Ouço um pássaro
Cujo clamor
Emite um comunicado
Que urge atender
Parece pungente
Ou apenas ouço assim
Pelo que é doloroso
No espinho espetado no espírito
Pela língua em lança
Numa palavra
Lançada
Ao encontro do atrito do ar
Não vejo a ave
Apenas vejo a pena
Que sinto dela
Sabedor pelo sentido auditivo
Que é ave
Na emissão de voz
Chamando
Ao longo do voo
Em solitude pelo céu
Com mel ou fel
( feldspato! :
Seria um pato!
A voar no ar
E pelo ar
Sinto a pena
Na pena que sinto
No bater do ritmo
Aritmético
No meu ouvido
Sem mel
Mas com cera
De abelha
Que não está em mim
E está sim
No fenômeno
Que acha um meio
De entrar em mim
Enquanto objeto
Que passa pela subjetividade
Plantado dentro
Vegetativo e em sistema binário
Ou ternário na dialética
- sinto pela pena que tenho
A pena na ave
Alma penada
Que não é alma-de-gato
Nem tampouco ave sem pena
Ou cumprindo pena
Tipificada no código penal
Livro de pena
- obra de dor
E de dar dó
Do dó descompassado
Do ser humano
Não tão-somente do que cumpre a pena
Porém muito mais
De quem aplica a pena
E dos que a fazem cumprir
Porquanto uma pena
Mesmo a mais justa
É comprida demais para um homem
Mais comprida para a vítima
E cumprida não só pelo indivíduo
Que perpetrou o crime
Porém por toda a comunidade
Passando pelo meio do direito
E entre as águas
Que separam o policial do juiz
Que unidos
Fazem o judiciário ser )
A ave que ouvi
Pelo som emitido
Em pleno voo
foi percebida
Pelo alarido
Sua solitude
enfatizava a voz
dava-lhe ritmo e melodia
ao canto lamuriento
perpessado com o frio da solidão
que fere exclusivamente o homem
que a lança ao pássaro
do qual tem uma visão formal
na ideia universal
da ave ideal
a navegar no ar
junto às ondas de som
e outras funções elétricas
magnéticas e mecânicas
enfim, outras realidades físicas
e químicas
- e ciências ainda veladas
Em luz e trevas
Silêncio e rumor
O pássaro ouvido
Ouvi e não ouço mais
No som que vem em carrilhão
No ouvido atuante no tempo
( no ouvido enquanto ator temporal )
Todavia embora não ouça
No tempo agora
- agora escrito
Ou no tempo em que escrevo
Que é neste instante
Na última letra da palavra
Aqui posta em ser
Para expressar o ser
Que é o que homem vê
Sente com todos os sentidos
pois o põe e o conhece
Reconhece
Como se reconhece o homem
Na fotografia...
A ave ouvida
Não escuto mais
Com os ouvidos no tempo
Que é hoje e agora
Na hora da hora
Ou antes disso
No minuto do minuto
( ou da minuta?!... )
E antes do minuto
No segundo do segundo
Mais : antes do segundo do segundo
E do que se segue
Em rumo incerto
- inserto no infinito?!
A ave misteriosa
Coberta nas penas
Não ouço mais
Fora de mim
- No entanto
Dentro de mim
Ouça-a agora mesmo!
- no claro de seu clarim!
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