sexta-feira, 1 de abril de 2011

ANDORINHA PARDA (ANDORINHA-DE-RABADILHA-CINZENTA )

Hirundo daurica.jpg
Andorinha parda /
na tarde que tarda /
- que tarda na tarja da tarde /

Tardia ave na tarde que arde /
( no bardo ardo /
pardo bardo /
cujos dons são dons de dons Quixotes /
cavaleiro da Mancha /
vetusto manchego /
montado em rocim fraco /
equino quase dado ao amarelo /
quase na furta-cor do apocalipse /
- quase numa "cor unum" para apocalipse /
ou cor anum para noite /
anum nas penas negras da noite /
com cardo amarelo de lua /
pondo a cor no palor ) /

Pássaro bardo /
penas no pardo do pardal /
no que tardo em pardo pardal /
pardo cardo /
sem abrolhos nos olhos /
nos escolhos e molhos /
- molhos de salsa /
molhos em clave de sol /
- salva verde /
verdinha de querer muito mais verde /
de um verde que quero ver de perto /
- quero-quero muito quero o verde de ver-te os olhos /
verdes escolhos em abrolhos no mar verde de ver-te /
ao luar da lua louca /
nua na companhia falciforme da lua /
integral no luar do olhar /
dirigido à andorinha-de-rabilha-cinzenta /
pardacenta na tarde cinzenta /
cujo corpo é da matéria da andorinha-de-rabilha-cinzenta /
( "Pseudhirundo gryseopyga" ) /
na tarde friorenta ) /

Tarde parda /
pardacenta andorinha /
pardo pardal /
penas e penhas pardas /
penas nas cinzas das asas /

Andorinha parda /
que a lua não arda /
em tua asa parda /
vôo pardo de bardo com alabardo /
correndo veloz o guepardo /
sem o fardo das muitas penas /
que adornam o bardo /
com a alma em cinzas /
e o corpo no cardo /
com fardo de sangue /
( Ai! e a lua louca /
aspirando o suicídio no mar /
caindo na tentação da mulher louca /
desgrenhada nos cabelos de Medusa /
despenteados no salão de beleza da dor /
na estética da dor moral /
escrito pelo esteta /
que descreveu e narrou a tragédia /
na loucura desesperadora de uma Ismália /
que pode ser qualquer outra não-Ismália /
mas Lia ou Bia ou Maria da Pia /
Oh! a dor imensurável do poeta /
Alphonsus Guimarães /
ouvindo os sinos em dolorosos responsos /
rimando com Alphonsus /
- grande Alphonsus! ) /
excelso bardo trágico /
tão trágico quanto Shakespeare ou Goethe ) /

Todas as sombras me voltam as costas no chão /
retorcendo-se languidamente /
revirando-se nos desenhos e caricaturas /
que fazem de mim na hora-zênite /
mas as andorinhas não acham óbice /
e vão saindo do chão /
e entrando dentro de mim /
tracejando sombras delicadas /
na geometria espacial da minha mente /
no escuro da minha alma clarividente /

As andorinhas entradas nas entranhas do pardo /
entranhadas no parcento /
estranhandas no gris /
rumo à estrada gris /
nas cumeadas de Joan Miró /
pintalgando um estranho gris /
cavalgando sutil no luar /
a cavaleiro escarlate do apocalipse /
estão essas andorinhas /
que ciscam o azul com asa gris /
algo plantadas no cardo /
alhures no nardo /
na aquarela em cor de sonho do arrebol /
em cor de poente de sonho /
( crepúsculo de ato em sonho /
- fato onírico em chuva de cores ) /
Essa andorinha sonhada ao poente /
no gosto do ovo do sol /
a se por no horizonte azulado /
- essa andorinha onírica /
entra dentro de mim e faz sombra /
tal qual o sol crepuscular /
espargindo a cor pelo onírico /
dentro e fora dos olhos pescadores /
do martim que não sou /
mas é outro pássaro bardo /
virado no cardo /

A andorinha andarilha na sombra /
sai do sol e se esconde dentro de mim /
à sombra de minha alma /
ao acaso do ocaso /
que roda sol e sombra /
ao por o sol natural /
no por-do-sol do sonho /
encetado com a entrada nas entranhas da noite /
que não se estranha em horizonte onírico /
- a andorinha se arrasta /
dos campos em girassol /
e se esconde dentro de mim /
feito feto em posição fetal /
medrando à sombra do sol diurno /
no sol noturno tocado a piano /
por Chopin dentro do meu sonho /
antigo arquiteto do romantismo na poesia de Goethe /
- que o sonho de todo poeta /
tem alma nesse arquiteto interno /
nas entranhas que recebeu a andorinha /

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