segunda-feira, 2 de maio de 2011

RUMOREJAR POESIA COM POEMAS DE LEDO IVO, MANOEL BARROS, QUINTANA, DOM QUIXOTE, ROUSSEAU, VAN GOGH, FREUD, MAQUIAVEL, MARX...

Rumoreja uma manhã anã branca /
branca de neve anã e malsã /
no afã de rumorejar /
fazendo a travessia em contraponto /
do trinar em garganta de ledo pássaro /
ledo cantor /
- cantor do candor /
encontradiço em Ledo Ivo /
esquivo vivo ledo e Ivo /
sem motivo floral /
porém ledo cantor do candor /
- de um candor quedo e mudo /
antes da poesia falar /
fazendo o canto cantar /
mesmo no silente escrever /
cantante escrevinhando em vinheta a voz da cachoeira /
e do que há lá na cachoeira /
cachoeira de longos cabelos encaracolados /
no ritmar das ondas espumantes /
- cachoeira de pó onde está o aedo /
em geóglifos e hieroglifos escrito /
concomitantemente escrito na areia /
do tempo que conta uma história para a ampulheta /
nos vincos na areia alvacenta /
e geoglifado no califado da água /
contando na clepsidra /
outra estória para secar clepsidra /
na água a bramir na torrente /
aonde o corpo do poeta foi também /
deixar seus geóglifos /
escritos esparsos em poemas esparsos /
- poemas esparsos pelos sais minerais /
espaços de areia ou terra na água /
flutuantes terras aquáticas /
- que é a areia na água! /
flutuando no fluido fluente fluminense /
- fluvial alvoraçar de líquido para liquens /
lídia litografia lida em monólito /
em estela d'água /

Tomemos um gole da água da clepsidra /
para batizar a terra /
rumorejar poesia ou poemas /
com a mão do profeta Batista /
o João Batista em corpo de João-de-Barro /
para, destarte, criar um novo Adão /
soprar-lhe um arcanjo pelo nariz /
porém não com o sopro de um deus /
mas apenas o sopro de um homem /
que move moinhos /
- move moinhos de vento por Holanda /
e por Van Gogh e Dom Quixote em suas pás /
ao vento que ama a palmeira altaneira /
à beira da altura do céu /
Criemos outro homem /
novo Adão e Nova Jerusalém /
e Nova Nova York /
pois o ser humano que Deus criou /
foi malcriado /
desde pequenino /
e não dava para torcer-lhe o pepino /
desde pequenino! /
uma vez que ele se perdeu e ficou mau /
serviu antes ao mal e aos desideratos de Eva /
aos desejos luxuriosos de Lilith /
sua sequiosa amante /
sempre a gemer com um violino /
tocante violino do violinista azul /
e do violinista verde /
dois poetas ébrios /
fugidos dos quadros de Chagall /
onde estavam aprisionados /
entre o céu e a terra /
no espaço que medeia a lua e as ervas /
- as ervas nos baixios /

Tomemos o barro do João-de-Barro /
ou Manoel ou ainda João, o Batista /
para recriar ou inventar o homem /
Escolhamos um sacerdote /
durante as festividades da páscoa judaica ou cristã /
trajemo-lo com uma túnica /
dos tempos de Ló /
ou que evoque a túnica inconsútil de Cristo /
e outrossim dos primeiros apóstolos /
realizando, dessarte, um exercício mnemônico /
de forma que se lembre sempre o povo simplório /
por essa memória representada em rito solene /
que lançar água no corpo /
- no corpo que virou pó /
é símbolo óbvio de ressurreição /
porquanto água é vida /
pois quando se unem terra e água /
ali está o sopro no oxigênio /
casado ao hidrogênio /
numa bigamia com Raquel e Lia /
- sopro para peixe e homem /
consoante o receptáculo sejam narinas ou guelras /
e também ali aparece o risco do relâmpago /
que desce do céu /
pela escada de Jacó /
e risca o coração do homem /
risco corisco que perpassa a alma /
passando pelo cérebro no comando do piloto /
e o corpo humano inteiro interior /
e quiçá o exterior /
pois é o fogo o que queima o homem /
e o consome pela respiração /
pura pira funerária e vital /
( o ser humano antes de virar pó /
se transmuta em rocha /
que a morte é rochosa /
é a volta à pedra com o cadáver /
um corpo sem a torrente do sangue /
sem o batismo da vida /
que é o jorrar da água viva /
da alma viva na água /
que água é alma viva /
que veicula em si as pedras pequeninas /
que chamamos os sais minerais /
por onde anda o fogo sore água /
na forma de corrente elétrica /
que é o milagre de Jesus na eletricidade /
que perpassa o corpo vivo /
do centauro humano /
a fênix a renascer /
depois do fogo /
e com o aspergir de água /
que acorda metaforicamente o corpo morto /
do homem-Cristo /
e também desperta de fato /
o anfíbio há anos em estado suspenso de vida /
quando recebe a benção ou batismo /
da chuva que é outro Batista /
a batizar ervas daninhas /
e indiscriminadamente também as boninas /
Contudo, antes de descer ao pó /
o homem morto é uma rocha /
substituindo como o corpo presente /
o ser que se fartou de pensar /
e tanto fazer na labuta diuturna /
mesmo a trabalho no sono /
que o sonho é uma indústria por dentro /
indústria no silêncio /
indústria do silêncio /
no rito e mito /
que é a representação do centauro /
o ato de esculpir o fauno na fauna
enquanto "nous" ou nome ou onomástica /
ou inteligência grega para nomear a natureza vegetal /
que anda nas patas do animal /
e move os membros do homem /
outro alfa centauro /
alfa "centauri" /
alfa do centauro ) /
Inventemos outro Adão /
porque o que Deus criou /
entregou-se à peçonha da mamba negra /
escondida na flor alva da laranjeira noiva /
porquanto o homem do criador /
nasceu bom mas a sociedade o corrompeu /
segundo o evangelho ateu de Rousseau /
que talvez soubesse que o menino é sempre bom e belo /
- que o menino é um Platão divino /
( são tantos Platões divinos /
quantos são os meninos /
e quantos forem os pequeninos /
amigos de Jesus de Nazaré /
no seu doce idílio /
que Rousseau furtou /
e fantasiou no carnaval da filosofia ) /
Todavia o homem é mau /
não é um divino Platão /
nem um Rousseau olvidando /
que se fosse, "foscamente-fosco" no lusco-fusco, bom o homem /
- o homem é para si e para os seus /
porquanto se a sociedade é corrupta /
e ele se corrompe com ela /
é porque sempre fora corrupta /
desde de pequenino /
antes que lhe torcessem o pepino /
Sem embargo, por mais que seja bom o menino /
muitas vezes ou a maioria dessas vezes vezes setenta ou setentrião /
não resta alternativa ao homem /
um sobrevivente entre outros renitentes penitentes /
senão a corrupção e o jogo sujo /
entre as casas do jogo de xadrez /
que põe o homem entre o mercado negro /
e o mercado branco /
no jogo de guerra real que é o xadrez cotidiano /
onde não há nenhum paladino vivo /
depois do passar os quatro cavaleiros do apocalipse /
com a lei da vida e da morte à mão /
que também leva a peste /
a fome e a espada afiada para a garganta do tolo /
A sociedade lhe impõe a lei perversa do Apocalipse /
que faz do indivíduo solitário e desprotegido /
presa dos animais alfa e beta /
unidos num bando imenso e forte /
usando as legiões romanas ou os batalhões de choque /
para que os ômegas cumpram seu papel subserviente /
sem murmúrio algum /
mas em ordem de sintaxe que põe sujeito e objeto /
sendo objetos os animais ômega /
que é o povo /
ou Cristo no papel entre metafórico e alegórico de povo /
aos quais só resta obedecer /
ou perecer nas masmorras da Inquisição espanhola /
que continua montada em tribunais de Direitos /
e até de Direitos Humanos /
- tudo, claro!, fictícios /
formas de engodo da justiça /
que não é para todos /
mas somente para alguns donos da lei /
Há, evidentemente, aqueles meninos bons /
incautos homens feitos /
que, não obstante, o ranger dos dentes da fera /
se recusaram a crescer /
se transformando em Peter Pan fáticos e reais /
naturais metáforas retiradas das palavras /
e colocadas no dia-a-dia /
onde a besta do apocalipse /
demarca o território para suas fêmeas e crias /
e ensina a zoologia natural /
na qual o homem é a pior besta /
e a mais feroz e nociva /
( o "bom menino" do palhaço "carequinha" /
que ouvi em criança /
dentro do meu cântaro de barro fresco /
expressou o que leu ou ouviu no filósofo Rousseau /
o qual sabia ler a Pedra de Rosetta /
o monólito de Rosetta /
que é o corpo humano em geoglifos /
ou em genes /
conforme seja o jargão do biólogo /
do engenheiro geneticista ou do geólogo /
que sabe ler corpo de terra /
no corpo inteligente da vida /
que é o ser humano /
de Rousseau a Voltaire /
angelical e cínico /
mas sempre iluminista /
mesmo que chovam potes de trevas ) /

Rumorejante é o riacho que acho ancho /
- ancho como Sancho Pança /
passando pelo arvoredo /
pelo passaredo e pelo vinhedo /
em pelo de vilarejo /
testemunhado por Marc Chagall /
na terra natal /
na santa Rússia dos Czares crudelíssimos /
( toda política é Maquiavel /
todo o onírico é Freud /
Marx e Marc Chagall /
Salvador Dali e Joan Miró /
que toda arte é sono com sonho /
com doce algodão-doce /
que eu amava esperar passar o vendedor /
um homem simples que o vendia para minha filha /
e para emu filho pequenino /
quando ele era um filho também de Rousseau /
um filósofo francês abastado em sonhos insidiosos ) /
Tudo pensado e geoglifado /
enquanto corre o córrego /
em rumorejo de passaredo /
silvando e sibilando pelo arvoredo /
serpenteando na ventania /
no vento do catavento /
- no catavento de Quintana e ledo vento /
ledo Ledo Ivo /
- mais leda é a madrugada de Camões! /
e inda mais leda a minha madrugada de bêbado /
sustentado pelo palor do luar /
que cavava e cantava no orvalho /
feito um feto de grilo em projeto enterrado /
ou emparedado pelo teor do luar /
em teor de terror e teia /
abandonada pela aranha na casa abandonada /
ao pó do anjo e ao louco /
que lá mora solitário /
em solitude solto na madrugada enregelada /

Rumorejando vou /
em corpo e mente sã /
com a anã branca a perpassar a barra da alva /
que Ana botafogo no céu /
no contraponto e fuga para a flor de laranjeira /
noiva em alvor e aroma /
casando na aldeia pintada por Marc Chagall /
que deixou aldeias e noivas voando /
ao vento ao léu louco /
em tresloucado pecado /
fado apaixonado! /
fado de fada de Portugal /
também das bruxas /
que não cantam seu fado /
- triste fado! /
triste sina! /
de menina /

Rumorejo num riacho /
mas acho que não é riacho em rumorejo /
e sim enredo de medo /
o que canta o aedo /
no pássaro ledo /
que amanhece na garganta de Ivo Ledo /
sem ledo motivo /
nem tique-taque tatibitate... /
tatibitate com o nenén! /

Rumoreje um ribeiro /
beira à ribeira /
límpido lívido liso livre e líquido /
na lividez da palha /
ou no desgosto de cor cinza /
na palma que caiu do coqueiro /
em noite que não era par palmeira /
mas sim para um vendaval infernal /
e uma cobra com enguiço /
um chocalho de crótalo /
ritmando a noite /

Rumoreja um arroio /
orla com o arroz /
espargido na terra /
deitada em mente de melancia gorda /
túrgidas por fora e escarlates por dentro /
no santo dos santos da melancia /
sem melancolia ou embolia ou empatia /

Rumorejo por um fio de rio /
rumo de casa /
para onde vou sem saber se é casa /
mas penso-sonho que é lar /
uma palhoça acolhedora /
e onde tem crianças a me esperar /
lá no lá lá lá da crianças /
e no chá lá lá lá á do "The Beatles" /
Sonho-penso junto à paixão /
junto ao meu coração /
que na cabana sem moinho de vento /
rumoreja o coração de uma mulher /
- o qual enquanto rumorejar /
o que era luar ontem /
tresontonte /
não me abandonará à solidão /
destino cruel do homem /
esse solitário viandante /
cuja única companhia de Jesus /
é sua sombra em Nietzsche /
Mas em verdade ninguém espera por ti /
- todos esperam por si /
por si mesmos /
em sua solidão indevassável /

Rumorejo junto ao regato /
mas sinto que ninguém espera por mim /
neste mundo que parece um vasto pasto /
- ninguém me espera /
excepto a criança pretérita /
que perdeu o anel de infância /
que a envolvia no tempo /
com o abraço em gema preciosa /
que era seu corpo infantil /
morto no retrato /
que é um destrato do contrato de infância /

Por mim ( por mim!!!) espera /
solitário em solitude e solerte /
a mulher verde /
que mora dentro de mim /
na aldeia de dentro /
num enclave da alma /
- a mulher verde idílico /
a mulher idílica /
lírica espera por mim eremita /
mas isso porque ela está dentro de mim /
não pode sair /
não posso regurgitar o que está dentro de mim /
em caixa hermética /
com o lacro do intimismo /

Ninguém espera por mim /
nem por ti /
bem-te-vi ridículo /
bem-te-vi desditado! /
- desditado bem-te-vi dourado /
que nunca fica calado /
só na calada da noite em passos pelo orvalho /
da madrugada esguia /
pelas sombras do galo cantor /
o qual canta o candor /
no beijo do rocio macio pio a pio /
no cio do Beijo de Klimt /
( cada um de nós espera por si /
no beijo de Klimt /
com sua amada imaginária /
perdida nas ilhas e aldeias do onírico /
náufraga como todos seres humanos somos /
náufragos Robinson Crusoé /
com a nau despedaça no coração /
e na alma que um dia ou noite escapa /
da masmorra do corpo animal /
ou corpo ou cela de alma /
se o latim for cristão /
ao invés do cínico romano /
latim da filosofia dos cínicos /
que se revirou pelo avesso em Direito /
- Direito romano /
cínico direito /
filosofia de olhos vidrados /
em cristianismo e Direito ) /

Rumorejo um rio e acho /
que é riacho /
mamão macho /
doce no tacho /

Rumorejo um lugarejo /
carquejo /
- que dizem "carquejo" /
e vou pelo cacarejo /
cuchi-cuchi quinso cucho /
tiririca-de-bêbado tiririca-de-balaio /
cacaia-amarga cacália-amarga /
caclia-doce bacárida tojo /
Contudo escrevem carqueja /
com toda esta onomástica na boca /
que entorta o cachimbo /
e na binominal é a "Baccharis trimera" /
que a língua morta fala /
deste vegetal de se ter em canteiro de jardim /

Rumorejo caranguejo /
se um vejo /
um caranguejo-eremita /
- eremita que sou à beira d'água /
balouçando em ondas /´
senoidais ou sem senóides /
sem seno /
co-seno /
senóides /
de cordas bambas /
de tanto balançar /
o brigue do corpo /
em alegoria de Salvador Dali /
quando dali daquela praia /
onde desembarcara o homem-veleiro /
o homem-brigue /
com os pés na areia /
depois talvez da tormenta /
da procela /
e do naufrágio /
tirou os pés com sandálias do mar /
e se pôs em terra seca /
com seu corpo de centauro tecnológico /
metade homem /
e metade invento de homem /
- pois o homem é uma criação de Deus /
e uma invenção do homem /

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