quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A MOLE ANTONELLIANA ( wikcionario wik wiki dicionario etimológico enciclopédico online )


Que a chuva molhe
a mole do edifício Flamboyant
que avisto de longe
na dobra da curva sul
ou do desvio para norte
quiçá este ou acaso
o ocaso em oeste

Denso sob a chuva tensa
em densidade e tensão
com envoltório de nuvens plúmbeas
tipo auréola de santo
o Edifício Flamboyant
mostra suas quatro faces na mole
que a chuva molha
com seu molho de água
e outros predicados da água

Que a chuva molhe a mole!...
- com o molho de água
condimentada no céu!...
descendo pelas escadas
do que era azul
e agora é vegetal
- anileira plantada de ponta cabeça
num céu para anil
que anuncia o anum
na noite com lua estendida em cimitarra
ou em foice nigérrima
escurecendo o latim
envolvendo o latim em matéria negra

Na dobra da curva
entre a folhagem de uma árvore
dada ao vento galopante
( o vento é o cavalo baio
a cavaleiro do ginete amarelo...
a cavalerio do cavaleiro amarelo do apocalipse!
que nada no vento
há muito tempo
sem outro evento...)
surge e insurge
detrás de uma palmeira altaneira
que sobe de longe na mole abstrata
- surge insurgente a mole concreta
apalpada pelos olhos
- a um tempo concreta
no concreto armado
e abstrata no líquido ou gás
com que a trata a mente química
a escavar no nada dado à mente
a geometria invisível
abstraída de algo inominável
que fica antes do tempo medrar no Relógio de Areia
e criar com areia na ampulheta
o espaço em espasmo para a alvenaria da mole
se moldar e molhar em mole de edifício
no derrame da clepsidra
que deixa mole a alvenaria da mole
e faz a massa
e amassa a massa
com areia na face de quem chora
- um pranto que se derrama
na chuva que move com erosão a areia
da face da mole...
- um olhar que vai além da mole
e da visão da mole!
no horizonte ocular
- oculado ou não desenhado na geometria ocular
enquanto o olhar a perspecrutar sobe
numa subida em escala de perspectiva
palmilhando cumes de fetos arbóreos próximas ao coqueiro
- contemplativo a cismar no ar
para voar de milhafre e pomba ao cinza
e assentar no topo da mole
- da mole do edifício que surge subitamente
abruptamente
face a mim
passo a passo no meu passo ritmado
no compasso do espaço circundante
ambulante e avante
enquanto ouço ou imagino ouvir
o tempo na voz do fonógrafo
cantante no fonógrafo de época
( gramofone sem museu )
em tecitura de flor de algodão para timbre
de alguma cantora do rádio

Que molhe a chuva intermitente
a mole do Edifício Flamboyant
( "Delonix regia")
a mole imersa no molho da chuva
no molho de ervas aromáticas vendidas na feira
antes de estar na chuva
e mesclada no ciclo da água
- que molhe com o molho
a mole do edifício
que avisto no horizonte
tenso e denso
com densidade aquática
quando há tempestade
lavando os corredores ou escadarias dos ares
por onde Jacó subiu em escada
e a liana foi atrás
espargindo seu rasto verdejante escadaria fora
e levando ervas daninhas
danosas apenas no espargir o verde
porquanto tudo quer o verde
e as ervas com pés plantados
no coração do verde
as quais tomam de assalto
os castelos e as choupanas
sem beligerância
que é atitude exclusivamente humana
não herbácea ou vegetal
que a vida é vegetativa
e consequentemente useira e vezeira em tolerância
contemplada na contemplativa filosofia grega
pensamento já vegetativo na alma dos pré-socráticos
- pensadores voltados ao estudo da física
que deixaram a percepção da poesia
que é a forma do belo
na alma do filósofo grego
- e este descendente direto dos poetas
que é o filósofo grego
ao perceber o belo
passou a utilizá-lo outrossim
para desvelar o mistério do pensamento
retirando o véu
que cobre as coisas e objetos
com luz ou sombra
no xadrez da cognição
a fim de que o filósofo visse a realidade
e dando uma vela aos cegos
para que vislubrasse o símbolo
no jogo complexo da aletheia
- que é um xadrez
jogado nopreto e branco
da caverna de onde emergiu Platão
do espaço sombrio
para a luz radiante do sol
a velar com sua luz "branca"
de zênite ao nadir
ou do anil ao anum
quando do dilúlo ao crepúsculo
o céu vai de azul
na travessia de sua barca

Vejo a mole do Edifício Flamboyant
com olhos na chuva
sem chapéu ou guarda-chuva negro
em dia que rasga o olhar
com as adagas da chuva
amoladas e mui "contusas"-cortantes
com o sol embuçado sob nuvens cinzentas
- o sol qual fosse um cavaleiro negro
ou um guerreiro ninja
ou ainda um monge negro
no dominicano de olhos mortiços
que abria o Livro dos Mortos
e lia a sentença da inquisição
- ou o que batera o Martelo das Bruxas
inexorável
em companhia de seus cem olhos
sem abrolhos
em língua de Evangelho
( O sol oculto por nuvens acinzentadas
toma penas de anum
e passa pelo cavaleiro negro
cujo ginete enceta e inventa o apocalipse
sem João nem ninguém
- nem também amém )

A mole do Edifício Flamboyant
em cujo frontispício ficou gravada
minhas inúmeras faces
multifacetadas pelas obras de Picasso
em rostos de mulheres que tomam cubos
- senhoritas em raízes cubicas
planificadas numa geometria
em amostra e demonstração frontal na obra
do que denominam cubismo
meus rostos expostos em geometrias
euclidiana e não-eclidiana
passa por cubos no espaço
enquanto o tempo vai desmanchando
a minha face com água cúbita
- face feita de areia de ampulheta
um silicato na mineralogia
um relógio de areia para o tempo
- um espelho de areia
que a água da clepsidra dá à erosão paulatina
na lâmina d'água para lavar o rosto de Narciso
- lavar até afogar
erodindo toda a areia
inclusive para olhos não vidrados em gema esmeralda
safira azul negro de pérola
ou castanho dos cabelos e olhos
de quem olha e ama o mundo
com alguma cor viva nos olhos
ainda distantes das areias na ampulheta
que produzem a morte vítrea
nos olhos arregalados
revirados pelo avesso do último olhar
mas agora e aqui postos molhados na verde palma
que dá um discreto adeus na palmeira
ou mexe as palmas freneticamente
ao vento da borrasca
aplaudindo com uma alegria de menino
que começa a olhar a vida
e sentir as ondas de emoção tomar o corpo fisiológico
em primeiro tempo de química
tempo de arqueólogo em vida
botânico vivo
zoólogo na existência
e não na teia da essência
ou da quinta-essência...:
- Essência exalada do olíbano
não mais enquanto árvore
mas através da matéria-prima
que é a resina colhida do vegetal
e industrializada como incenso
ao descer ao mercado
negro ou branco ou amarelo
o qual é sempreesses três magos?!
( arqueólogos têm alma antiga
enterrada sob montes de areia
e pensam sob as normas do onírico
que estão a escavar
o próprio corpo
com a mente intacta gravada na pedra
a voz no fonógrafo guardada no cantor
e o espírito escrito em três línguas de fogo
nas Tábuas de Moisés
e na Pedra de Rosetta
de Champollion
Egiptólogo e paleotólogos
e geólogos também sonham
sob o veú dessa inteligência surrealista )

Olho a Mole Antonelliana
na mole do Edifício que vejo
cujos números não aprenderam a andar
na sequência Fibonacci
Fato que não tolhe a chuva
é a mole exposta ao molho da chuva
nítida na retina
Face a mim que a olho
atrás da retina colada em cada tapa-olho
de vetusto pirata do Caribe
a mole é o objeto ante minha face
é minha imagem de Narciso
ou o objeto que me dá a coisa
velada pela luz da vela solar
que a cobre de véu branco de noiva
na grinalda de flores de laranjeira da terra
sob a luz da vela lunar
que não é vela
mas veleiro com vela inflada
pelo sopro de anjo da luz solar
luciferina luz
cobrindo o todo com a vela
que é um toldo no todo
o qual jamais deixa algo desvelado
mesmo quando cai a noite
e a noite o véu das sombras
tecido na treva
vela sem acender a vela
- vela apagando a vela solar
quando não acende a vela das estrelas
ou a luz negra
- a face negra do véu
sobre os cableos negros da noite
no encaracolar das trnças longas
( O objeto no fenômeno
é o véu que oculta a coisa
na filosofia de Aristóteles a Kant
passando pela fenomenologia de Hegel a Husserl
em novo surto filosófico )

Olho a Mole Antonelliana
porém não vejo molho matemático
em sequência Fibonacci
escrita e lida no sumo da chuva
a escorrer mole abaixo
pendente em pensante cascata
a descair mole lânguida voluptuosamente...

Entrementes na Pedra de Rosetta da mole
e da escrita em água de chuva
escorregando mansamente
pela estela da mole do edifício abaixo
e tornando o signos mutantes
gota a gota ilegíveis
a cada gota no conta gota da chuva fina
entranhando-se na escrita
e na leitura dos hieróglifos
e geóglifos ali grafados
pelo mestre tempo
senhor e deus de toda a literatura
desde antes da escrita cuneiforme...
gota a gota no conta gota
indecifráveis
indevassáveis
- tanto que pouco ou nada decifro
do que nada em gota
gota a gota
em conta gota
do enigma posto na Esfinge de Gizé
sob línguas de fogo
em um falar e escrever do tempo
escritor em quatro línguas matrizes :
alfabética, hieroglífica, cuneiforme e geoglífica
- o tempo na mente
na boca
na língua
na garganta
e na mão do homem
a traduzir e analisar
o livro em geóglifos
escrito no corpo humano
em anatomia e fisiologia
e em toda a terra
dos minerais às gemas preciosas
dos animais às ervas daninhas
- a pastar vacas no campo
na terra de onde retiram a seiva
e de onde se originam o gado bovino
e todo o arcabouço da vida
tirada da alma da planta
nada cristã ou peixe
desenhado no símbolo ou real
a nadar na água
enquanto alma da água
no mover a língua em latim vetusto
escrito e falado por Júlio César
numa Roma antiga
antes do Cristo

Todavia dentro de mim
vejo-a elucidada pela função onírica
de um Champollion
operante dentro do sonho
com o olhar voltado a um onírico em vigília
- não de olhos cerrados pelas pestanas
ocultando sono e sonho
mas de olhos vigilantes e leitores
olhos de escribas bíblicos
e decifradores de enigmas em línguas
- olhos de Champollion, enfim!
do sábio erudito que lê
e concomitantemente reescreve a estela
que aqui é a mole
mas alhures á a vida
que começa a andar
nos movimentos em tempo geológico
nos minerais
- e a passo de mineral
segue até o movimento
com tempo menos lento
nos vegetais
e por fim na velocidade do animal
cuja celeridade marca com significado o termo alma
que o latim cunhou
para designar o movimento em tempo atual
- o movimento do animal
único mover captado pela percepção
dos homens de então
( homens de antanho )
pois então em antanho
não havia a percepção do tempo geológico
nem evidentemente a escrita do tempo geológico
na língua falada e escrita pela Terra em geóglifos
reescrita posteriormente pelos eruditos
em tratados de geologia
nem se imaginava o dançar das ervas
e o caminhar da liana e da trepadeira
que escala a torre do castelo feudal
- trepadeira mimosa
a por flores na forma da trombeta
do anjo do apocalipse
na Glória Matutina
com sua floração matizada num lilás com azul
( A alma que evolou do latim
de Roma Imperial
para o latim de Roma no Vaticano
e Roma em Bizâncio
volatizou a palavra a alma
que foi exilada do mundo natural
para um imaginário universo sobrenatural
paralelo ao da física atual
Oh! Meus Deus!
- quanta bolha em minh'alma! )

Que a mole...
- que à mole não molhe a chuva
mas a mole molhe a chuva
o que é impossível
enquanto fato
porém passível de realização
quando ato mental
vestido de arlequim
e saído de dentro do ovo de um sonho amarelo gema
( Esse sonho
arlequim e ovo
é o homem e a mulher
emergidos do sonho de amor
- paixão em espaço sempre fatal )

Espero por fim
e para por fim
que a chuva que cai dentro de mim
com a dureza do granito
quando chove granizo
não vá se esboroar
feito a bilha na fonte
ouvida ainda hoje na voz do Predicador
- no canto que anuncia o início da escuridão em vida
tempo descrito no Eclesiastes
que canta desde tempos geológicos
na poesia escrita em geoglifos
depois em hieróglifos
nos idiomas alfabéticos
e que ainda canta hoje
no silêncio sublime da melodia da poesia
que é uma inteligência universal
presente no cosmos
- a mover-se sem motor
a desenhar sem geometria
e a cantar sem som...

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