O mundo é um paul /
que me causa repulsa /
Mefítico tremedal /
é o mundo social /
( O mundo social /
é tecido de mulher /
pois o homem olha a caça /
olha ao longe /
alonga o olhar nas campinas /
atrás do galo-de-campina /
para alimentar-se /
e dar sustento à família /
A mulher desce o olhar à prole /
e com isso tece a veste social /
- é a religião e o amor /
é Vênus e Flora ou Ceres /
enquanto o homem é a guerra /
é Marte e o caçador /
o sátiro o fauno e o centauro /
buscando a conquista /
de terras e fêmeas /
e vida pela proliferação genética /
semeando-se no campo natural ) /
A natureza é um paul /
onde vivo de desesperança /
neste tremedal /
volutabro atascadeiro /
que tudo isso é vocabulário para paul /
que em inglês é nome "Beatles" /
do Paul dos " The Beatles" /
"Paul-Beatles" /
os besouros zunindo /
que passaram pela chuva /
que é um tempo do tempo /
porquanto o tempo tem muitos tempos /
ou muitas manifestações de tempo /
no temporal e no temporão /
na intempérie e no que é extemporâneo /
ou coevo longevo /
no voejo do escaravelho /
até o olho do velho /
que não é mais velho que o tempo /
esse ancião inexistente nos dias /
mas inventado pelo homem /
na matéria do ser /
ou no tratado de ontologia /
que diz o que é posto pelo homem /
enquanto ser que põe outro ser /
- ser inventado /
( Salvador Dali inventou um barco /
que apresta no mastro /
o centauro tecnológico /
que é o homem /
antigo centauro mitológico /
cuja invenção do barco a vela /
uniu-se-lhe ao corpo material e mental /
a ponto e transformá-lo /
junto e jungido à sua invenção do brigue /
num centauro da tecnologia /
que isso é o ser do homem coevo ) /
Todavia há um paul /
que rumoreja dentro de ti /
que me desperta a nota si /
que toca de amor cristão em mim /
e de paixão pagã por um objeto /
que há em ti /
e na doutrina transcendental de Kant /
que diz do Narciso /
que e o sujeito o objecto /
um lançando o outro na água /
onde se mira /
e de onde se olha /
da água e do olho /
se olha e vê Narciso /
a flor do paul /
do paul que há em mim e ti /
( todos temos um lameiro dentro /
um marnel charco /
- um atoleiro /
todos temos ) /
Leda é a madrugada /
para Camões e Cia de Camões /
e Leda também é nome de mulher /
fora da madrugada e seus galos /
chuvisco de orvalho /
Contudo para mim a madrugada /
é apenas a espectativa de solidão com lua /
Joan Miró e mulher escura na escuridão alargada /
embuçada nas trevas do paul /
- trevas filarmônicas /
para dizer algo louco /
ou algo com harmonia /
na madrugada em pedra de gelo /
ou na voz do galo cantor /
com todo o seu candor /
no canto cândido /
de candidez de novilúnio /
lento novilúnio em noite clara /
- clara-de-novilúnio /
derramada no cântaro /
em luz da abelha do sol /
tecendo o mel do girassol /
Você é a mulher /
que Miró mirou nas sombras /
daquela noite /
que ronda todas as noites /
- é a mulher que entalhei /
na madeira do idílio /
que conteve minha arte /
de um Rodin inspirado /
que tentei e talhei ser de madeira /
- no amor que inspirava Rodin /
um artista cuja arte é sensual /
tal qual tudo o que é silvestre /
e se enrosca nas serpentes /
a escrever seu corpo sinuoso no solo /
- chão para o que para a erva é lídimo /
e onde se escreve sua lei herbácea /
sem necessidade de estela /
cujas escrituras são em estela /
próprias para por em pedra a história do fóssil /
Se ao menos você existisse! /
se você existisse para além da essência /
na intersecção entre eu e o mundo geométrico /
Ah! se você existisse /
mensurada pela geodésia! /
e não apenas existindo /
sem existir para mim /
na intersecção parabolar /
das parábolas de Descartes /
coordenados os segmentos em curva no espaço /
- puro espaço "a priori" /
impresso na doutrina da metafísica transcendental /
que me põe a olha o mundo lá foca com Kant /
e nele nada ver senão objetos /
que são o lançamento do meu ego ou sujeito no mundo /
( o mundo assim /
é um olhar para nada /
que não seja eu mesmo /
objeto e sujeito /
transcendendo a mim /
no objecto espelhado /
ou especulado na face do Narciso /
que dá a filosofia idealista de Kant /
- a outra face dada para se bater ) /
Amo você /
e o quero-quero que és /
eu quero-quero demais amar /
e o quero-quero que tens...! /
- amo você dentro do mito /
do amor inexistente /
porque meu amor por você não existe /
nem mesmo você existe /
porque não está fora de mim /
postada lá fora /
livre de mim no mundo /
das coisas que vemos e transformamos em objectos /
para poder captá-las em intuição e conceito /
Na realidade minha interna amiga /
amada bem-amada /
você está dentro de mim /
encrustada gema no anel /
que verga meu corpo anatômico e fisiológico /
minha alma anatômica e fisiológica /
meu paul interior /
que se apaúla com garça /
muita garça branca /
brandindo ou reverberando a luz branca do sol /
que é uma casa caiada/
lá longe no morro /
no horizonte que se desenha no fim do olhar /
desdenhando do olhar /
Amo-a saracura de paul /
Ah! saracura-de-paul! /
oh! saracura-de-paul! /
garça de paul /
tartaranhão-de-paul /
tartaranhão-de-paul-fêmea /
seriema do cerrado /
pomba cinzenta do brejo velho /
amo-a o quero-quero que te quero /
com o querer de quero-quero /
a fazer bailar o ar com o seu trinado constante /
trinado gritado /
quase em eco /
em eco-eco de teco-teco ou teque-teque téu-téu /
Amo-a desde o ovo da cegonha /
sem vergonha de vôo mítico /
ou da maria-sem-vergonha /
que deita e rola no sexo verde /
cujo olor também é verde /
de violinista verde /
de verde pampa /
ou prado de Adélia Prado /
poetisa do brejo /
poeta-de-paul /
do paul da pernalta /
ave pernalta /
ave, nauta! /
argonauta /
- o amor está no sangue /
a paixão queima no líquido vermelho /
no reino dos eritrócitos /
no soprar da hemoglobina /
que sopra da corneta um anjo cálido /
um serafim de puro fogo /
a queimar e purificar o sangue /
que é um vampiro /
- o sangue é o próprio vampiro /
na busca de outro sangue /
Amo você que nem existe neste amor /
nesta paixão que sinto /
sem objeto externo /
ou cujo objeto externo /
é o objeto interno /
desenvolvido no idílio /
e da necessidade premente /
de crer que existe /
o que somente está cá dentro de mim /
no ovo hermético /
( Você não tem existência /
nem tampouco existencialismo algum /
é mera essência interna /
que meus sentidos internos e externos /
constituem como ser /
em dulcíssima ontologia de poeta /
que canta o grito na garganta /
onde amanhece uma andorinha /
em solitude parda ou cinza ) /
Amo-a trocando o verbo de pessoa ordinal /
pondo-o na pessoa do tu /
e do tuiuiui volante no paul /
Sinto saudades do tempo /
( do tempo e não de ti!) /
em que eu te amava /
porque já não creio mais no amor que cria /
quando não era ateu de amor cristão /
no latim do padre de tempos de antanho /
e de Santo Antão e Santo Antônio /
Naquele tempo eu te amava em Alice /
no país das Maravilhas /
naquele símbolo /
naquela alegoria /
naquela fábula /
amei-te muito /
e tenho saudade daquela felicidade /
que o amor solitário me fazia experenciar /
quando eu era o Chapeleiro maluca /
e tu eras a lebre maluca /
ou a própria Alice /
buscando meu amor ateu /
Hoje sem esse amor fabuloso /
sinto-me infeliz e triste /
e o tempo me parece um tempo perdido /
como uma fumaça de cigarro /
não procurando nada /
ou um resquício de cerveja /
no copo e na garrafa abandonado /
por um ébrio que foi feliz /
enquanto era eu naquela mesa /
frente a lua /
que Miró não soubera desenhar no céu noturno /
falciforme e negra /
como a mão da morte /
que passeia no verdugo invisível /
a rondar gargantas /
e cabeças a cortar /
no dizer da rainha vermelha /
( a cabeça decepada /
foi a cabeça do meu amor por ti /
uma paixão que se esfumou na brisa torta /
que passou por aqui fumando /
na lagarta que fuma naquele País de Alice /
- no País onde foi Alice /
sonhando que era um País das maravilhas /
antigo pensar adolescente /
a olhar o mundo detrás de olhos felizes /
corpo feliz /
sem doença ou dor /
que o arraste á melancolia /
ou a grande depressão ) /
Você é meu idílio /
mero idílio /
pobre idílio /
cônscio idílio /
idílica amada /
morta amada /
pela legião de forças das bem-amadas em exército /
em sintaxe de guerra /
em legião romana /
Você era idílica na espessura do idílio /
ao longe desenhado na geometria do horizonte /
pesado na gravidade de Newton /
no grave som do violoncelo /
tocando a corda de solidão do músico /
o obscuro músico /
dedilhando senos nas cordas do violoncelo tristonho /
lembrando da alegria de um Mozart vivo /
Você era minha utopia no lugar da utopia /
que se estende por todo a toponímia da cidade /
- Utopia de Morus a Marx /
( utopia é lugar nenhum /
e simultaneamente todo lugar /
pois em todo lugar se constrói uma utopia /
para o sujeito sobreviver /
em contato com o objeto do idealista /
em filosofia transcendental de Kant /
ou nos axiomas e corolários de Spinoza ) /
Você é meu sonho desde o berço /
desde antes do pequenino que fui /
do pequerrucho amado /
que corria a sorrir feliz /
dando gargalhadas de alegria pura /
na felicidade do estagirita /
confiante na vida /
na vida de menino /
e no destino desconhecido /
ou sequer suspeitado /
aonde cheguei /
e onde ninguém me espera /
onde você não me espera /
no mundo empírico /
( Nunca imaginei que estaria tão só /
com a flor do idílio à mão /
e versos pífios /
que nem sequer têm objeto /
para dizer adeus /
nem deus nenhum /
- nem tampouco o deus do pagão /
do cristão e do ateu /
que tem lá o seu deus /
mais ateu que o próprio ateu ) /
Em mitologia filosófica e poética /
o amor vai fluindo /
rio em todas as coisas /
passando por dentro /
tendo leito por fora /
e por baixo da terra /
nos subterrâneos lençóis freáticos /
aquíferos extensos /
outrossim carregando as nuvens plúmbeas /
à maneira das penas na pomba /
arroios que molham arroz /
e entram e saem do corpo humano /
ou secam ali no leito de morte /
de um riacho abandonado à própria sorte /
sob o sol do deserto /
com os pés nus na areia tórrida /
Amo você pelo seu carácter /
no rito mental da alegoria /
no símbolo do amor /
mas não na realidade /
algo cru nas crucíferas /
- cru na cruz romana quotidiana /
Amo seu ser posto no mundo /
com a coragem de quem põe o que pensa no mundo /
e realiza uma existência /
que a maioria pusilâmine nem sonha tentar /
por em sombra sob umbela ao sol /
que ama brincar em suas tranças /
que descem na corda amarela /
trançada na estória de Rapunzel /
( imaginada no menino em eterno retorno que sou sempre ) /
e na história da tereza /
dos pequenos bandidos presos pelos grandes criminosos /
donos do Código Penal e do processo /
que é a chave da cadeia /
procedimento sumário para pobres meliantes desprotegidos /
( ou a clave do tartaranhão-ruivo-dos-pauis ?! ) /
Olho você conversando com outros /
que nem são seres /
são fetos de seres /
abortos postos no mundo /
enquanto você é uma das Ilhas Aleutas /
um arquipélago para pouso das procelárias /
aves em debandada do meu oceano nada pacífico /
Vejo-a única em beleza /
solitária em sua beleza pura /
- única beleza de ilha no Pacífico /
entre os demais ( que são demais!) /
navegando em solitude pelo Estreito de Magalhães /
pois por mais belos e belas /
que os demais sub-seres possam parecer /
são criaturas feias perto de sua capela radiante /
sua cabeça sob capuz louro /
sua boca a dizer palavras /
sem o amargor ou a ironia cáustica /
dos filósofos que sofrem de cinismo /
- do cinismo que vence as bestas /
as cavalgaduras quixotescas ou apocalípticas no mundo /
nos seus reinos de mendacidade /
porquanto sendo símios /
somente podem servir à política dos chimpanzés /
pois não para aptos para a sabedoria dos poetas invasores de sistemas
vegetais /
e dos sábios amantes da vida e da liberdade /
andarilhos monges livres /
das masmorras construídas com Direitos Humanos /
e outras doutrinas religiosas para orangotangos /
dançando seus tangos /
Desejo muito você /
deseja-a intensamente /
com a intensidade densa do magma do vulcão /
da Ilha de Santorini /
( Seu corpo para mim /
não é uma península anatômica e fisiológica somente /
é um tsunami na língua austronésia tagalo ) /
Sexualmente a quero muito /
e muito mais que quero o quero-quero /
quero-te quero-te-quero /
quero-quero e outro quero-quero /
no acasalamento do quero-quero /
na alma cavada pela paixão /
Todavia não posso te propor /
nada que não seja digno de ti /
nem de mim /
A terra molhada em paul /
é terra em ti /
na flor que quero que seja um miosótis /
que azul é seu amor e verde também /
na melodia plantada em violinos /
um Stradivárius e um Amati /
tocados pelo violinista azul /
e o outro verde violinista em erva /
Mas você apaúla?! /
ou a terra por baixo do ventre das heras /
não tem nada de palustre /
não guarda o lago /
com o arcanjo nadando por baixo do peixe /
a lagoa onde a garça branca /
anda na alvura da barra da alva /
silente no seu passo de bailarina de Degas /
num salto de flor de laranjeira aromática /
que pára-queda no beija-flor /
quedo o vôo /
sobre o único momento /
que o coração do tempo parou /
no ar das abelhas rajadas no amarelo dos seus cabelos /
A vizinha da loucura /
avezinha da loucura /
é minha alma /
alma minha /
alma de gato /
alma-de-gato /
de sete vidas /
- sete almas /
os sete demônios em Maria de Magdala /
se houve tal Maria /
se houve tal Magdalla /
caminho da rota mercantil /
com o vil til /
do lado que sopra o anjo no vento /
barlavento ou sotavento /
da ilha que invento viver /
no vegetal do coqueiro /
na respiração da palmeira /
na casa do marimbondo /
naquele vespeiro /
dependurado na palma verdejante /
que a palmeira estende /
para assinalar um adeus /
totalmente ateu /
nada hebreu no nado nato do arameu /
nata de Deus /
maranata /
Amo você /
e e é triste perder um amor /
uma paixão alucinante /
mas a vida é triste /
e um amor se perde /
depois ou antes que se ganhe /
pois temos a morte em tudo /
girando o motor /
e estagnando a água no rio de dentro do corpo /
uma paixão é também uma elegia /
não é somente uma ode ao amor /
Amo você amazona /
-amazona montada sobre um cavalo do apocalipse /
embuçada em manto escarlate /
sobre o cavalo vermelho /
pois você é o cavaleiro vermelho /
mas somente eu sei /
que o cavaleiro vermelho /
não é nenhum cavaleiro carmim /
mas uma amazona sim /
carmesim amazona do apocalipse /
na qual desejo deixar elegia um rastro de mim /
um rastro de homem /
que vai buscar o menino /
dentro da mulher amada /
(Depois de ler este poema /
olhe dentro dos meus olhos /
para eu ver se posso ler /
este poema escrito lá dentro /
no ermo da alma /
no longo rasto de luz dos olhos /
que desenha almas aladas ) /
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário