O estado é o lobo do homem : paráfrase de Hobbes quando ele assevera : "Homo homini lupus"; contudo, a frase é de Plauto : " Lupus est homo homini non homo".O estado é o novo lobo do homem. Mas até onde vai esse lobo? Até onde manda esse lobo alfa abstracto e jurídico, jurígeno?!
Este lobo de corpo fantasma, tal qual o corpo da medicina, o objecto da anatomia, que nunca é real, mas doutrinário, muito antes de ser real, pois nada para o homem é fático completamente, uma vez que intrometido no fato está sempre o ato ou pensamento humano, o qual mesclado ao fato o transforma numa espécie de ser do homem posto no mundo tal qual o corpo do centauro na mitologia ou do cadáver na anatomia.
O estado é o lobo do homem : o lobo alfa, aquele que comanda, dá as regras ou normas através do Direito ( direito do alfa?) e das Obrigações ( obrigações do beta em diante?!).
Alias, toda a maniquéia começa no homem com o alfa e beta ou alfabeto: tudo no universo do homem, em sua comunidade ou estado, é um alfabeto ou a relação primordial do lobo e do homem também : a relação do alfa com o beta, a que se segue as demais, mais fracas, menos independentes e rivais, pois somente o beta pode vir a vencer o alfa e mudar assim o mundo á sua volta e a sua vida.Essa relação alfabética permeia e funda todo o conhecimento e toda a sabedoria : conjuga conhecimento á sabedoria, numa rara conjunção de essência e existência.
O estado aqui é uma fábula ou está posto numa fábula a modo de Kafka, na qual não devora o homem, porque nem mesmo dá para saber sobre a frase de Plauto referida no contexto de Hobbes e posteriormente, agora, no terceiro contexto : o contexto do autor ( contexto atual par ao autor, mas nem sempre para o leitor).
São três leituras do mundo ou de mundos diversos, mas interrelacionados pelo condão da língua latina e grega e portuguesa, que o faz, entrementes, no tempo, ou seja, no traslado da história de uma língua para outra : do grego ao latim de Roma e do latim do vulgo ( o latim do soldado, que traduz fielmente o pensamento implantado no povo da época pela força do processo de alienação do mais fraco, do inculto, do bronco ) ao português.( O processo de alienação é a submissão do pensamento do homem comum ao pensamento instituído e institucional, que cria uma padrão, cujo fito é impedir ao homem comum de pensar por si e apreender a pensar institucionalmente ou de forma alienada de si, nas instituições ou pelas instituições que desenvolvem doutrinas que alienam o homem ao pensamento alienígena que vem tanto das doutrinas institucionalizadas ou postas em instituições ( tendo ser ser posto numa instituição qualquer : igreja, empresa, estado...) como pode vir a emergir em um líder "carismático", que o estado procura logo eliminar, porquanto o estado não é mais que uma alienação do pensamento do homem e da manutenção indefinido no poder daqueles que detêm o poder momentâneo, que querem sempre a vitaliciedade, a perenidade).
Lido no contexto romano, parece que o lobo era, "zoologicamente", o de Esopo : um ser malvado e capaz de ardis subtis para obter sua presa. É um lobo de fábula, um lobo fabuloso; portanto é o homem na pele desse animal feroz e astuto : o devorador, o cruel lobo do romanos e gregos. Parece que o lobo da fábula ( zoologia?) grega não se modificou muito quando citado numa comédia romana.
Se a citação está numa comédia evidentemente é porque era o que se pensava do homem, objecto da comédia, enquanto ser político, sendo político no âmbito do lar ou do estado e dá uma ideia de como a "zoologia" grega e romana viam o lobo, olhavam de viés para o lobo que, quiçá, imaginam se alimentava da própria espécie, na lenda zoológica.
Hoje o lobo é até "bonzinho" em algumas ecologias, mesmo porque já foi praticamente exterminado e o morto, desde a idade média, sempre é canonizado, oficialmente ou popularmente, quer seja gente ou bicho de fábula, que também é gente, mesmo porque o lobo continua sendo de fábula, está uma zoologia separada por um cercado de doutrinas humanas, que esquece o animal no homem, enquanto zoólogo e tem como objecto de estudo o lobo ou outro animal, e põe o homem apenas como um animal articulado, enquanto o lobo é apenas a desculpa articulada na fábula para afastar nossa zoologia do caminho do pensamento ou por dois objectos num só, quando se trata de analisar homem e lobo : há sempre a intermediação benfazeja da fábula a livrar o homem da animalidade presente no lobo e olvidada no homem.
Sem embargo, Plauto usa da comédia para dizer isso : que o homem é um animal e come o outro homem, pois tem a mesma natureza animal do famigerado lobo faminto, famélico, famoso por suas perversidades e astúcias nas fábulas de Esopo.Não sei se ele quer dizer isso que se pensa hoje; provavelmente não ; provavelmente não podermos ler o que ele escreveu naquele contexto escrito : isso certamente que não, mas fazer um juntar de ato e fato para ler contextos, isso podemos fazer e sabemos fazer enquanto homens, seres que damos os nossos seres aos outros seres, incluso o animais, que muito gostamos que se afastem de nós.
Trocando em miúdos : o lobo é o governo, sendo o estado o governo também. Não existem homens de estado ou estadistas, mas homens-estados, que existem em determinados momentos e num certo tempo, num espaço ou território que é vasto, transcende ao território físico imanente da geografia e vai ao cultural, linguístico, logístico, ritualístico, filosófico, tecnológico, policial, etc.
Mais: os antigos tinham uma ideia equívoca do lobo da lenda, da fábula, que passou para a comédia e para o pensamento em suas formas gerais e variadas, mas sempre coerentes, pois a filosofia é o mesmo que a poesia, a poesia o mesmo que a pintura e as artes em geral, apenas com forma diversa e apta a ser acessada por um tipo especial de cérebro especializado numa das várias formas de linguagens; a música, a pintura, o desenho, a escultura, o teatro, a filosofia, a ciência, a tecnologia, etc., todas carregam o mesmo pensamento ou o pensamento em encerrado em sua linguagem ou língua especial, sua semiótica e semiologia, enfim.
Outrossim temos outra forma equivocada de ver o lobo ou de "cheirá-lo", se for o caso; tão equívoca quanto a visão antiga, do lobo em outro tempo e ecologia e cultura e zoologia e fábula : nos "palcos" e "fronts" que lhe pôs o homem, onde o homem deu a ele, lobo, seu ser ( o ser do homem mesclado ao do lobo) nas fábulas e zoologias mais e tais quais.
Esse equívoco tem início quando se sabe que o lobo não come o lobo, nem o homem ao homem, excepto em canibalismos justificados pelos problemas a resolver naturalmente ou culturalmente, conforme seja o caso do homem e do lobo; um cultural, com a cultura do antropófago ( não Mário de Andrade e outros "canibais" intelectuais) de alguns aborígenes, os quais eram vistos com horror pelos cristão da Europa pós-romana, dos quais não sei se Roma pagã no culto e na religião já tivera alguma notícia, pois a Roma dos deuses e a Roma de Cristo é diferente : é outra "sobrecultura" e outro "sobrepensamento" ( suprapensamento ) : uma arqueologia do saber e do conhecimento funda essas duas Romas, que hoje deve ser uma terceira ou enésima Roma, mas sempre dos romanos.
No entanto, como nesta "fábula" o lobo é o estado, até onde vai esse poder do lobo sobre o homem? Ele devora o homem? E
E por fim: por onde andará o lobo mau?!...de vetustas histórias, já conhecidas na Grécia e concomitantemente em Roma, cidade eterna.
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