quarta-feira, 4 de agosto de 2010

FIANDEIRA TECENDO O TEMPO


Em silêncio o tempo tece uma abelha em teia /
colmeia em aletheia /
indústria do silêncio na cela do monge cartuxo /
com flor de laranjeira noiva em flor /
inata na barra da alva /
descaída na terra embebida no rocio da aldeia /

Aldeã manhã /
de chilenos São Francisco de Assis /
pés ao rés-do-chão no solo herbáceo de Assis /
na água úmida benta da Úmbria /
arroio do rocio dentro do sangue italiano /
( e uma italiana andou Clara /
antes da barra da alva ferir a alcatéia das trevas ) /

( O tempo é um pedaço de espaço /
feito motor /
sem graxa óleo ou torque /
escrito com álgebra ) /

Olho e temo o que o tempo tece /
no silêncio de morte /
quase indústria /
- indústria com fiandeira do silêncio /
fiando silente o tecido escrito no teor do mel /
escrito para abelhas mestras /
rainhas na poesia densa doce /
( o sol em densidade líquida /
é o mel adormecido no favo /
de avos tempos ) /

Olhos do tempo são rajados de preto e amarelo-abelha-europa /
olhos rajados de abelha /
mel de doer no ferrão /
arpão que fica na dor enterrado /

Abelhas vão tecendo o tempo nos favos /
afagos nos favos do vento que passa rente às favas /
Entrementes o poema escrito quer entrar pela natureza adentro /
usando pés-de-letra /
como se fora pés-de-cabra /

signos em vôo para o subterrâneo /
impulsionado por motor de peixe e pássaro /

Deixo as palavras trabalharem como abelhas /
fabricando o mel do meu pensamento /
- o mel em idéias não inodoras /
porém da cor dançante nos matizes espectrais /
e sabor de mel respingando paixão de abelhas por flores de laranjeiras /
perfumadas a cavaleiro negro e alvo da brisa em avos sub-tempo /
que diz ao nariz o que se escreve no olfato /
- uma das trilhas da vida /
bifurcando-se pela poesia /

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