"Tudo o que era sólido se desmancha no ar" é uma frase de Marx com
fulcro no
pensamento de Heráclito de Éfeso : "Tudo flui - tudo é e não é". Este
"tudo" é o "todo", o "uno", o "Hen panta"de Parmênides; enfim, o ser. A
oração de Marx também influiu no pensamento de Bauman quando disserta
sobre a a "sociedade líquida", "Amor Líquido" e "Globalização: as
consequências humanas" e Vidas desperdiçadas", livros de sociologia que
são mais tragédias filosóficas em prosa e em ciência que qualquer outra
coisa proveniente da alma humana, na acepção do estagirita.
O filósofo Aristóteles já havia parado essa sangria quando coloca
as categorias,mormente a substância, no mundo real, com se fora um
demiurgo do "logos" e da lógica. O estagirita anula parcialmente o
pensamento da viração permanente do pensamento heraclítico, do vir-a-ser
instantâneo que não permite tempo para que qualquer coisa seja ou seja e
não seja simultaneamente ou quase em simutaneidade. Faz parecer que
essa mudança é absoluta, não guarda tempo de relação ou para relação, o
que é um equívoco mesmo no universo subatômico da física quântica, que
labora sob o tempo da luz ( tempo em velocidade). Aliás, por quê física
quântica e não química quântica, já que trata dos átomos? Ah! porque,
evidentemente, o critério é outro em cada caso ou cada mundo e que se
passam os fatos.
O senso da liquidez das coisas,
está em símbolo no jogo do xadrez, do xadrez em desenho em preto e
branco no tabuleiro : jogo de claro-escuro,
luz e sombras.
Dí-lo com propriedade o Predicador, num contraponto que não refoge ao
ponto o tema : "Nada de novo debaixo do sol", ou seja, a mudança é
antiga sob o sol e, ao mesmo tempo, essa mudança contínua acaba se
contrapondo em fixidez, rigidez, estabilidade, paradoxalmente.Todavia, a
mudança na frase do predicador soa contrapontística, pois sua
assertiva é que nada muda, mas ao afiançar isso, para obnubilar o mundo
real e o sol, joga sementes de metáforas no sentido oposto, asseverando
que tudo muda... - por isso, portanto, nada é novo, nem mesmo a mudança,
que é mais vetusta que o sol : todo o conhecimento é um paradoxo.
Aliás, isso nos remete, de certa maneira, à tese de Antístenes, pois
absolutamente não se pode declarar o falso, numa oração, nem tampouco
evocar o contraditório, princípio bailar do conhecimento, mesmo porque o
conhecimento é mais complexo que a realidade. A realidade não passa por
palavras; logo, não se perde nessa indevassável trilha.
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