sábado, 14 de setembro de 2013

ÊXTASE(ÊXTASE!) - verbete wikcionario etimo



"Tudo o que era sólido se desmancha no ar" é uma frase de Marx com fulcro no pensamento de Heráclito de Éfeso : "Tudo flui - tudo é e não é". Este "tudo" é o "todo", o "uno", o "Hen panta"de Parmênides; enfim, o ser. A oração de Marx também influiu no pensamento de Bauman quando disserta sobre a a "sociedade líquida", "Amor Líquido" e "Globalização:  as consequências humanas" e Vidas desperdiçadas", livros de sociologia que são mais tragédias filosóficas em prosa e em ciência que qualquer outra coisa proveniente da alma humana, na acepção do estagirita.
O filósofo Aristóteles já havia parado essa sangria quando coloca as categorias,mormente a substância, no mundo real, com se fora um demiurgo do "logos" e da lógica. O estagirita anula parcialmente o pensamento da viração permanente do pensamento heraclítico, do vir-a-ser instantâneo que não permite tempo para que qualquer coisa seja ou seja e não seja simultaneamente ou quase em simutaneidade. Faz parecer que essa mudança é absoluta, não guarda tempo de relação ou para relação, o que é um equívoco  mesmo no universo subatômico da física quântica, que labora sob o tempo da luz ( tempo em velocidade). Aliás, por quê física quântica e não química quântica, já que trata dos átomos? Ah! porque, evidentemente, o critério é outro em cada caso ou cada mundo e que se passam os fatos.
O contemplar estática ( e em êxtase(êxtase!)) de Parmênides aborda o ser e o dicotomiza em ser e não-ser em contraponto à contemplação móbil heraclítica.
Esta visão de "Sociedade Líquida", algo trágica, com rasgo de tragédia grega, pois constrói e destrói relações e valores, edifícios colossais, grandes corporações num átimo,  é a mesma ideia heraclítica fundada na força natural , mas em outro contexto cultural, historial, social, econômico, político, etc., transmutada para o capitalismo, o motor incontrolável do mundo do homem moderno, coevo; o mesmo  cosmos mutável, "líquido" no rio que nunca flui o mesmo duas vezes ( o rio que somos, que fui  e flui em sangue, células, moléculas, pele, ossos; enfim, no corpo e na mente, na mente enquanto metáfora dos produtos do cérebro, lembra que nunca fui duas vezes também, ó rio!), esse cosmos cujas mutações frequentes inquieta Platão e Aristóteles, veio a jorrar na produção humano, na sede ilimitada,  infinita, faustiana do capitalismo, derrogando valores tão caros ao ser humano, tornando impossível a permanência do casamento, da empresa que não se modifique consoante os ditames do mercado ( novo ditador cruel, não mais desumano, como o ditador humano, mas inumano : o mercado abstrato e real que massacra com seus tanque de guerra mercantil, seus helicópteros apaches, seus "robocops", impondo a liquidez em tudo, mesmo no amor mais terno e com sonho de eterno); enfim, derribando tudo, inclusive as crenças, a fé : tudo o que é humano e dá conforto, não importa a verdade ou o que se venda e compre como como verdade. Verdade?!...
O senso da liquidez das coisas, está em símbolo no jogo do xadrez, do xadrez em desenho em preto e branco no tabuleiro : jogo de claro-escuro,
luz e sombras. Dí-lo com propriedade o Predicador, num contraponto que não refoge ao ponto o tema : "Nada de novo debaixo do sol", ou seja, a mudança é antiga sob o sol e, ao mesmo tempo, essa mudança contínua acaba se contrapondo em fixidez, rigidez, estabilidade, paradoxalmente.Todavia, a mudança na frase do predicador  soa contrapontística, pois sua assertiva é que nada muda, mas ao afiançar isso, para obnubilar o mundo real e o sol, joga sementes de metáforas no sentido oposto, asseverando que tudo muda... - por isso, portanto, nada é novo, nem mesmo a mudança, que é mais vetusta que o sol : todo  o conhecimento é um paradoxo. Aliás, isso nos remete, de certa maneira, à tese de Antístenes, pois absolutamente não se pode declarar o falso, numa oração, nem tampouco evocar o contraditório, princípio bailar do conhecimento, mesmo porque o conhecimento é mais complexo que a realidade. A realidade não passa por palavras; logo, não se perde nessa indevassável trilha.

( Para o ensaio "Historiografando em geóglifos ideias esdrúxulas ao aprisco desde priscas eras heraclíticas").
 
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