quinta-feira, 20 de setembro de 2012
DESIDERATO - etimologia
A matemática é uma linguagem, com gramática específica; enfim, apresenta uma norma culta, cujo escopo é o de se comunicar com a natureza ( desiderato, anelo ), dando ordens, ordenando o universo mental, intelectual, por meio de equações, cálculos integrais, diferenciais, análise combinatórias e outras expressões fundamentadas e demonstrada em teoremas, postulados, axiomas, proposições, etc.; com razão suficiente?! : princípio onde se funda a âncora da ciência. A ciência, a filosofia, a linguagem e a língua se fia todas neste princípio fundante da metafísica, que é de onde provêm a física, enquanto ciência, conhecimento, erudição.
Por ser linguagem, cujo objetivo precípuo é comunicar-se com a natureza, utilizando como ponte ou canal de comunicação os cérebros humanos ( pontilhões) treinados até o virtuosismo para a tarefa, via escrita e leitura, as expressões aritméticas vem a prescindir de vocalização ; logo, as vogais gregas, evidentemente, outrossim, as consoantes, utilizadas no seu linguajar estrito-escrito da linguagem matemática, funcionam como símbolos, jamais como signos que, necessariamente, não o são, nem de fato e nem tampouco de direito, porquanto as linguagens matemáticas não recorrem à pronúncia, prosódia, ambas originárias da fonética.
A matemática, uma linguagem no bojo de varias linguagens, sanduichadas na língua, não se foca no horizonte da prosa literária ou dramática, como sói no uso da língua, senão raramente, podendo, pois, quedar-se no mutismo, vez que são feitas apenas para a escrita e a leitura de matemáticos, exclusivamente para a leitura e escrita, tal qual dizia Otto Maria Carpeaux, referindo-se a Hamlet de Shakespeare, que dizia ser obra para leitura e não para representação, devido à sua profundidade e beleza inacessíveis ao olho e ouvidos humanos, o mesmo se dando com a Nona Sinfonia de Beethoven, que prescinde de ouvidos falhos, ainda que absolutos e podem ser "escutadas" ou "ouvidas" dentro do cérebro, de forma pura, ideal, tocando as idéias de Platão, um universo para dentro do homem em concavidade profunda.
Os matemáticos, pois, homens que se alienam do homem nesta profissão de fé, especialistas, estão, portanto, como quem lê Hamlet e escuta a Nona Sinfonia, no "escurinho" das ideias, aptos para ler e escrever na 'pauta" musical da matemática, a qual não é um código linguístico propriamente dito, porém um código de linguagem, semiótico, também, semiológico, esotérico, não acessível ao leigo, cifrado, criptografado a olho nu. Uma griptografia cujo conteúdo de comunicação são símbolos ( os signos ou letras gregas sem função linguística, porém sim função matemática), além dos sinais: sinal de mais ( soma) , menos
( subtração), multiplicação, divisão,colchetes, igualdade, sinais para designar diferenças, ou para exprimir o maior o menor,
( maior que..., menor que ...), etc.
A língua, neste sentido, é exotérica, enquanto a linguagem ( há variações múltiplas de linguagens até no bojo de uma mesma linguagem) é esotérica. Endogamia e exogamia seria uma metáfora antropológica, etnológica, boa para tentar exprimir as relações abertas ao vulgo ou fechadas num jargão comunitário.
Esse aparente descaso em relação à fonética, na matemática, lembra a mesma atitude do hebreu ante a pronúncia do nome sagrado de Deus que, em hebraico, era escrito apenas com consoantes e, destarte, tornava proibitiva a fala, que é o canto, a vocalização, a entonação, do nome sacrossanto de Deus, Jeová, Javé, o qual ficava guardada num profundo e misterioso, respeitoso, temeroso silêncio, nunca interrompido, jamais rompido. Quiçá tenha uma pitada desse hábito religioso hebraico no quase silente, silencioso "alfabeto" matemático-algébrico-aritmético constituído de signos gregos que cumprem função de símbolos, - símbolos contextualizados para linguagem matemática. Talvez seja isto : uma reminiscência das consoantes que não deixavam voz ( vogais) para pronunciar um temerário "Javé", mas sim emitir um respeitoso e temeroso "Adonai". Isto pode ser objeto gratuito de especulação ; especular, inobstante, sem entrar em transe com viagens mirabolantes, cerebrinas, na companhia de nefelibatas inveterados, contumazes.
O idioma não somente pressupõe uma gramática, mas é também uma semiologia ou semiótica, pois se vale de um vasto código de comunicação : vestuário, gestual, expressões faciais, tatibitates, cacofonias, danças, andanças, muxôxos, caras-e-bocas e de uma infinidade em finitude de signos e símbolos, com predominância ou prepoderância dos signos ; enfim, uma gama de expressões, um vasto repertório de linguagens que, coladas, em colagem, possibilitam a expressão de ideias, fatos, pensamentos ou qualquer tipo de comunicação de várias maneiras, em um número enorme de linguagens e às vezes até envoltas em formas contrapontísticas, paradoxais, antitéticas.
As linguagens, por seu turno, se restringem aos seus objetos e são essenciais à prática e práxis da ciência, considerando que prática e práxis tenha seus senões conceptuais, como modo de comunicação do objetivo ou finalidade divergente ou próxima à discrepância irreparável, irreconciliável, caso a caso.
A física, a química, usam quase a mesma linguagem matemática; no entanto, a química, por seu objeto diferente da física, se utiliza da geometria e da geodésia de uma forma diferente da física, pois seus objetos não são o mesmos, porquanto não são duas ciências ( não existem duas ciências), entretanto são duas ou mais linguagens a se exprimir sobre o objeto em foco. Outrossim, os objetos são dois, ou uma gama infindável deles, assim como de linguagens para expressá-lo e nomeá-los, cada um para cada linguagem destrinchar, placidamente, conforme a inteligência que se declina sobre os objetos e domina suas diversificadas.
A ciência, por linguagens diferentes e refinadas para determinar objetos de estudos, têm em mira objetos diversos, o que dá a ilusão que temos mais de uma ciência, quando o que temos é a mesma ciência, com uma linguagem específica para cada forma de objeto, utilizando-se de modificações sutis na linguagem matemática, geométrica, geodésica, etc, a fim de se coadunar-se com o objeto enfocado.
A ciência se desdobra em objetos, porém não em objetos e ciências, pois não há ciências, mas uma única e una observadora do ser ; - do ser, outrossim, uno, todo (pan), na certidão lavrada por Parmênides, o eleata; o que há, além da pluralidade de objetos, são as linguagens para exprimir e estudar os respectivos objetos e as filosofias, as quais são partidas por lote de cérebros e tempos escritos : história. As filosofias, sem embargo, são tantas quanto as subjetividades, assim como as artes, a poesia eterna, furtada, furtivamente!, da mente de Deus.
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