quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
EXCERTO DA OBRA "O OPÚSCULO DO ORGANISTA INIMAGINÁVEL DA CAPELA GÓTICA DE SAINTE-CHAPELLE - verbeteLE
O poeta é o filósofo
no plano vegetal,
no sistema nervoso autônomo:
o arquiteto do "pathos"
e do pacto com Deus;
o filósofo é o poeta
no plano social :
o engenheiro do caos.
Tem licença poética
e pode escrever em versos
sem compromisso algum
com as verdades alheias,
alhures na ciência
ou na filosofia,
que também só tem compromisso
com a liberdade.
Por isso pode escrever assim,
conforme abaixo,
depois dos dois pontos,
sua ação em dissertação de filósofo vegetal,
pois o poeta é o filósofo natural,
mas e mais para a natureza do fenomenológico,
fenomenologista ou fenomenólogo que é :
No transcurso do sono,
reza o poeta,
o livre-pensador,
o filósofo em sistema de erva daninha,
durante o sono
o que pode levar à morte
é a bradicardia,
porquanto o sono relaxa o corpo
e o coração então tende a parar
e só não para, na maioria das vezes
graças às leis complexas da inércia,
o que é um paradoxo,
pois leis trazem sempre anfibologia.
Inobstante, uma bradicardia severa
pode levar à morte
por apnéia ou dispnéia
o indefeso adormecido.
Todavia, não é a dispnéia ou apnéia
que mata,
porém sim a bradicardia,
uma vez que a dispnéia
é apenas um problema do sono
quando o coração diminui
ou, quem sabe, aumenta o ritmo cardíaco
no transcurso do repouso
porque o sistema é cardio-respiratório-vascular
e, portanto, não seria inteligente inferir
que os transtornos do sono
recaiam apenas na apnéia noturna.
Na realidade, talvez,
a morte súbita venha
( que não me venha!
nem a ti, Medusa,
que és toda a minha vida!:
sem ti não saberei viver mais,
pois só haveria ontem
e não outro dia,
outra manhã...)
da parte parada, em aparte,
do coração que está no peito
batendo no ritmo do carnaval
que vitimou uma personagem de Jorge Amado.
( Adeus Vadinho!, de Dona Flor,
de Jorge Amado!
Adeus, Vadinho tão amado
pela bela flor que tinha!).
(Quão feliz seria
se me amasse a Medusa!,
que não é minha...
- mas minha musa é,com fé! ).
Ao ocorrer a bradicardia severa,
no escuro do sono,
o cérebro entra em pânico
e age pelo pesadelo,
que é uma reação desesperada
para acordar a bela adormecida.
Caso o sistema nervoso autônomo
não tenha sucesso
advém a parada cardíaca
e, concomitantemente, respiratória
e, consequentemente, a morte.
Há vários tipos de pesadelos.
Uma vez tive um pesadelo
no qual uma víbora negra,
grande e pesada
estava sobre o meu peito enrodilhada;
ao acordar espavorido
a cobra ainda pesava na anatomia,
mas não me entrou na retina
e sumiu no ar
sem peso algum,
sem massa corporal.
D"outra feita era o demônio
que me sufocava
e no pesadelo
estava eu cônscio
que se não me movesse minimamente
morreria ali deitado, inerte, inerme.
Mexi um dedo,
movi um mundo
e o corpo voltou à superfície
ansioso para respirar
e sentir a inspiração da vida,
o sopro doce e musical do oboé
tocada pelo anjo do Senhor,
no dia do Senhor.
O diabo não me afogou
- no fogo do inferno?!
Não pode comigo, amigo.
( Os sistemas nervosos
sabem da iminência da morte
e lançam pesadelos
nos quais estão presentes
entes queridos falecidos
a fim de que o "paciente" do cérebro
(cadê o Pink?!)
acorde para a vida
ao invés de se deixar afundar
num poço de águas profundas
aonde irá se afogar
- saiba nadar ou não,
seja peixe ou feixe de lenha na corredeira do rio
que quer mar
como quero minha medusa.
Ah! quanto querer!!!).
Não, senhores que se julgam doutores
e não o são
( doutos são os filósofos,
que além de eruditos
põe no mundo sua tese original
e não mera cópia reprográfica
de doutrinas alheias
esparsas alhures
pelos alfarrábios
com vasta população de traças e carunchos,
ácaros e acaricidas...
Não dá mais alergia
o ácaro que o acaricida?!);
não, senhoras com doutorados,
mas não são doutas,
antes são doudas borboletas ligeiras;
entretanto, possuem o título mercantil,
no Brasil dos asnos de ouro,
mas sem Apuleyos (Apuleio!);
não, não, não-doutos médicos,
não é a apnéia
ou a dispnéia
que mata o dorminhoco oco :
é a bradicardia severa!
ou, quiçá, quem sabe,
um complexo de problemas
sem emblemas, enfisemas
ou outras lexemas.
( Viva a ema
e a seriema
e a serra e o planalto da Borborema!)
Nunca, jamais vi um notório "roncador",
senhor doutor,
( na Serra do Roncador ou alhures!)
que tenha morrido no curso do sono.
Não, aqueles que roncam
voltam a pescar a aurora viva
no peixe vivo tomado à mão do canoeiro
- na barcarola do rio São Francisco,
que é um monge franciscano descalço,
não uma carmelita descalça,
não uma das "Teresas"
de Santa Teresa de Ávila,
doutora da Igreja
de fato e de direito.
( Foi Santa Terezinha do Menino Jesus
uma de suas "Teresas"?!
- Esta outra douta,
santa cujo símbolo
é a rosa que viaja no ar...
com minha Medusa?!).
O sistema nervoso vegetal
ou autônomo, ou o poeta interior,
- no interior da aldeia
conglomerada na junção da imaginação,
- aldeia que é o ser humano individual
convivendo "coletivamente"
com seus fantasmas
em aldeias-fantasmas
e com o populacho bronco,
os vilões das "vilas" ricas,
com reino por dentro do sono
e império a constituir-se por fora
no sonho de olhos abertos,
- o sistema vegetativo
que mantem o ser vivo,
peleja ininterruptamente
contra a morte
em seus surtos intermitentes,
qual fosse um paladino
com o gládio do pesadelo em riste
passando à espada as hostes da morte.
O cérebro bifronte,
com sistema involuntário
e sistema voluntário,
frente ao desafio
que lhe lança a morte
à galope no corcel amarelo
desafia o frontispício do templo do deus Jano,
o bifronte, no tempo,
enquanto o diabo
fica sentado em meio ao redemoinho
pondo a girar seu corpo em areia e vento
no pião do menino
e, destarte diabólica,
maquiavélica,
do demônio em circunvolução de poeira,
faz de si em giro
um outro Adão
em "alter ego".
Esta a alteridade do diabo com o homem
e na mulher com as serpentes nos cabelos
- da Medusa!
Quem não tem licença poética...
que não me perdoe!
- mas que saiba! :
que sou homem indômito,
selvagem, ermitão,
santo, monge, casto...
e não há mito
que me subjugue
no rito,
- nem rito
que me faça dançar,
( faca nos dentes!)
cantar, tocar cítara,
escrever ou representar um drama
sacro ou profano, ufano...
- que me faça dançar um mistério popular!
(Mas ela pode tudo comigo,
a minha Medusa...
que me domina
com um simples olhar
ou modo de mexer a cabeça,
os olhos, o gingado simples e honesto
- e a boca bela entreabrir-se
num sussurro de comando
que acato embevecido...).
( Excerto da obra "O Opúsculo do Organista Inimaginável da Capela Gótica de Sainte-Chapelle").
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