Já vi uma tanajura
Presa na areia
Da praia longa
com terra lavada pela água
Porque na orla da água
Aonde ponho pé
- pé ante pé
Sentindo o molhar da água
E o sujar da areia
- sentindo o que sente o vegetal
Com senso de planta
Em pau-brasil
A pé no chão
Com a raiz plantada
Entre terra e água
pois a vida é terra e água
- e areia e água
Moldam a face da alma
E também a contemplação narcisista
Do espírito sobre as águas
Observando-se
No levante do sol
A iluminar o ser
por imaginárias pernaltas
Aves à beira d’água
Beira-lagoa
Beira-lago
Beira-paul
Beira-rio
Beira-beira
Beira-areia
Beira-bateia
Beira-ampulheta
Beira-clepsidra
Beira-beira-água
Enquanto o homem
Naufraga
à beira da loucura
na costa da demência
de costa a costa
nadando
sem eira nem beira
À beira do abismo
No mar abissal
Nau à deriva
( o molho da água
Nos pés nela calcados
Batizados pelo Batista-da-água-em-beirada
João-Batista-à-beira-d’água-e-
E o tempero da terra
Nos sais minerais
E substâncias tais
Mais condimentadas
Que muitos acepipes
E mais ao doce
dos inúmeros pudins
que ao sal
e aos condimentos das especiarias
que vinham da Índia
quando navegava a caravela
- um moinho de vento à vela!...:...
Enfim sem fim
Nem verbo
Apenas no ato
De escrever
O que o fato
- De fato no ato...)
Ver uma tanajura
Ou olhar milimetricamente
Uma tanajura em solitude
Se remexendo na areia
Tentando se desvencilhar
Dos percalços que a calca
Nas armadilhas que a areia monta
Depois que a mão da água
Lavadeira que é
Lava-a e à areia
A tanajura aí-aqui
- É uma visão de vida
pululando no calor
Que a areia armazena
Sobre dunas
aos montículos
Aquecidos
Aquecidas
pelo olho do sol
tendo a umidade cavada por dentro
Como uma alma no corpo
- no corpo “de húmus” da areia
( outro corpo humano
Com alma de água
no aqueduto...
- Que duto dúctil! )
- A tanajura ao olho dada aqui-ali
( em ato e fato )
É uma dádiva natural
Dada enquanto dado
Dos sentidos
( tão sentidos!...)
numa visão invertida do homem
no espelho...
- Ao espelho que é o espectro
A ver sem venda
- Vendo sem venda
Por fora a tanajura
Que está fora de si
( do si bemol do homem! )
No dado da visão
no olfato que agarra
qual garra de gato
( inha-de-gato no mato)
na textura que as mãos seguram
constroem
ou que grudam nas mãos
moldando a matéria manipulada
bem como sentindo a forma da energia
que se expressa no conteúdo formal
da coisa em mãos
que de coisa se transforma em objeto
e de objeto em artefato...
Há ainda no alfa do “a” e do há
a visão de dentro
Da alma se movendo
Cavando-se no nicho interior
E saindo para fora
Em direção à tanajura
Caída na areia
Como um anjo
- nadando na terra
Como se terra
Fosse água
Em filete ou abundância
O fenômeno é um espelho
Da alma e da vida
No entrar e sair a água
Dentro e fora
Do corpo físico
Que flui vivo
na eletricidade
que salta pedras microscópicas
as quais são os sais minerais
( Pedrinhas para Pedrinho sobreviver... )
Os quais pontilham a água
Porquanto a água
Por suas pedras
Ou minerais em sais
Conduzem a eletricidade
Pé ante pé
Na ponta do pé
Com toda a fé
Do corpo do vivente
Ente
Que no homem
Abre o ser
Ao se manifestar
- na epifania
Nestas pedras em sais
Esparsas na água
É por onde passa a corrente elétrica
Mensurada em amperagem e voltagem
Conforme a volta que dá na pilha
Ou na bateria
Ou na bactéria
E pega de fora a tanajura
Com a pinça nos olhos
E a põe ou lança fora
Com o dardo lançado
E a ponta da lança
Que fere a realidade
- que é o dado real
Dardo em ato humano
Que lança
( que lança! )
O dardo e o dado
- dado e recebido
Emitido e enviado
Durante a caçada
Indo e vindo
Na ponta da lança
A qual se lança
Com os sentidos
Que perscrutam o mundo
Lá fora e cá dentro
Através da lança dos sentidos
- lançada
Acurada
Afiada...
Trazendo a vítima
Como objeto e coisa
Conquanto venha a coisa
Coberta pelo véu do objeto
Que a vela
O fenômeno é o espelho d’água
Onde se mira Narciso
Perenemente
No ato que é o tempo
A constituir o espaço
Em substância percebida
na filosofia de Spinoza
e posta por Deus
na matéria
movida à energia
do tempo
que é calor e frio
e demais contrastes
do sistema binário
que põe o sistema de apoio
de todo o conhecimento
no fundamento da doutrina do maniqueísmo
a única maneira do homem conhecer
mas não de saber
pois o saber
se funda em ato
e não em fatos
oriundos da erudição
obtida em livros
onde jaz o pensamento humano
morto depois dos atos
( até dos “Atos dos Apóstolos!”)
O saber não é ato
que se transforma em fato
algo mediato
mediado
exposto em enciclopédias
ou doutos tratados
antologias poéticas
poemas ou teorias
escritas com sangue de signos e símbolos
em pergaminhos...
ou por outros caminhos
“caminháveis”
- O conhecimento sim
É assim sim
O saber não
- não é assim não
O saber é ato puro
Ação viva
Não morta no pretérito verbal
É tempo em ato
na alma do ator
não do “desalmado”
cuja alma foi cavada
pela água que a alimentava
e alicerçava
que cavou um nicho na alma
erodindo-a paulatinamente
até a morte
ou o fato
objeto da ciência
que dissecar cadáveres
e olvida o ente vivo
em ato sem ser no verbo
mas ser no tempo
que é o presente
tempo de vida
aqui e agora
e não amanhã ou tresontante
cuja indagação
é pertinente à ciência
concerne ao objeto da ciência
que é o fato morto
histórico e historiado no fato
mesmo no passado
mal passado ou quase não passado
ou próximo em minutos
ou segundos do presente
objeto da perícia
que escraviza o perito
sob o peso do objeto
que lhe fornece o objetivo
e é o objetivo da ciência
escravocrata
nos nichos escusos da democracia
pseudo-grega
gregária
para a grei caprina
ovina e muares...
A sabedoria
É a antítese do conhecimento
Porquanto sua aquisição
Dá-se com a vivência
Imediata
Não mediada por mediadores
Juízes e outros estorvos
Na metade da maça mordida
( por Steve Jobss!
- da Apple )
A sabedoria é o tempero da vida
É a inteligência vigilante
Ágil no fio do tempo
Que não passa
( o que passa é o vento!
Assobiando em meio às flores e abelhas...)
A sabedoria trata direto com a vida
Que é ato
Não fato
Que é feita sem desfazer
Na renda ou no rendilhado do ato
Ou dos atos ato-a-ato
Porquanto o fato é morto
O morto na cova
- O frio corpo do defunto
Que jaz em literatura
Ou na escrita final
Do último capítulo
E derradeira página do livro da vida
Ao se encerrar
Sem cerrar os olhos
Vidrados
No desvio do gozo fatal
Ato é vivo corpo
- Corpo da criança na criação
- criança criando-se!
Embutido em corpo cálido
Envolvida pelo corpo criador
- do criador e da criatura
( se os há )
Pois na criança
a alma é cândida
Como a flor branca
Postada no caminho
Em paz xadrez
De branco e preto
( A paz na pomba branca
pomba preta
e pomba que o verbo
tira do ato
e põe no fato
- símbolo e signo humano
com a face da cultural )
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