quarta-feira, 2 de novembro de 2011

MULINHA DE LEITE (carlos drumond andrade poeta itabira mineiro poema poesia alguma )

Na Mulinha de leite
Carlos Drummond de Andrade
lê-escreve-vê
poema de singeleza tal
qual flor ao luar
precariamente iluminada
no nada
nonada
tecendo texto têxtil
dado em textura de lírio lírico
palpável aos olhos
desviados mecanicamente
pelas flores que sopram em trombetas
o vento mecânico
no túnel do vento
escavada pela velocidade da motocicleta
de Valentino Rossi
ou do mártir maco Simoncelli

O leite extraído é o próprio poeta
metido no homem
postado no pasto interno da mente
externo do corpo
e mais externo ainda
em natureza de pastagem
ordenamento natural das ervas
forrageiras no pasto
verdes-pintadas pelas últimas pinceladas da chuva
com mão de luva
e olho na lupa
boca na uva
língua nos dentes...-de-leão...
( upa-upa-cavalinho-alazão!...)
- Dos cupins mais abaixo-das-ervas-daninhas-maninhas-não
no apogeu do voo as abelhas
marimbondos longos-oblongos
com asas-sem-ápice
para "apis" melífera...
Postulante à simplicidade
despojado do laço de si
solto do laço em si
por si ( de per si?! : será?!, seria?!...)
noviço em viço
a olhar horas a fio
desfiando os segundos em oráculos-do-profeta-Isaías
no relógio dos pobres
- ampulheta de terra e água na mescla da massa
que a mulinha é
assim como fora Kant
no girassol ao giro do olho
- do sol nos olhos
e nos abrolhos
do caminhante entre unhas-de-gato
observando almas-de-gato
- que fazem de mim gato-sapato
e por isso não vão para o céu
ao léu do téu-téu
dizendo o que quer
no "quero-quero!" sincero
do Quero-quero querido
aos olhos do poeta
dentro do homem
Aliás, o poeta não é o homem
e o homem não é o poeta
No entanto estão imbricados
e vida é sempre algo imbricado
com mil suturas
( A vida é esse caminhante
em contraponto
ou fuga louca-irisada
de arco-íris de Íris a Ísis
deusa e mulher-personagem
- ambas as "coisas"vistas-descritas-lidas
em literatura-lida-em-hieróglifos
para egiptólogos e linguistas
reescreverem ou descreverem em parábolas
nos olhos leitores-literatos-estetas de Champollion
sábio sobre a pedra de Rosetta
inclinado ao levante
no Egito dos dois deuses
- um na abóbada celeste
outro no Nilo-Egito-terra-e-água-e-crocodilo-do-Nilo
que também é humano ou água-terra-ou-terra-e-água )

A mula
o mulo
o jumento montado por Jesus...
( os cavaleiros do apocalipse
não virão montado em jumenta
na pia oração do profeta Oséias
um Marx bíblico em doçura de utopia
assente em Mórus
mas não nas três Moiras
a fiar na roca os destinos das gentes )

No jumento montavam os reis
para proclamar a paz
( na palavra a farsa da paz)
enquanto os guerreiros
vinham a cavalo
- em cavalo baio
para a batalha final
no Monte Megido
( A batalha ou a guerra
é o chicote cotidiano
nas prisões sociais
instituídas pelo direito dos donos :
empresas, latifúndios, minifúndios, mercados
- negros mercados para necromantes
sob cobertas da noite
ou brandos mercados
com irmandade branca da branda luz
irmanada a nada
que o peixe nada
e a mula manca)
A mula o mulo o jegue
montado pelo nordestino de terra ressequida
sedenta de justiça e glória
( em Graciliano Ramos?! )
cheia de água-de-leite na mulinha de leite
do-poeta-Carlos-Drummond-de-Andrade
- um leiteiro do imaginário
que prescinde de leiteiro real-ao-social
( o leiteiro é real apenas
enquanto ator em ricto no rito
- nu ao olho da lua
que desbarata a cena
no Maabárata-Mahabarata-Mahabharata
cujo tema nuclear é o tri-varga :
kama artha e dharma
- tudo isso em devanagari )

Sem embargo dos percalços
o poeta está ali
quedo-caído-em-libélula na água
que cerca buritis no olho
dando a umidade relativa-reativa ao ar
pondo água no leite
- com um olho no leite
outro no gato
e um terceiro olho ( "Terciário")
no peixe cobiçado pelo gato-sapato
adrede
( ao método do Karma
ou atos de desapego
ao caminho da devoção ou Bakti
ou à senda da gnosis ou Jñana
na primeira língua antes de todas as cultas
- talvez a mais erudita
e a filosofia originária
onde bebeu o grego
Sócrates bêbado!
- o sânscrito-dos-sânscritos )

Não
a mulinha do leite
nem o poeta ao longo da margem
dos versos no álveo do Maabárata
à montante e jusante
pensaram nisso tudo
que estava escrito no texto
já antes dele nascer
dar a cara ao sol ou à lua
estrelas ou outras velas
- antes do tataravô do homem
vir á roda do mundo
- o mundo!,
novo e velho mundo! :
este antigo pião de Tião!
girando a infância na criança
( criança é termo para criação do mundo para os sentidos externos e internos
ao captar os corpos fora do corpo humano
porquanto tudo na terra
é como dentro do homem
- humano! )

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