sexta-feira, 6 de agosto de 2010
CASA
Uma casa é assim /
( dizendo em forma de dança frenética )/
um corpo da gente /
- ou outro corpo da gente /
no espaço posto /
a olho nu para a dança /
porquanto é uma veste /
um chapéu também /
e além de tudo um sobretudo é /
uma casa onde a gente mora /
e vive num lugar /
interceptado pelo tempo /
que sempre cruza o espaço geométrico /
na intersecção euclidiana ou no plano cartesiano /
que redesenha parábolas /
fala e escreve por parábolas /
Uma casa é um corpo que dança /
na arquitetura e na engenharia /
e onde outrossim moram flores e musgo /
formigas e até vespas /
cupins que vêm e vão em mariposas /
pelo vôo da chuva fina /
e grossa na mata e sobre o castelo do cupinzeiro /
A casa é outro hábito do monge /
que faz o hábito /
o outro hábito /
e faz também São Francisco de Assis /
e todas as carmelitas descalças /
que cozem a obediência sob a regra /
nos muros do claustro desenhados pelas mãos das heras /
e das ervas que tomam todo o espaço vago /
como um novo velho vetusto e eterno império /
- um império romano vegetal /
vegetativo ainda no monge e na monja /
sobrevivente ainda nos nichos do convento cartuxo mais austero /
com severo abade ou abadessa /
vestido pela dança abacial /
que se amolda ao corpo e à vida sob severa disciplina /
- É a severidade da vida /
rompendo a barra da alva /
pelo caminho de odor e luz branca expressa na flor de laranjeira /
porquanto a vida é mais severa /
que qualquer norma ou semiologia /
que borde enxames de abelhas vivas no sonho dos pioneiros /
ou no coração da monja /
- e na solidão com solitude pelos precipícios do intelecto do monge /
que olha a terra á frente barbada com ervas /
e sabe que seguirá sempre só /
sem Robinson Crusoe /
que é outro nome para Deus na amplidão solitária da planície /
que olha e mira o horizonte com montanhas e serras sem fim /
até encontrar o traço azul do céu /
encontrando-se com as águas do verde na cor /
quase em pororoca quando há chuva e arco-íris /
e sempre há chuva e arco-íris escritos ou fáticos /
A casa é simples assim /
onde vegeta um louco /
entre musgos na parede quebrada /
subindo pelo lodo que o tempo coletou /
nas estações da chuva /
com mariposas em debandada louca /
- a existência parada na pedra /
uma pedra sem caminho /
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