segunda-feira, 23 de setembro de 2013

CELÍACO(CELÍACO!) - etimologia etimo verbete




Mãe amava jardinagem e vovó,
seus filhos, seu marido e a poesia
de Casimiro de Abreu, Junqueira Freire e Álvares de Azevedo
três ultra-românticos poetas,
alguns árcades
( - mãe recitava Alvarenga Peixoto,
poema que ele escrevera no cárcere
da Ilhas das Cobras:
'Bárbara bela
do norte estrela
que o meu destino
sabes guiar,
de ti ausente,
triste, somente
as horas passo
a suspirar.
    Isto é castigo
que Amor me dá").
Mãe cozinhava mui bem:
galinha cabidela,
empadas deliciosas
( nunca comi similares
- ou só mordisquei similares!)
e outros tanto acepipes, quindins.
Mãe saía à rua
acompanhado todos os filhos
ainda crianças
e o povo que a via
comparava-a com a galinha e os pintainhos
ou a "escadinha" ou o time de futebol.
Íamos com destino à casa de sua mãe,
avó para o tempo em que fomos gerados,
quase nos gerânios que mãe plantava
por toda a parte, no imaginário.
Mãe cantava canções maviosas
e seu canto santo- materno e terno
era melhor do que o melhor grupo musical de mundo:
- The Beatles.
Mãe fazia e era tudo
e meu pai apenas aparecia de coadjuvante
e de preferência ébrio e furioso
como um Ariosto que recitava o poema
"Orlando Furioso".
atuando sempre como um bufão.
Ora, se insisto em frisar
que mãe fazia e acontecia,
em tempos  de paraíso,
não é porque ela já esteja morta;
ela continua viva,
esbanjando saúde,
porém ferida pela idade provecta,
na qual muitos sofrem do mal de Alzeimer,
sofre sobre a máscara teatral do Alzeimer,
peça dramática que um médico escreveu
para os demais tolos representarem
como meros atores do exercício da medicina,
dentre outros males que teimam em abundar,
desdenhando a ciência
e sua estúpida e estapafúrdia presunção.
Canto sua alegria antiga assim
não com tom elegíaco ou ditirâmbico,
mas com ordem de ode
eivada de melancolia,
pois fica claro que nós, - todos!,
os maus filhos, que somos, - todos!,
péssimos e ingratos seres humanos,
tratamos o outro ser humano,
não com respeito, carinho e amor,
nem com qualquer caridade
que ultrapasse o que é  mero verbo nos lábios mendazes,
porquanto mesmo em se tratando de nossa mãe,
pessoa de proa de nossa vida,
que todo o amor semeou e doou para nós,
que nos embalou e consolou com carinho
que nunca mai tivemos,
não obstante isso e tudo o mais
que não ouso narrar
de tanto amor
devolvido com tanta indiferença,
pois a passamos a tratar nossa mãe,
que é a nossa vida,
- tratamo-la como mula e trator que somos,
Massey  Ferguson,
- tratamo-la como se ela fosse
um jazigo vivo,
um túmulo aberto no peito
- da dor maior,
que é um dó maior...
que rasga e fere gravemente
- até nossa maldade infinita!
Mãe ( não é, mãe,
deste filho impenitente
que precisa de muita penitência filial)
pode ter morrido para a poesia
do conjurado Alvarenga Peixoto,
bem como morreu para muita coisa,
mas nós, mesmo em criança,
morremos todas as noites
e acordamos com a aurora
pata que venha nos acordar
no fuso do dilúculo,
na lua embrulhada em teia de aranha,
toda branca, pálida,
pois todos somos roubados e furtados
de células, acervos de memória,
dentre a infinidade da riqueza
que fora e é nosso tesouro na vida,
sempre surripiado, bifado tesouro,
sem que nos socorra
o Código Penal Brasileiro
ou as leis internacionais
que berram e ladram,
mas somente põem o ricto do sarcasmo
em lábios entreabertos num sorriso irônico
do ladrão, que não é cão,
nem ladra feito um canino
- e também a ferida do berne
no boi,  vaca,  bezerro...
para que o abençoado pão de cada dia
chegue à mesa do médico  veterinário
que  também merece sobreviver
e se alimentar de glúten.,
se não for celíaco(celíaco!).
Outrossim, não deixamos os mortos no limbo :
estão sempre nas nossas digressões,
sonhos e cerimônias anuais,
se não escritos sob os signos,
afogados sob montanhas de signos
em livros, cartas, obituários, inventários, epitáfios
que são "proclamas" do mal-do-século,
e "Confissões" de Alfred de Musset 
e na vida extravagante de Lord  Byron,
um dos maiores poetas de Europa.

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