terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

FAMÉLICO - verbete dicionario wikcionario wik dicionario verbete etimologico lexicografia terminologia nomenclatura jargão jergão glossario sema


Ai! que o violino toca
tristemente
num lamento
numa lamentação de Jeremias
lamuriento
a gemer
- um profeta a prantear copiosamente
ao descrever em versos
versículos
a mais funda solidão em mim!
- que uma musa cava na música...
com melodia e ritmo
e harmonia
no lamento do violino
- às mãos hábeis
tácteis ( a tatear sem titubear
- sem titubeio )
do mísero e esquálido violinista
expresso pela arte pictórica
do pintor surrealista
- Marc Chagall
aldeão eterno
em narcose

O violino toca a corda
mas os dedos sou eu
entrando nas dobras das minhas entranhas
em convulsão dolorosa
chorosa
- soluçante...
( sendo as tais entranhas-estranhas
não exótica planta da aldeia de Chagall
não exótico vegetal
mas nativo lá
onde vive o violinista verde
- bêbado que sou eu!
e o violinista azul-Verlaine
outro tanto ou tonto
que também sou eu
inebriado
quando celeste-cerúleo
a alma do céu cintila
sem mão de necromante
a pintar a nuvem de negro-nublado
à maneira ou em "maneirismo" de Giorgio de Chirico
que pinta o branco-cegante-cegonha-( Maria-sem-vergonha!)
e assim vai tocando a solidão
na textura do escuro
e no olhar que espreita
entre edifícios pomposos
mas macabros
- mais macabros e maus
quanto e quando transparentes na alvenaria são
espelham e estão
porquanto na mole daquelas construções
pintadas-arquitetas pelo artista soberbo
até as pedras de cantaria
cantam!
- cantam em cantaria
ao sentir profundamente a solidão
como se pedras fossem homens
descobrindo a sensação de solidão
que é mais vasta e escura
que o betume...
- bitume no bar nublado
em plúmbeo-passeado-pesado no chumbo
pelo céu espelhado n'água da fonte de Narciso
- do Narciso morto
a mirar a obra de cantaria
com olhos vidrados
e ouvidos moucos!
- que rouco e o canto
e o cantochão

A mole do edifício de Giorgio de Chirico
a espiar solene a solitude
no espião que passa
no passo parado do sapato preto
guinchando
a mutuar o olhar
e a solicitar um cabriolé
dos tempos de antanho
das ruas de Londres
onde pairava no ar
o espírito de Sherlock Holmes
a passear de braços dados com o Dr. Watson
de sobretudo
chapéu e lupa pronta
para solucionar mistérios
- casos misteriosos...
fumando charuto
indiferentes à profilaxia
que à época não havia
não assomava do contexto
médico-terapêutico
- boticário?... )

O violino em pranto
choroso
sobre mim
derramando minha solidão
em ouvido ( e em olvido )
em volta da solitude
que espalho
em elipse pelo espaço
tracejando um espaço elipsóide
equacionado
( e colho molho de alho
no olho caolho... )

Porém vi um homem
sentado em solitude
num banco da praça do mercado
- com a solidão pesando sobre ele
toneladas de concreto!
Um túmulo de solidão
era um gravame sobre ele!,
a oprimir-lhe a alma
a achatar-lhe mais o corpo em espaço curvo
- mais que a lei da gravidade universal!
com todo o cérebro pesado de Newton
Em torno do homem
a solidão pervagava
como um frade de ordem mendicante
miserável, misericordioso e famélico
um são-francisco santo
com cisco num olho
e uma trave no outro olho
( Esquerda!, direita!...:
volver!
- ou não vou ver?!...
- com delícia na malícia...)

A solidão espessa
em densidade
enterrava-o em vida
empareda-o vivo!
( Quiçá essa pá de cal-de-solidão dilacerante
- que só de ver ou antever de soslaio
de relance
com o olho a perpassar pela visão periférica
- com olhar oblíquo e dissimulado
de mulher adúltera
ou homem ímpio
incréu do céu
e outro mel
que não o de abelha
- fez-me perceber
que aquele homem solitário
preso de uma angústia insólita
estava a caminho da morte
no derradeiros passos do andar
pois não se passaram
mais de dois meses
após essa visão aterradora
do profeta em peregrinação ( à Meca? )
a olhar e voar com o falcão
peregrino
sobre o ar
e a face da terra
que é a face do homem
porquanto a face do homem é areia
a desmanchar-se pressurosa em água
solvente universal...:
a água que chora e lava
- a lava...: a lava do vulcão
e do vulcanólogo...
cuja face se desfaz
lavada com água mortal
areia que é
juntada e amassada com água
que faz a massa
do corpo vivo
e a decomposição
do corpo morto
desidratado
enxame de vermes
na carne dada aos vermes :
o cadáver

Passado um tempo-tempo
( tempo-em-meses )
daquela visão do solitário
aconteceu-lhe o passamento
- do solitário em solilóquio
assentado no escabelo
sob a pressão da solidão mais grave
que um violoncelo
mais pesada que Gaia
- mas mais aguda que um violino no fino
incontinenti pranto
Veio a ele a morte lúgubre
- sinistra
e ele se foi só
tal qual chegou só
agora ao encontro do escuro
sem olhos para ver
- olhar para não-olhar...
nem tampouco mutuar
ao olhar outro olhar
suplicante
supliciante
- olhar que vai e vem
no dia claro
solar
ensolarado
matinal
vesperal
vespertino
- na vespa em xadrez de preto e branco
a revoar e zumbir
no bater-tambor também com asas membranosas
que doa o que o ritmo soa
na envergadura mínima
de um frade dos mínimos
( A morte o repôs no escuro
no caminho do Livro dos Mortos
pisando signos escritos
e símbolos desenhados
para a cartografia do livro
o qual é um mapa
que leva o morto
a um bom e seguro porto
sob o comando de Anúbis
ou outro ser divino
não-zoológico
nem entomológico
como o escaravelho
outrossim selo real do faraó )

O homem infeliz
era atribulado pelo demônio da paranóia
o sádico e masoquista ( sado-masoquista)
espírito santo ou de santo
que anima com sopro de oboé
o santo louco
que se entoca em tebaidas dentro do ser humano
- um cenobita
um anacoreta
um eremita
um misantropo
um ermitão-barbão
tipo barba-negra ou barba-roxa
( um caranguejo-eremita )
- um ser para retornar ao nada
ao vale escuro
aonde opera a morte
a cegar com a foice
- onde não há necessidade de olhos
ou hospital de olhos
mas apenas o olvido
e as águas do rio Letes
- águas sem química para ligação molecular

A esquizofrenia fremia dentro dele
e o atormentava diuturnamente
Aliás, a demência é legado do ser humano
Uns tem dessas górgonas em abundância
já outros não são tão opulentos
nos dissabores do inferno
- que fica no interior do ser humano
Entretanto todo homem ou mulher
traz dentro de si
o germe da demência em dormência
ou potência
- que num belo dia de sol
vai aflorar
no alecrim nativo
em campo interno
terno

Solitário e em perene monólogo
aquele homem amaro viveu
( ou veio a vegetar à sombra
que o inseto projeta
no mínimo projeto de pétala e sépala
- no menor espaço-tempo botânico de jardim suspenso em flor
com catapulta para projétil balístico
cuja bala-bola é a semente )
com sua solidão temperada
com o molho da psicose
molhada ( assim em rocio sereno
na madrugada galante
vivente na madresilva
ouvida no madrigal
cantata
serenata )
- solidão mesclada com tragédia
e a comédia
que a demência descreve
passo a passo
até os braços do palhaço
onde se vai cair!
- decair
sem asas de anjo algum
apenas com as pernas em decadência
e a apnéia que vem
a dispnéia que vai...:
- vai matar!
( A demência
esse diabo
deixa o homem nu
e abandonado às intempéries
- sem lar ou qualquer abrigo
à própria sorte
- se há sorte
ou sortilégio
nesta empresa
de puro
arisco
risco
do corisco...:
cisco
no olho do céu aberto
do abeto
( "Abies alba") )

Ele era companheiro da Insanidade
e sua casa
- a casa quebrada de um tresloucado
de um insensato
- Sua casa :
a Nau dos Insensatos de Brueguel
a morada do insano
que nem possuía o "dom"
de beber absinto
e perecer com Paul Verlaine
às tontas à beira do abismo
- ou quiçá de Sá ou de Sé
(não sei! - Sei lá! )
abalar-se penhasco abaixo
atrás dos baixios
da várzea
tal qual fez e faz o poeta de alma em punho fechado e em riste
temerário ser humano
que tem a coragem de um menino cândido
a imprudência de um adolescente incauto
ao viver de forma periclitante
para a saúde e o bem-estar
físico e social
em pura dança com o verso
no amplexo da valsa com a poesia
que é a vida mesma
que não precisa ser escrita-descrita em ciência
pois é onisciente a vida
- vegetal no encantamento
de um Paul Verlaine cadente-decadente
à orla de um paul
- com perna-de-pau na saracura
e no palhaço que é :
"ladrão de mulher!"
quando sobre as pernas-de-pau
de uma ou duas não-saracura
( não-saracuras! )

Um pirata em drama cômico
- eis o palhaço!...:
é o que é
e não é um vitupério
nem um império
romano
ou romanesco
conquanto o pensem
os palhaços que não o são
em profissão de fé
- Fé!... )

Quando ele faleceu
( septicemia? )
o violino requereu
um concerto só para violino
- concerto em dó maior para violino solo
num Stradivarius do universo vivo de Paganini
- um Stradivarius tonto
ou vários Stradivarius tontos de sono-de-museu
sonhando com a baqueta
e de ser dedilhado por um virtuose
sagaz
fugaz
como o gás
( como o gás?! :
Etano, metano...
- não,
não como!,
mas cheiro o gás nobre :
hélio molecular
- O sol é basicamente hélio
após a fusão do núcleo do hidrogênio
que é o gênio criador de vida
( o hidrogênio ou gênio criador de água
- engenho de água
mas não mágoa
que é uma má água )
e o hélio
um deus-sol de verdade
este nobre gás,
ó Heliodora
que adora e se odora
- "odorata!" adorada!...:
Flor-de-lis nos campos gerais das minas gerais
gerada depois da fusão do hidrogênio
e a natividade do Hélio
que dá nome ( inteligencia ou "nous" )
ao sol que abriu em qualquer abril
uma manhã com maçã para Newton
O sol ou Hélio
um menino como outro qualquer
- outro menino-Jesus... - de Praga
sem praga
mas das estepes
com abelhas
ainda por cima...
porquanto abelhas "andam" por cima
nas cabeças
- sobre as cabeças calvas ou em cãs
cor de lã caprina
- Caprina!,
ó "Cedrela odorata"!
com serenata sob o sereno sereno da madrugada
em madrigal de madresilva
- que não é minha madre! ,
Aglaia odorata,
murta-do-campo...)

Oh! a lamúria
o som lacrimejante
o choro de um violino!...
Ah! um violino!... :
- um sorumbático menino
nas Quatro Estações de Vivaldi
em Tchaikovsky
Mendelson...
( Elegia,
- quão soturna elegia! )

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