segunda-feira, 7 de outubro de 2013

ALAÚDE, ALAIDE, PARA A ELEGIA DE MARIA DE LOURDES GRIBEL!




Corpo hirto em um esquife :
esta uma definição de morte
( ou da morte?!);
não um definir somente,
mas um definhar também
com rumo de demonstração :
ciência cênica do deus Thanatus
versus ciência cínica do homem do vulgo,
vulto transtornado em médico e monstro
na perde iluminada à vela.

Alaúde, Alaide, para a elegia
de Maria de Lourdes Gribel, 
minha mãe!

Um ataúde
não é uma alaúde.
O alaúde é um instrumento melódico
da família dos cordofones :
a música do alaúde
cabe na ala do mel,
por isso melodia,
de-dia e noite-e-dia.
O ataúde que, no árabe grafado,
também aponta para a substância da madeira,
matéria em celulose,
é feito para guardar morto
desatado do contorno melódico,
mesmo o mais módico
que chega  a beirar
o beiral do silêncio,
o qual pede um cantochão
distantes algumas jardas de mosteiros,
algumas abadias dadas em côvados covardes
e conventos que há de convir
são cenóbios,  casas cenobiais,monastérios,
lugares para vida contemplativa
para aqueles monges com face de terra
e aquelas monjas que amam a Deus
e por  Deus amados e amadas são,
no são e no sal da vida sã, santa.
( O alaúde tem abelhas
tecelãs terceiras da ordem das avelãs
e  do mel da lã melódica,
lânguidas, longas melíferas...
O cântico do alaúde
que eleva a alma da minha mãe
ao espírito que se esvazia
nos foles de Deus, do céu,
os  quais se expande em pulmões
com a música da sanfona ou acordeão
que acorda o acordo
na corda musical do pacto
que  senhor mandar sangrar
para poder assinar
com o sinal de sina do arco-íris
que conta ariris
pelo grito nos céus
e telhados gris
que rebaixam anis
ao nível dos homens vis).

Alaúde, Alaide, para prantear
o passamento de minha mãe,
 Maria de Lourdes!

Entrementes, se é a  vida da minha mãe
que me escapa pelas frinchas dos dedos
no tempo serpenteado pelas areias,
no período das águas,
nos instantes de luz,
que fazer e quem instar?!
A que deus?!
A que lua, a que loa?
Posto o morto
a que porto
irá atracar?
Em que porto soçobrará?!...
Posta a morta
a que porta
baterá?
A do batel?!...

O ataúde atou o corpo
de minha mãe
e o arrastou "redemoinhando"
para os subterrâneos
onde há Hades
e há-de haver catacumbas,
rio Estiges, barcas e Carontes.
O ataúde tocou-lhe a alma
que subiu aos céus
para encontrar um reino
todo dela,
todo de mãe,
pronto à espera
de sua soberana,
desde o rasto na areia
dos pés do primeiro tempo.

Mas se haverá céu e céus
nas acepções das palavras
para além dos azuis,
 o que não haverá,
 senão todo o impossível?
Eu não acredito em céu,
em mar ou em luar;
os deuses saem de mim
assim como as ervas da terra,
as víiboras das tocas;
Deus deixa a caverna
que tenho dentro de mim;
sai silente com  o querubim e o serafim
da sua comitiva divina,
com seu séquito angélico,
tal qual saem corujas,mochos e morcegos
de seus valhacoutos.
A única fé que tenho,
trago-a em mim;
a única razão em que creio
e com a qual mensuro e conto
está dentro de mim :
o resto é xarope de groselha
para inglês beber.

Minha mãe faleceu
mas metade do corpo dela
( corpo vem com água de alma e alga,
espírito de fogo)
foi deixado de legado vivo
em meu corpo,
pois a outra metade do meu organismo
pertence ao meu pai,
continuando, pois, o casamento deles
a viger dentro do meu corpo.
No que creio
é que minha mãe
que acaba de falecer
tem uma metade em mim
que a morte não pode levar
nem com seu exército bilionário de bactérias :
metade do corpo
( e no corpo vai alma em água
e espírito em fogo)
ela me deixou de legado vivo :
metade do corpo que fora dado a ela
na herança genética.
Na outra metade do meu corpo
vive meu pai,
ambos casados
em corpo, alma e espírito
dentro de mim!

Do exposto, depreende-se que a metade
que foi pasto das bactérias comensais
pertencia a ela
- que teve que morrer pela metade,
pois a morte não se completa
senão depois de largo ciclo de vida
quando a outra metade morre
em todos os filhos e netos,
bisnetos,  tataranetos...
- e vai gerações! quase sem fim
a cavaleiro do fim.
 Ficheiro:The musicians by Caravaggio.jpg
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