O homem é o diálogo
entre vivos e mortos
pelos signos dos livros
e outros ritos antigos,
redondos no anel,
esféricos na bola,
esferóides nas equações
que são esferóides.
Vá que sejam amuletos contigo,
sortilégios comigo!?
( O diálogo vivo
é uma anel de serpente viva,
no amplexo consigo mesmo ,
amplexo de vida e morte
na peçonha e no remédio
da farmacopéia,
no encontro de engenharia química :
assim é a vida em movimento circular,
circunferência na inerência
que se entorta na esfera
graças à força da gravidade
que toca as cordas do violoncelo
com um violoncelista
de pernas tortas,
gravetos do sertão tão-tão-João-joão!
Ser humano com distrofia física,
no jargão médico
era Garrincha;
homem de coluna e alma reta
na meta que mirava
ou minava Garrincha
o ser em pasto posto em pássaro do semi-árido :
alma-de-bola,
alma-da-bola,
alma gabola,
ou bola n'alma
sem gato ou sapato :
chuteiras rotas nas rotas das derrotas
e da Vitória Alada de Samotrácia
nas escadarias do Museu do Louvre,
Pinacoteca em Paris, parida, parricida...
( Garrincha não era bem um homem,
na acepção do termo para adulto,
mas um quase quasar de anjo púbere
manejando o banjo pela bola;:
manejando o banjo de Manoel
em Manuelinas Ordenações emancipadas
dos reis de Copas, seus pajens e escudeiros reais,
em Suas Majestades para reger as Vanidades,
deusas de Paus, rainhas e tigresas de papel papal!)
Ao se ler Nietzsche
não se lê o homem,
nem se estabelece na beleza
com um diálogo com o homem,
porém com a presença do ser
no tempo da leitura
do filólogo-filósofo
no seu tempo de ser
concebido, entrevisto, grafado,
e, no entanto, semi-cognoscível.
( A garrincha arranha a aranha do canto;
Garrincha garrancha a garatuja do drible
um garrancho sem arranjo da garabulha,
garabulho, garavunha,
no arrasto geométrico euclidiano.
A ginga, o gingado, o samba,
a capoeira ao pé da chuteira
que esquece o passe
privilegia o drible
leva a bola ao êxtase
- sem uso de droga).
Não se lê o homem,
que é um complexo,
torcido pela gravidade,
mas o ser imerso
que emerge do homem
que não é simples
no anacoreta individuado,
porém complexo entidade,
no emaranhado coletivo,
em jângal inexplorado,
o qual está sempre em presença,
sem encarnação ou reencarnação,
no tempo que queima
o ser que reina
na república democrática
ou na monarquia absoluta
( formas de governo, dietas, regimes,
sob os quais nos subjugam
pela vigência da violência das leis dos reis
e congressos, parlamentos :
Ordenações Afonsinas ( que sina!),
Manuelinas, Filipinas,
são tudo uma gestão de palavras
encadeadas em concepções prisioneiras
do silogismo ou lógica loquaz
do político que melhor mente
ao povo parvo )
que, inobstante, luta sem luvas,
na contradição do bumerangue,
contra o obsoleto
no gueto
e na cúpula
que copula
a favor do favo na cornucópia
vegetal
que tudo nutre
no úbere
de onde corre livre
rio em riso de leite e mel
no anel do sangue
em mar rubiáceo,
pérolas negras
na dor do nadador
e da ostra
nada ostrogoda.
Rúbia peregrina,
peregrina nas águas
do mar vermelho tinto
- das rubiáceas!
( A garrincha derramava o canoro
no foro íntimo do vento;
o Garrincha desmantelava
o João-de-Barro).
Enquanto vir,
assomar,
seu ser à janela
( ela aparece à janela do ser
aberto abeto em lugar do luar,
"Abies alba!"),
sua imagem no mar...
- sei que estará viva,
pois o tempo é uma fogueira
e o ser da bruxa
queimada pela inquisição natural,
a qual se reúne em tribunal
de nato ofício
para bater o martelo das bruxas
e queimar o mar de Omã,
rasgar o mar de Cortez,
arrefecer de vez,
até a morte por "hipotermia",
a corrente oceânica de Humboldt.
( A garrincha cisca;
o Garrincha ciscava,
criava um cisma,
cismava
junto ao corpo cálido
da amante cantante
que derramava o cântaro
- do canto mavioso
no samba de voz roufenha,
sob coqueiro , lua
e rio em cachoeira em cantata
- tocada pela fuga em ré maior
que Buxtehude retirou do limbo
e Bach requintou).
A Inquisição espanhola de Torquemada,
Tomás Torquemada!,
no inato ofício
que ofende a fenda à frincha,
que incha, guincha,
garrincha, Garrincha...
- um diálogo rotundo
rodando na dialética esferóide
que quiçá só no solo da bola
que marola
sabe à obediência marinha
devida a um rei da bola...
Ora, bolas!
- um soberano em fuga para a equação esférica!,
universo em um diálogo matemático
com a gravidade
de um violoncelo a vibrar cordas,
senos, co-senos,
se não a tocar-se
nos dedos do violoncelista em transe.
Transeunte.
Transeunte o ser em diálogo com a esfera :
Garrincha das sete pernas!,
figura arcangélica se gelo em degelo fosse fosco
com sete asas fragorosas,
querubim, serafim...
Será o fim da cambaxirra em "cambagem"?!
Seria o fim da garrinchinha,
ainda extante?
Corruíra?
Curruíra?
- o pássaro canoro empós o homem
e o artista do drible
que fez cantar o poeta
em baladas e gestas gentis,
indo do Indo lírico ao épico homérico?!
Ora,ora,ora! : garrincha canta no campo;
Garrincha no campo dançava
ou tirava para dançar!...
Ah! "Tirava!", João! (Guimarães Rosa!)!
Garrincha fez o diálogo com a bola,
foi o gênio, o poeta da bola,
o engenho lúdico;
Pelé foi o gênio lúcido do futebol,
uma espécie de sardônico "Luciano",
muscular, obviamente,
a rir na sátira Menipéia,
junto a Varrão,
da estupidez humana
em seu campo de atuação,
literalmente!;
Pelé foi o sábio, o doutor em futebol,
o primeiro atleta daquele esporte,
o primeiro atleta fora do atletismo olímpico.
Pelé hoje é um macróbio
na acepção de idade avançada,
mas não para designar o autor romano
cujas obras os monges amanuenses,
nos mosteiros,
trouxeram aos nossos tempos
graças ao seu labor de copistas,
para a humanidade
- gasta e desgastada
por governos de homens (indivíduos)
já inúteis há séculos
ou milênios chineses, indianos, egípcios...
mas no poder eterno!... Arre!
- suas bestas poderosas!
( Ínsitas até no Apocalipse!
- Suas quatro bestas montadas
e a besta de muitos chifres!).
O diálogo longo com a bola do menino
( a bola sempre é e será do menino!)
ultrapassa o passe,
a terra, a atmosfera,
a fera que suja por dentro
o homem e a mulher com excremento,
e o universo inteiro,
pois o maior vencedor
é o grande amador
que venceu o Minotauro
no interior de seu labirinto
- por um fio!
Um fio da mulher amada,
e que ama muito,
- Ariadne (" Fio de Ariadne"!,
mas não me fio em Ariadne, a mulher
a caminho no mar da ilha de Naxos,
com velas pretas no navio,
a qual estendeu esse amor
na forma de fio (novelo de linha)
para guiar o bem-amado
para fora do labirinto
e matar à luz
a temível fera.
Contudo, Teseu não amava Ariadne
e a deixou a Dionísio, o deus Baco de Roma,
na malfadada ilha de Naxos.
( Naxos não é nexos,
mas foi lá que Baco(Baco!)
manteve relações sexuais com Ariadne,
após Teseu a abandonar na ilha
até a pé ela receber em vida a coroa
cravejada de pedras preciosas
e em morte a Corona Borealis).).
O vencedor é aquele
que venceu a si mesmo
no Minotauro que era
num labirinto perdido
sem espelho para Narciso,
até que a amada o despertou
de um sono e sonho profundos e improfícuos
ao assinalar-lhe com uma luz
no fim do túnel
- de onde surge uma criança
mais bela que o universo
- porque a criança é o amor de Deus
dado como presente
pelo amor dos dois :
quando criados macho e fêmea!
Marcha o macho
para a fêmea;
marcha a fêmea
para o macho.
Marcham.
Se marcham!
E como marcham!
Ávidos.
Para a bola marchava Garrincha,
mas a bola não marcha,
tampouco sai atrás de uma marchinha de carnaval
composra9compota?) por Lamartine Babo,
mas pode ser marchetada por Pelé
no âmbito do pé
- de moleque.
Pé de moleque é doce :
pé-de-moleque(no léxico);
um pé de moleque no chão
é rasto de Saci-Pererê, rasto histórico, imaginário,
que talvez tenha virado ( antípodas!) "arrastão".Não?
Todavia, se for dois pés de moleque
já se pode dizer
que é o rastro de um filho do Brasil,
que são inúmeros,
inclusive eu,
que não deixo rastro de meus pés
nem deixei quando era moleque,
porque, quiçá, seja nefelibata inveterado
- e de bata.
Garrincha, Garrincha e seu pé de moleque :
o pé-de-moleque doce,
dulcíssimo para o futebol brasileiro,
no braseiro da mãe-preta,
no vegetal da mata nativa :
a mata Atlântica.
Pau-brasil, abrasivo, abrasado,
na brasa ainda ardendo no borralho.
Pau-de-tinta, natural e cultural...
( Pau-brasil("Caesalpinia echinata Lam.".
Na língua indígena: Arabutã, ibirapiranga,
ibirapitanga, ibirapitá, orabutã...)).
Garrincha, não obstante, era de outro pau :
de Pau Grande, no Rio de Janeiro(Maracanã!), fevereiro...
mas não se fala do falo,
nem tampouco de sua dimensão.
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