Mister não há
de alguém em sã consciência
escrever nada;
nem uma linha do lacertídeo,
o escriba das paredes,
carece das marcas
em forma de sinais
que emergem a cabeça em signos
quando o homem
pões os dedos no lápis
a desenhar símbolos,
esculpir figuras na geometria
descrevendo em parábolas cartesianas
sua rota pelas latitudes e longitudes.
Mas nada disso é necessário,
pois tudo já está escrito
pelos profetas dos tempos,
jaz nos livros iluminados
copiados pelos monges,
amanuenses medievais,
prisioneiros de mosteiros e regras,
lançados ao rol dos condenados
para servir ao sagrado,
tal qual o criminoso comum
escravo do profano,
amante do mundano,
apaixonado pelo século.
Logo, caso escreva
sujo o texto
ao apor meu nome,
que é um peixe intrujão na história,
pois o nome de quem escreveu o opúsculo,
o autor das garatujas
- não sou eu,
porém o herói
que não assinou o alfarrábio
que não assinou o alfarrábio
por desnecessário
e até leviano, fútil fazê-lo,
e até leviano, fútil fazê-lo,
porquanto seria uma fraude,
fundada num furto de propriedade intelectual,
apor nome de autor falso à obra,
apor nome de autor falso à obra,
que é de obra de Deus ("Opus Dei")
transmitida ao seu profeta
que não requer pseudônimo
nem qualquer outra expressão de vanidade burguesa
ou não-burguesa.
em texto alheio,
conquanto se creia
que o livro seja de sua lavra
ou de lagarta largada interna
( o que é mais provável),
é surripiar direitos autoraisde um herói dos deuses,
um campeão de Deus
ou do próprio Senhor do Universo
pela boca de seu profeta
e a mão do escriba erudito
que remonta a estirpe de escribas
que vem detrás dos milênios
a escrever e reescrever
as Escrituras Sagradas,
como se fosse
labor de um único escriba genial
que viveu os milênios,
não na carne,
mas na alma.
Deixa ao galo,
longe dos gargalos
por onde bebeu o ébrio
constituir seu ensaio
em madrigal para a madrugada,
pois o galo, sim,
pavoneando-se em seus cantos
é anjo e mensagem
ao abrir o dilúculo
e acordar a bela Aurora
pressurosa rosa.
Deixa ao galo
a tarefa de consertar a noite
em Concerto para Madrugada, piano e Orquestra n 1
em Si bemol menor, opus 23.
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