na casa que enlouqueceu
e ficou sem porta e parte do telhado arrancado com violência
pelas intempéries sazonais
A casa cuja entrada estava toda suja
devido à falta de varrição e capina
- o caminho de entrada impedido por ervas daninhas
que armaram laços para os pés
de quem ousasse lá adentrar
uma réstia de luz e sombra do portão quebrado e escancarado
- da casa aonde passou a morar o louco e o mocho
e os morcegos leitores de trevas sapienciais
onde antes viviam duas crianças saudáveis e belas
montando estrelas no céu
- nos arredores da casa
que desapareceu no vento!
- fugiu com a primeira ventania!
- quando aquela família desmantelada
como se faz a um brinquedo quebrado
abandonou o lar...
- deixou para trás
nas cinzas de um universo pretérito
paralelo e em bolhas
o entretenimento dos marimbondos enxadristas
com os físicos quânticos
e os poetas menores
que sabem onde vive a poesia
no universo que não é maior nem menor
não importa se o objeto é uma galáxia
ou um simples azul miosótis
- que não pode ser esquecido!

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

MÁXIME (wikcionario wiki wik dicionario enciclopedia etimologia etimologico )

O poeta se escreve
- escreve para si mesmo
e não para outrem
nem tampouco para a tampa tamanha da posteridade tacanha
- um solipsismo de solipsista fanático
solidão em solitude
atitude eremita
com o caranguejo-ermitão
sem termos pelos ermos do profeta no deserto
buscando a ermida ou o eremitério
enfim a tebaida
por ser mui vulnerável
não ter carapaça

Os pósteros que se...!!!...
- assim esgrima aquele que se esculpe no ar
com uma geometria que se mensura
em signos materiais
e símbolos intangíveis e tangíveis
conforme a conta contábil
dos significados transcritos para o alegórico
em outra codificação para códice
- com cânone, sem cânone
canhestro estro do cânone e do cânhamo

O escritor é um Auto da Alma
- um Auto da Compadecida
o Auto da Barca do Inferno
que destina seu texto
para o fundo de seu ego
que é uma em âncora
de navio fundeado
na baía do escriba
Não se destina a olhos ávidos de curiosos leitores
roedores de textos
traças de alfarrábios
bibliotecários de Alexandria...

O erudito se corresponde consigo mesmo
na trilogia dos signos e símbolos
que enredam a história
( terceira parte da trilogia )
numa rede de teias para as aranhas presentes na narrativa
cuja primeira voz ou personagem e protagonista é o escritor
quiçá o único
no vazio aberto na casca e carapaça do corpo dos demais
que perderam o corpo e alma
para a trama do dono do teatro :
o poeta trágico ou satírico
épico homérico feérico
As outras personagens coadjuvantes
outras "ostras" em ostracismo
abrem-se no vácuo da casca do coco
e depois do espaço da casca
no vazio maior onde está a carapaça do coco
que armazena água
e massa branca comestível
- da alvura da areia que pisa a praia
com sandálias havaianas
quando a ilha é o Havaí
- Hawaii Hawaii
que não é aqui
é por aí alhures
( A carapaça do coco
tem a forma abaulada de um crânio humano
Endocarpo e mesocarpo
são arcabouços onde se aloja a polpa
- branca como a água branca
do coco-da-praia coco-da-baía
na Bahia cocada
Dentro da carapaça do coco
Por ali passa todo o universo
vindo de longe
e voltando para bilhões de anos-luz
sem que a água se mova um milímetro
sofra nenhum abalo sísmico ou sérico
nos seus eletrólitos
O coco sabe e tem notícia da galáxia mais distante em luz
conquanto não conheça a galáxia
mesmo porque não possui forma erudita de comunicação
Outrossim a galáxia mais longínqua
sabe e tem notícia do coco e do coqueiro
Por isso o poeta não escreve para ninguém
nem mantém uma correspondência de amor romântico
com algum mineral de outra Nebulosa
conhecida ou desconhecida
perscrutada pelo olho ou ocelo da barata )

O trovador a versejar em solo na vetusta Provença
- provençal e providencial
faz a bem-amada sonhar que é para ela
aquela ode retumbante
a descer nos cabelos encaracolados da cachoeira
a cantar outra ode
para bode Pan faunos e ninfas
com a lira de Ovídio e Horácio
a flauta de Pan
e a lira mais lírica que houve
e ainda se ouve
no ouvido do tempo
sem olvido no Letes
- a lira de Orfeu
jamais dada ao olvido
em paradoxais trocadilhos
com estribilhos

Porém para o filho ou filha
a berceuse suave
em pianíssimo
ouvindo Chopin
que é o pianista mais refinado para poesias românticas
- indo aos claros de luar com dedos de Debussy
a tocar ternamente na face do pequenino
da pequenina que dorme
- o sono dos pequeninos
Ah! o sono dos pequeninos!
- o sono das pequeninas e pequeninos é um sonho!
inenarrável depois que cala a berceuse
e a noite cala fundo
no calado da calada
rumorejando silente o rocio
em ouvidos moucos
loucos no arroio da madrugada
- riacho de orvalho límpido )

O rapsodo e profeta se inscreve no que escreve
- no círculo inscrito está escrito
descrito descritor
Entretanto não são destinatários
da carta do bardo
outro que não o próprio bardo
- o próprio remetente
ou emitente da mensagem cifrada
ininteligível aos outros
em epístolas para romanos

O aedo não tem interlocutor
e o que escreve
penetra no silêncio da poesia
e não sabe à poesia
mas à maresia
pois é impossível tocar na poesia
que jamais pode ser escrita
mas apenas vislumbrada na alma
de longe no horizonte idílico
no barco descendo o rio São Francisco
tocado pelo idílio da correnteza
e do remo sem pena de rêmige
Escreve num código hermético
com pena negra e pesada nas tintas
procurando esconder milhares de segredos
de si mesmo para si mesmo
pois para aqueles que finge sinceramente que escreve
gostaria de confessar
todos os seus pecados
e assim se aliviar com o confessor
do fardo pesado
a carga da gravidade

Contudo o leitor também não lê o aedo
ou o lê a medo
com a sensação da aparição iminente do deus Pã
o imenso e pavoroso Fauno dos bosques
que pode surgir abruptamente
como uma mamba negra
e subitamente inocular a peçonha letífera
por a morte em viagem no sangue
- num batel em travessia do mar vermelho
Portanto o leitor lê a si mesmo
se decodifica na pedra de Roseta
sendo Champollion de si
na escritura do aedo
no copta do poeta
desenhado na estela de Roseta
geometrizada no desenho lido pelo sábio fauno
que leu a pedra
decifrou o enigma da esfinge na estela
porquanto um fauno
ou inúmeros faunos é uma leitura decodificada da natureza
- do mais íntimo e recôndito em natureza
mais que a física e a metafisica de Aristóteles
que criou miríades de faunos na sociedade e na cultura
espargindo a sabedoria do fauno
que se centra em si
aonde vai e alcança seus sentidos
quando captam o território
até onde captam objetos
ali é o seu território
que embora pareça restrito e mapeado
limitado ou delineado pelo mapa ao alcance dos sentidos
mitigado ou reduzido pela capacidade da sensibilidade
é o universo inteiro
encerra todo o cosmos
dado num pedaço aparentemente irrisório
em um espaço que cabe num favo de mel
porquanto a totalidade integral do universo
tecido de galáxias e Nebulosas
está já presente integralmente na mínima parte
na abelha e colmeia ou em solitude
no átomo e nas partículas subatômicas
da química orgânica ou inorgânica
em tabela periódica de Mendeleiev
- o sábio e erudito russo de barba-russa
com perfil de Sileno

Nada é óbice no entanto
a que o leitor comum
de parcas letras e escasso conhecimento
leia o que não está próximo ao veneno da mamba negra
ou ao derredor do pavor que ocasiona a mera citação de Pã
o Fauno silvestre Silvano
- silvo de serpente peçonhenta
com a morte ostensiva na ponta do dente
Por isso o vulgo que lê
subjugado no cabresto
apto apenas para decodificar a vulgata
após a exegese e hermenêutica de seus pais espirituais
- os padres da igreja
cuja erística é devastadora
( de qualquer igreja ou instituição que os comande
não enquanto homens
porém na função de obedientes escravos ou servos da gleba )
- o vulgo ama o que lê
e não o que está escrito
mesmo porque o que está escrito
é um bilhete ou rito de passagem
do escritor a seu ego
ilegível ininteligível
infenso às investidas da erudição
excepto para os mais perspicazes exegetas
e os Champollions máxime da poesia de um Goethe
- máximo expoente da sensibilidade poética
e da inteligência filosófica e científica

O poeta é tão-somente um subscritor
daquilo que foi extraído dele
do fundo do vale e do campo vegetal
florescente em seu âmago
e trazido à lume pelo Fauno
do filão de sua alma

A alma do poeta é um Fauno

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

TRIBUNA (wikcionario wiki wik dicionario enciclopedia etimologia etimologico )

Assim ele se foi :
na asa delta do delírio do passarinho
derramado no delíquio do lírio
e da lírica eremita
a caminhar com as sandálias do andarilho
pelos descampados longos
de caminhos até após o horizonte
que se pinta azul
e se desenha idílico
numa geometria de idílio e delíquio
de pio que pia
Pia Maria
Maria Pia ou Maria da Piedade
- pio de piado ( piada piaba diaba )
porém não de pássaro apeado
apeada ave
( ave é livre para ser nave!
não pode fundar reino
no pé de pimenta-do-reino )
no delta da rêmige
afim de ninho
ao fim do ninho
leite e ninho
- do fim aos confins
na queima do serafim
em cinzas de amor sem fim
preso enfim naquele soneto de mandarim
- aquele chim do vaso chinês
do parnasiano poeta
Alberto de Oliveira
que redesenhou e repintou o pictural
num real ou imaginário vaso chinês
o qual poderia estar sob vinho
numa copa ou cilice grego
que guardava um sátiro
no tongo ( círculo no interior do tongo )

Ah! meu amigo!
- e sua mãe não estava
para cantar um berceuse
antes do seu sono de anjo
que nunca cresceu no sonho
- ainda é menino ali
como todos somos!
de olhos fechados
para o tempo
que rasga o espaço por fora
nas garras afiadas da gravidade
uma leoa, uma felina

Partiu para o outro lado do silêncio
do espelho de Alice
nas Maravilhas de um país sem Silenos
- sem o sábio e velho Sileno
que disse ao Rei Midas
que o melhor para o homem
seria nunca ter nascido
e a segunda coisa melhor para o homem
seria morrer o mais depressa possível
exprimindo destarte a tragédia que é a vida humana
essa guerra sem trégua

Oh! meu amigo!
antes que chegue todo o sono
pesando nos olhos
escute a berceuse de sua mãe
que Chopin toca
não tão bem
como ela cantava!
Ah! como ela cantava!

A Alice "Atchim!" ( que somos! independente do sexo
ou quaisquer outros detalhes
ou o que seja além e aquém do que colhe a palavra "detalhes"
detalhadamente ou sem detalhar
e que foi o homem morto
que agora deixou o ser e a existência )
- esta "Alice" ou Nova Alice
partiu o espelho
( partiu o coração do espelho! )
ao entrar por ele
como se fora um caminho
ou portal aberto
perfurou a lâmina d'água
quando e aonde se inclinou
para furar a bolha em turbilhão
o burburinho de bolhas
que é a água em quantidade na extensão do espaço afora
- parou para admirar sua imagem em água talhada
sua efígie aquática
de saracura de paul
garça no esbranquiçado do osso
abandonado do torso em penas
- penacho branco sobre corpo magro
magérrimo ser do tremedal
com plantas aquáticas a se mover na água
na graça do moinho de vento
que o vento faz em sua engenharia de foles
e pistões que gostam de tocar saxofone
com os faunos ocultos nas touças de capim alto
que circundam parte da lagoa
em cuja água queda
- queda o som do quero-quero
que balança ondas senoidais
em diagramas rabiscadas
ou em garatujas na lâmina d'água
que sobre e desce
como um entre de mulher
na dança do ventre
que representa o balé ante-orgástico
da bacante dentro da alma da mulher
( espírito grego
de povo e cultura erudita
pois não há mito
mas apenas extensão dramática do rito
sem palavra inúteis no drama
na música e na dança
cuja matéria e código é o silêncio
- mas não dos Silenos
dos sábios ébrios
que abandonam o mundo
e a si mesmo no mundo
porquanto o homem é um mundo dentro do mundo
e fora dele também )

O homem morto
entrou pelo espelho de Alice
admirando Narciso em flor silvestre
a um passo do lago embevecido com a tarde calma
que cai do céu em flocos de nuvens azuis
e da noite que chega serena e fria
no sorriso algo cínico do gato de Alice
em esgar de desenho lunar
a abrir imenso sorriso do tamanho de todo o luar
- sorriso esgarçado no gato de Alice
no céu lunar do país das maravilhas
distante alguns sonos e sonhos
a léguas da realidade prosaica
da vida pífia do homem comum
que não conhece poesia
nem sabe da filosofia
no sal do paul
que se apaúla deslumbrante!
- pinturesco em Carlos Drummond de Andrade
quando descreve e pinta a lagoa
( Minas em minas gerais
são as lagoas em Minas Gerais!
- pelos campos gerais
a banhar costas de saracuras e garças
e tantas outras orlas para aves do sertão )

Quedou-se frente ao espelho
ou à lâmina d'água com efígie de saracura-do-brejo
trincando suas especulações com a alma em pedra na física quântica
lançada ao espelho ou ao espectro
nas cores que a lira tange a grei
os rebanhos em existência e migração de gnus
também nos universos paralelos
que parafraseiam matéria e anti-matéria
desunidas a "quarks"
e supostamente unidas por "bosons"
se este liame é força forte
no amarrar tempo e espaço
formando um vaso ou ânfora
canto ou cântaro
ouvindo a cachoeira ribombar
no que cai a água
dentro do coração branco do anjo
errante em queda
que foi em água
quando deveria ser em terra
- no pó da terra desidratada
menina febril
com febre terçã ou quartã
( Os anjos são em xadrez
- anjos são marimbondos em xadrez
porque anjos não existem
apenas vestem marimbondos em xadrez
em preto e branco
no preto e branco em que pisa a noite e o dia
- preto e branco em si e separados também
sendo que algumas vespas são somente em negro
não tendo cor no espaço branco
excepto se se por que o sol é sempre branco
e a noite tece trevas cada vez mais negras e silentes
- trevas para Silenos beber até se embriagar completamente
que se a vida do homem em si já é ruinosa
imagine sem o lenitivo da bebida alcoólica!
-excepto, ainda, se o homem lograr reencontrar
várias vezes na vida
o fio que leva à Ariadne
ou que Ariadne deixou par ao guiar
no labirinto aonde o espera o Minotauro
pronto para o sacrifício humano
- sendo a vida inteira um sacrifício humano!
no cotidiano da escravidão social
também com outras onomásticas :
democracia, liberdade, fraternidade, igualdade...
e outras revoluções francesas que não aconteceram
senão na lápide escrita pela história da França
porquanto se a Bastilha caiu
foi por pouco tempo
e logo foi reerguida
e o mundo voltou a eterno "status quo"
do qual somente sai por pequenos interregnos no tempo maligno ou benigno )

Vejo-o em menino
- vejo-o o menino que vi com olhos
- o nervo óptico a enviar mensagens para o ´cerebro interpretar
na primeira vez que o vi
com olhos e nervos de um menino
que eu também era
naquela Era de Peixes!
fora e dentro do aquário
do tempo de Aquário ou para aquário
onde mal criar peixes comprados
Então ele era um menino de fina ironia
soltando a pipa no azul celeste
tangida a vento
rasgada ou remendada no azul roto
de um violinista que quero azul
- azul de um céu azul
Era um menino alegre e assaz zombeteiro
como sói àqueles nos quais sobeja a saúde
e á inteligência de escol
Oh! tempo bom para ouvir berceuse!
- tempo de menino
protegido no casulo
ouvindo o som amoroso da berceuse
na voz da mãe em coro com o vento
que cantava junto um punhado da toada
que vinha na brisa suave
que passava as mãos
nas cordas da palmeira mansa
como se fossem violinistas e violões
de longo acorde
para paradoxalmente fazer dormir o menino
profundo sono de paz
sob à sombra afetiva
dos bons sonhos de mãe
acalentando o filho
antes que venha a Medusa
com longas melenas de serpentes

Aquele ágil menino
corria atrás das borboletas
- perseguia sôfrego a vida
e a alma que é uma pena de ave na vida
pena leve e livre
com o espírito de poucos homens
soprados nas narinas
por anjos lúdicos
que gostam de soprar bolhas de sabão
junto ao menino
- ao menino de todos os tempos
em todos os espaços
As borboletas fincava-as criteriosamente
como o antigos naturalistas ingleses
mortas num quadro
colecionando-as
( Ele era o Fauno
que amava a Fauna
e sabia bem da Flora
e da filosofia natural
em campos e vales de paz
onde não se ouvia a guerra
nem na voz da pomba-rola
na onomatopéia do "fogo-apagou" )

Atravessara eras em caravelas
viera em caravelas
enquanto outros viera em vieiras
e outros moluscos
com conchas bivalves
cheias ou recheadas literalmente de vidas
enquanto carregasse a concha
"às costas" e nas costas do mares e oceanos

De cara e vela para o vento
vinha na ventoinha de uma caravela
- dando a cara a bater
( a face não esbofeteada)
ao vento em barlavento e sotavento
bombordo estibordo
e também as velas
infladas qual asas em cruzes cristãs
- cruzes espanholas ou portuguesas
no mar imenso
de onde emergia de chofre um leviatã imaginário
no placebo do real
- no real placebo
do mito que servia ao rito do medo
- não o medo do mar oceano em procela
mas do rei
um pequenino bobo na corte
que tomara o poder
e mantinha-o graças ao poder do medo
- que é um poder maior que o medo

Amava as meninas
juntamente com todas as ciências
e mormente a literatura
- mãe acolhedora das ciências
genial em Dostoievski

Em dia que escureceu abruptamente para noite
- quando o sol entrou em eclise lunar
e tudo apagou subitamente
- desfez-se da luz e do fogo a brasa do sol
que se tornou um carvão com fumaça irritante
sufocante fumaça
e uma treva ou duas ou milhões de trevas de tristeza
- melancolia espessa demais para a travessia...
rasgou o véu do céu
- e naquele dia em noturno soturno
fatídico dia-noite sem dianóia ou paranóia
conheceu sua primeira e quiçá maior e mais pungente dor
a cavaleiro dos pêsames
quando perdeu a mãe
para a primeira morte com garras de harpia
que chegou envolta nas trevas
que vinha embuçando a predadora emboscada
então próxima à orla do rio Lethes
com o barqueiro Caronte roubando o ser mais querido de sua vida
a primeira alma que ele conheceu no ventre
- que era sua mãe
intacta no carinho aconchegante do casulo
que o guardara em crisálida
antes que viesse o amor da mulher
e o amor do filho ou filha
que suplanta o tempo
e mesmo a mãe
- antes do amor da borboleta
que rompe o casulo
e sai para o vôo no mundo
- vôo pisado por flores e fragrâncias no ar
que venta as asas
moinhos criadores de vento
também para soprar os moinhos de vento
no tempo de ar rarefeito
( Tempo em que a noite nasce mais negra
é uma mamba negra encolhida
próxima ao leito
e o dia também perde diamante
e ganha carvão
com o fauno a se apagar
e deixar a brasa no caminho da fumaça
até que o lume do fogo
perca toda a lucidez
e não haja mais o calor e a luz de Lúcifer
a aquecer e iluminar a vida
que o anjo de luz mantém
junto com o anjo que sopra
a alma pelas narinas
- alma de fauno
que será retirada )

Ah! e então santo Antão
dos tempos de antanho
não houve mais berceuse
- não se ouve mais berceuse
desde aquele dia impregnado no carvão!
- preto sem branco
noite sem o tabuleiro do dia
- piso para trevas
e damas da noite
( damas-da-noite com muito perfume
a embriagar os sentidos
- mas sem sentido!
e sem berceuse no berço.. )

Foi uma noite de infinitos gritos
ou mil e uma noite de lamentações!
de uma dor sem fim
Clamores que ainda ouço
conquanto não os tenha ouvido
como meus ouvidos humanos à época
quando ele perdeu sua mãe
para as harpias
Então carpia
em noite sem dia
vela sem estrela...

Com o passamento da progenitora
seguiu mais solitário pelos descampados
carente do carinho da mãe
vagou pela terra sem ternura
em meio ambiente da hipocrisia
que é um governo nuclear na sociedade e cultura
( A base de tudo, Marx,
não é a economia política
mas a hipocrisia política
que não está entretanto
somente na política dos democratas
ou dos republicanos
mas na política quotidiana
de todos nós pescadores e pecadores
roedores e ruminantes
de vetustos ritos )

O tempo retorcido no verme
que remexe o universo
na dança da vida
na qual o verme é um dos melhores bailarinos
ou bufão-barítono
- ou tenor de Ópera italiana
era um tempo em balada
antes do homem
- antes do meu amigo
ser o homem morto
para sempre separado da luz
e das sombras noctívagas nos morcegos negros
( O verme é uma alma
que prescinde da missa em latim
pois é uma alma em latim
que anima a dança
no seu mover se retorcendo
ao modo da serpente )

O tempo o cindiu
partiu o homem morto
separou anatomicamente e com espada ou bisturi
seu corpo de homem
e seu corpo de Fauno
porquanto o ser humano é mais um Fauno
dentro da libido do homem
que um corpo humano
( Os biologistas e médicos de plantão nos hospitais
esquecem o corpo do Fauno
pois impingem-lhes desde tenra idade
no labor honesto dos estudos em vermelho de sangue
a ignorar sumariamente
a anatomia e a fisiologia do Fauno
quando homem
e da Flora na mulher florida
fornida formosa ninfa e Graça
( as três Graças
é pouco para representar uma única mulher!
- quando a amamos com o viço do Fauno
vegetal vegetativo e animal
humano e mitológico
poeta e sábio e santo
filósofo e outros tipos de eruditos
que engendram ou revisitam o conhecimento)

Através da operação que destrava o corpo da alma
colhendo o derradeiro alento do espírito
que se evola
na última exalação
do vento que pára
de insuflar as velas
daquele veleiro
que vai a pique
a alma do homem rui
depois que o amor deixou de soprar no oboé
que o anjo pensa tocar
mas quem toca é o amor de um homem
em transe de Fauno
e uma mulher em deleite de Flora
quando atravessa os campos de Afrodite
- penetra o reino de Vênus
empós tais e quais auroras
o homem deixa a pele do Fauno
- troca a pele do Fauno
pela tez do homem morto
pois só se morre
quando o amor morre
sai do sangue
exangue

Agora ele está em paz das pás de terra-sobre
coberto pela espessa treva do silêncio
sob teto ou piso de muitas camadas
- agora o homem morto está em paz com as pás
que movem moinhos de vento
e enterram ou desenterram tesouros arqueológicos
paleontológicos
vazados em geoglifos ou hieróglifos
versados em Champollion
- toda a sabedoria de ler

O homem é um paradoxo
- um paradoxo sorites
tanto o homem carregado na planta com alma
como se fosse a alma flores, folhas e frutos
ou o homem morto
dado às moscas
abandonado à dança dos vermes
pois enquanto homem vivo
o ser humano é procurado desde o faroeste
quer seja vivo ou morto
porquanto começamos a vida de onde não começamos : do nada
e retornamos por onde não podemos retornar : ao nada

No entanto, do nada
se criou um salvo conduto
ou uma senha para Jesus entrar
com toda a economia da salvação
com o Livro dos Mortos e dos Ressuscitados
e salvar o homem morto
- o que é uma crueldade sem limites
uma vez que disse o sábio Sileno
que para o homem o melhor é nunca ter nascido
ou morrer o mais rápido possível
embora ninguém o queira
nem o faça
excepto os pobres-diabos que se suicidam
pois a vida dolorosa
na via "crucis"
ainda é melhor que morte
excepto se viver já é inútil
e insuportável para o vivente

Não obstante não há quem sonhe com a eutanásia
nem um louco empedernido
nem um moribundo desesperado
nas vascas da agonia
ouvindo a coruja piar á meia-noite
- a meia-noite que passa matando com a peste
desde os tempos imemoriais
em que os judeus saíram do cativeiro no Egito
e matou todos os primogênitos dos egípcios

Não há quem queira morrer
pois todos amamos o fauno
que pulula dentro de si
quando abunda a saúde
portanto é bom ter Jesus por perto
melhor ainda tê-lo por certo
já que a ciência
com seu fauno centrado na tecnologia
até hoje não logrou sequer
descobrir um elixir
contra a decrepitude
- elixir da juventude eterna
sempre perseguido como um Santo Graal científico
uma antiga aspiração
e uma panacéia
que curasse todos os males
sem o médico ou o curandeiro
ou o charlatão mais celebrado por perto
para isso queríamos e queremos a ciência
e não para ser apenas tribuna para falastrões
porquanto a ciência hoje
se fosse um homem e não uma instituição
seria um charlatão
um parlapatão e um impostor
que nada cumpriu do seu contrato
com o lado onírico do homem
que não sei se é o esquerdo
ou à direita da têmpora

Lamentavelmente ainda morremos
e este não é nosso sonho
- nem sonho ingênuo
nem tampouco sonho científico
pois Cristo nos prometeu a ressurreição
e depois do cristianismo
que não ressuscitou ninguém
veio a ciência
e fez a mesma promessa
fundamentada nos milagres da tecnologia
- mas sei que é outra farsa
e não vai cumprir o sonho acalentado há tempo
- a cada berceuse de mãe!

Vá, meu amigo!
que sua mãe há de cantar
uma berceuse!...
- outra berceuse...
para tentar ludibriar a morte
que já houve
- e ouve atenta
mas não esculpe escuta

sábado, 20 de agosto de 2011

ESPESSA (wikcionario wiki wik dicionario enciclopedia etimologia etimologico )

Assim ele se foi :
na asa delta do passarinho
no delta da rêmige
afim de ninho
ao fim do ninho
leite e ninho
- do fim aos confins
na queima do serafim
em cinzas de amor sem fim

Partiu para o outro lado do silêncio
do espelho de Alice
Partiu o espelho
a lâmina d'água
aonde se inclinou
a admirar sua imagem em água talhada
- sua efígie aquática
de saracura de paul
garça no esbranquiçado do osso
abandonado do corpo

Entrou pelo espelho de Alice
admirando Narciso em flor silvestre
no sorriso algo cínico do gato
em esgar do desenho lunar
- o imenso sorriso do gato de Alice
no país das maravilhas
distante alguns sonos e sonhos
léguas da realidade prosaica

Quedou-se frente ao espelho
ou à amina d'água com efígie de saracura-do-brejo
trincando suas especulações com a alma em pedra na física quântica
lançada ao espelho ou ao espectro
nas cores que a lira tange a grei
os rebanhos em existência e migração de gnus
também nos universos paralelos
que parafraseiam matéria e anti-matéria
desunidas a "quarks"
e supostamente unidas por "bosons"
se este liame é força forte
no amarrar tempo e espaço
formando um vaso ou ânfora
canto ou cântaro
ouvindo a cachoeira ribombar
no que cai a água
dentro do coração branco do anjo
errante em queda
que foi em água
quando deveria ser em terra
- no pó da terra desidratada
menina febril
com febre terçã ou quartã

Vejo-o em menino
na primeira vez que o vi
- então um menino de fina ironia
soltando a pipa no azul celeste
tangida a vento
rasgada ou remendada no azul roto
de um violinista que quero azul
- azul de um céu azul
Era um menino alegre e assaz zombeteiro
como sói àqueles nos quais sobeja a saúde
e á inteligência de escol

Corria atrás das borboletas
- perseguia sôfrego a vida
e a alma que é uma pena de ave na vida
pena leve e livre
com o espírito de poucos homens
soprados nas narinas
por anjos lúdicos
que gostam de soprar bolhas de sabão
junto ao menino
- ao menino de todos os tempos
em todos os espaços
As borboletas fincava-as criteriosamente
como o antigos naturalistas ingleses
mortas num quadro
colecionando-as

Atravessara eras em caravelas
viera em caravelas
enquanto outros viera em vieiras
e outros moluscos
com conchas bivalves
cheias ou recheadas literalmente de vidas
enquanto carregasse a concha
"às costas" e nas costas do mares e oceanos

De cara e vela para o vento
vinha na ventoinha de uma caravela
- dando a cara a bater
( a face não esbofeteada)
ao vento em barlavento e sotavento
bombordo estibordo
e também as velas
infladas qual asas em cruzes cristãs
- cruzes espanholas ou portuguesas
no mar imenso
de onde emergia de chofre um leviatã imaginário
no placebo do real
- no real placebo
do mito que servia ao rito do medo
- não o medo do mar oceano em procela
mas do rei
um pequenino bobo na corte
que tomara o poder
e mantinha-o graças ao poder do medo
- que é um poder maior que o medo

Amava as meninas
juntamente com todas as ciências
e mormente a literatura
- mãe acolhedora das ciências
genial em Dostoievski

Em dia que era noite
escureceu o mundo subitamente
apagou a brasa do sol
que se tornou um carvão
numa treva de tristeza espessa demais para a travessia...
- Neste dia em noturno soturno
conheceu sua primeira e quiçá maior e mais pungente dor
quando perdeu a mãe
para a primeira morte com garras de harpia
que chegou envolta nas trevas
que vinha embuçando a predadora emboscada
então próxima à orla do rio Lethes
com o barqueiro Caronte roubando o ser mais querido de sua vida
a primeira alma que ele conheceu no ventre
- que era sua mãe
intacta no carinho aconchegante do casulo
que o guardara em crisálida
antes que viesse o amor da mulher
e o amor do filho ou filha
que suplanta o tempo
e mesmo a mãe
- antes do amor da borboleta
que rompe o casulo
e sai para o vôo no mundo
- vôo pisado a flores e fragrâncias no ar
que enta as asas

Foi uma noite de infinitos gritos
ou mil e uma noite de lamentações!
de uma dor sem fim
Clamores que ainda ouço
conquanto não os tenha ouvido
como meus ouvidos humanos à época

Finda a progenitora
seguiu mais solitário pelos descampados
carente do carinho da mãe
vagou pela terra sem ternura
em meio ambiente da hipocrisia
que é um governo nuclear na sociedade e cultura
( A base de tudo, Marx,
não é a economia política
mas a hipocrisia política )

O tempo retorcido no verme
que remexe o universo
na dança da vida
na qual o verme é um dos melhores bailarinos
ou bufão-barítono
- ou tenor de Ópera italiana
era um tempo em balada
antes do homem
- antes do meu amigo
ser o homem morto
para sempre separado da luz
e das sombras noctívagas nos morcegos negros
( O verme é uma alma
que prescinde da missa em latim )

O tempo o cindiu
separou anatomicamente e com espada ou bisturi
seu corpo de homem
e seu corpo de Fauno
porquanto o ser humano é mais um Fauno
dentro da libido do homem
que um corpo humano
( Os biologistas e médicos de plantão nos hospitais
esquecem o corpo do Fauno
pois impingem-lhes desde tenra idade
no labor honesto dos estudos em vermelho de sangue
a ignorar sumariamente
a anatomia e a fisiologia do Fauno
quando homem
e da Flora na mulher florida
fornida formosa ninfa e Graça
( as três Graças
é pouco para representar uma única mulher!
- quando a amamos com o viço do Fauno
vegetal vegetativo e animal
humano e mitológico
poeta e sábio e santo
filósofo e outros tipos de eruditos
que engendram ou revisitam o conhecimento)

Através da operação que destrava o corpo da alma
colhendo o derradeiro alento do espírito
que se evola
na última exalação
do vento que pára
de insuflar as velas
daquele veleiro
que vai a pique
a alma do homem rui
depois que o amor deixou de soprar no oboé
que o anjo pensa tocar
mas quem toca é o amor de um homem
em transe de Fauno
e uma mulher em deleite de Flora
quando atravessa os campos de Afrodite
- penetra o reino de Vênus
empós tais e quais auroras
o homem deixa a pele do Fauno
- troca a pele do Fauno
pela tez do homem morto
pois só se morre
quando o amor morre
sai do sangue
exangue

Agora ele está em paz das pás de terra-sobre
coberto pela espessa treva do silêncio
sob teto ou piso de muitas camadas
- agora o homem morto está em paz com as pás
que movem moinhos de vento
e enterram ou desenterram tesouros arqueológicos
paleontológicos
vazados em geoglifos ou hieróglifos
versados em Champollion
- toda a sabedoria de ler

O homem é um paradoxo
- um paradoxo sorites
tanto o homem carregado na planta com alma
como se fosse a alma flores, folhas e frutos
ou o homem morto
dado às moscas
abandonado à dança dos vermes
pois enquanto homem vivo
o ser humano é procurado desde o faroeste
quer seja vivo ou morto
porquanto começamos a vida de onde não começamos : do nada
e retornamos por onde não podemos retornar : ao nada