No retrato há um morto e um vivo simultâneos
  que paradoxalmente não é o mesmo ente
  nem tampouco o mesmo ser
  mas também o é 
  pois o ser vivo é um ente vital
  gerido por alma sensível 
  e espírito pensante
  - uma indústria silente
  a transmutar energia em matéria
  e vice-versa no que versa a versatilidade da vida
  - um plasma plástico
  maleável e inteligente ao extremo
  um febricitante ser no homem viril
  pelo labor do intelecto
  contudo não exatamente um ser
  pois no retrato falta tempo
  para integrar o ser com o tempo
  e o ser sem tempo 
  não participa da existência
  nem da essência do homem
  e logo é um ser e não-ser
  sem vir-a-ser ou devir
  expresso pela  morte
  Por outro lado do paralelogramo
  o morto é ente no cadáver
  despojado de existência e essência 
  jogado à correnteza da decomposição célere
  conquanto retráctil seja o retrato
  em trato de sapato para pato palmípede
  que faz gato-sapato com os pés com chulé
  na pele de Pelé e Garrincha
  - no beiral do telhado da garriça ou cambaxirra
  ( Quero a luz das abelhas
  - à luz das abelhas
  quero
  - quero ver
  olhar a flor da laranjeira 
  - adorada odorata! )
  No retrato se retrata dois seres
  um vivo e outro morto
  ao mesmo tempo
  e no mesmo ser e não-ser
  no número um e não-numeral zero matemáticos
  ( O zero é um numeral simbólico
  tanto quanto o um 
  e os demais algarismos rabiscados )
  O ser vivo existe fora do retrato 
  Do lado claro-escuro do retrato
  o ente morto está posto
  por um ato e um fato
  de dois seres vivos à época :
  o retratista e o retratado
  os quais nadam na torrente do vir-a-ser 
  e na fotografia
  peixes na luz
  feixes cromáticos
  em preto e branco de sapato
  claro e escuro de Caravaggio
  - tudo preto no branco
  xadrez trançado nas vestimentas
  tingidas pelas cores berrantes do arco-íris :
  O  vivo com vestes talares alvas
  de essênios posando
  nas albas a lamber as faldas das montanhas
  e o morto trajado com mortalha
  e máscara mortuária 
  porquanto o retrato é retrátil
  versátil no soprar do oboé 
  e do oboísta 
  - anjo que sopra por detrás das ventas do arcanjo
  o vento que toca 
  os moinhos de vento
  e as areias do tempo na ampulheta
  bailarinas de Degas em pinacoteca 
  Ambos nos olham :
  o vivo e o morto
  Todavia não nos vêem
  porque não têm olhos para mover os cílios
  piscar para as estrelas internas aos olhos
  - no céu noturno dos olhos negros
  cm a lua no máximo do amarelo da madrugada orvalhada
  O morto olha-não-olha 
  porque parado ali
  para sempre emparedado no retrato
  e na propriedade retráctil do retrato
  - cristalizado em rochas sedimentares de luz!
  que na fotografia virou pedra-pome ( púmice)
  de rocha magmática
  ao erigir uma ilha : o retrato
  separando um Robinson Crusoe do tempo
  O vivo olha sem visão retratada
  refratada
  porque está atuando ainda no tempo fora do retrato
  que o imobilizou e prendeu em cadeias de luz 
  ( teias de aranha branca 
  na lua branca ao zênite :
  lua em teia de aranha branca  tecida de luz solar )
  - com a poção do tempo em cronômetro de bruxo
  demudado em lucíferas alvenarias 
  a discorrer sobre o rio do vir-a-ser 
  aonde passou o filósofo Heráclito de Éfeso
  um grego atravessando um outro Rubicão
  para ir à Roma 
  e ter com os romanos
  - gregários no Direito
  ( O Direito é a  filosofia torta de Roma 
  evidentemente não para filósofos cínicos 
  grandes escarnecedores nos meandros da política
  e da guerra 
  que é o ato magno da política
  quer seja a profana ou a sagrada
  movida por atos de druidas ou de reis e imperadores
  - sátrapas enfim!
  Os filósofos cínicos 
  aos quais os oponentes denominam de cães
  eram de fato e em atos 
  homens livres 
  cultores do "pathos" da liberdade extremada
  ainda que sob o gravame da maior escravidão externa
  exercida pelo estado românico
  colocando a opressão 
  sobre as espáduas do homem grego
  em particular o filósofo cínico
  que ao servilismo contrapôs vigorosamente 
  a filosofia do desprezo
  pelo universo político-militar dos romanos
  os quais representam para o filósofo cínico
  os verdadeiros cães
  que sempre voltam ao vômito
  - que regurgitam 
  ( referindo-se à bulimia lendária do romano! )
  Inobstante, esta filosofia tortuosa e falsa 
  hipócrita mesmo
  dos antigos donos do mundo
  ( os romanos na empresa das legiões )
  era um jogo semiológico 
  para "aventar" cidadãos romanos
  perfeitos escravos da lei
  e do tirano em voga
  Trata-se o Direito romano de uma filosofia mínima 
  uma pseudo-filosofia de cunho oficial 
  em forma de práxis ritual
  tateando a ética 
  a qual se radica na razão
  mas sobrevivendo de fato da moral
  a qual provem do irracional
  a "ratificar" paradoxalmente
  o costume grosseiro e brutal
  do homem à sarjeta
  decaído na vala comum da existência
  anjo desgraçado 
  maldito
  amaldiçoado 
  escarnecido
  ( o cinismo é um filosofia menor
  originária na Hélade dominada 
  cujo escopo é atender 
  albergar  
  e dar dignidade interna
  à sobrevivência do forte 
  do homem nobre
  escarninho
  do filósofo virtuoso ( o cínico cultuava a virtude da fortaleza
  que talvez seja a única virtude de fato
  sendo as demais  
  meras expressões e virtuosidade desta )
  cujo último bastião
  era sua mente invicta 
  como um sol divino
  em tempos de escravidão
  imposta por Roma 
  ao homem exterior 
  - o indivíduo temerário
  que ousa desafiar 
  aos porcos de Owen 
  sempre no poder 
  correlatos aos levantes
  e ao ao ato do suíno
  sempiterno e vitalício no comando
  do zoológico humano
  com seus zoólogos 
  sob controle doutrinário
  imposto de Roma e por Roma 
  ( este o mais lancinante imposto de Roma!
  das Romas que imperam até hoje
  sob sutis políticas religiosas
  que são mais compreendidas pela natureza da mulher
  O homem entende melhor a política profana
  enquanto a mulher se esmera no conhecimento e prática
  da política sacra  )
  O cinismo vem na mesma esteira do estoicismo
  ambas evasão e debandada 
  do indivíduo ferido de morte pela filosofia 
  O cristianismo é um cinismo popular
  - uma vulgarização da filosofia dos cínicos gregos 
  a forma religiosa da ciência jurídica 
  no contexto historial de Roma antiga 
  e das Romas em sobreviventes
  O cinismo é outrossim um retrato de um tempo 
  a qual  demonstra historiologicamente
  que o Direito é uma mescla eclética ou uma  síntese
  entre as  filosofias menores : o cinismo e o estoicismo 
  Só  que a filosofia não impera 
  antes opera no anelo pela liberdade do ser humano
  em oposição ao Direito
  que sendo uma filosofia oficial
  não passa de fato de um conjunto de regras
  marcadas pelos interesses escusos 
  dos  donos do estado ou da república
  O Direito é uma norma de conduta totalitária
  absoluta como os monarcas absolutistas
  uma alienação do pensamento humano
  cujo fito é coagir e oprimir o homem
  - porquanto vem a ser um poder
  que faz curvar o homem
  então genuflexo ante o soberano
  seja ele estado lei ou rei ou império
  O direito e a religião
  são políticas de dois estados dentro do estado
  e vêm a suscitar o terceiro estado
  no qual Hitler pode ressuscitar
  Portanto, ao Direito não é dado sequer 
  ser uma das  filosofias mínimas 
  da magna Grécia
  porque vem a tolher os atos humanos :
  encarcerar 
  enforcar 
  esquartejar
  decapitar o ser humano 
  é seu objetivo
  O direito é uma forma perversa e pervertida  de anti-filosofia 
  cujo escopo é subtrair sorrateiramente
  a liberdade do homem
  e levá-lo em massa para o Jardim  Zoológico 
  que são todos os asilos institucionais 
  - uma colônia penal para todos 
  exceptuados os senhores no poder ) )
  (  Ah! ar ! : Quero ar!
  Quero a luz das abelhas
  - à luz das abelhas
  quero ver
  o que quero e muito quero 
  no Quero-quero
  que voa a estridular o seu grito 
  - estribilho rascante! )
  O ser vivo está no tempo
  a pisotear o lagar
  gravado no corpo
  na anatomia e fisiologia
  no aglomerado de poeira a colar o organismo
  com colágeno
  vinculando matéria e energia de mártir
  ( Quero a luz das abelhas
  - à luz das abelhas
  quero
  - quero ver!
    
  
     
e ser longânimo
    
  
     tal qual um patriarca bíblico )
  No morto resta o pó do tempo
  enterrando-o
  cobrindo-o 
  - No mosto o morto está em fotografia
  coberto pela poeria do tempo
  Seus olhos não  olham
  ou olham e não vêem
  estão imóveis e alijados do tempo
  - sem tempo que os mova 
  à face das águas
  reflexivas
  ( Quero a luz das abelhas
  - à luz das abelhas
  quero
  - quero retratar 
  o Quero-quero na solitude do voo
  em bando a "fretinir"
  similar às cigarras a fretinir )
  No retrato há duas faces do mesmo deus Jano :
  um vivo e um morto
  O vivo foge da prisão de luz do retrato
  e aspira ao tempo-de-respirar
  inspira e expira fabricando o tempo e a vida
  dentro de um período
  Já o morto jaz no retrato
  qual um epitáfio
  com uma cruz a encimar a cova rasa
  plantada ao rés-do-chão
  paralela à raiz vegetal
  - não quadrada ou quádrupla ou quadrática
  na Ática da matemática
  A morte é o objeto da tragédia
  - objeto abstrato ( abstruso ) :
  o morto é o objeto concreto
  empírico
  A vida evoca a tragédia 
  na tradição grega
  em coro de sátiros
  - que são entes naturais
  e máscaras mortuárias 
  ou personais  ( de personas )
  que representam com o ator
  ( morto individual )
  a morte social
  na substituição do rosto
  pela máscara da "persona" teatral :
  o drama entre o ser humano e a pessoa
  do indivíduo e do ente coletivo
  O retrato é tragédia do ser
  e do não-ser
  que são a mesma coisa 
  e a mesma pessoa
  à luz da abelha
  ( A luz da abelha
  que quero
  tanto quero
  no Quero-quero
  que atravessa o ar
  entre o anjo azul
  e o arcanjo verde
  - caído, decaído há décadas no pasto
  (Lustros entre gramíneas
  e outros rastejantes ao rés-do-chão ) )
  O retrato é uma tragédia 
  em um ato
  e um fato
  em natureza rochosa
  mineral
Degas pinacoteca vida obra pintor bailarinas artista Van Gogh vida obra pinacoteca biografia Caravaggio 
 
 
 

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