segunda-feira, 13 de outubro de 2014

BACHIANAS, BALZAQUIANAS - verbete wikcionario glosssario



Corpo hirto em um esquife :
esta uma definição de morte
( ou da morte?!),
Porém, não um definir somente,
mas um definhar também
com rumo de demonstração 
através da ciência cênica do deus Thanatus
versus ciência cínica do homem do vulgo,
que não se beneficiou da leitura de Aristófanes
ou do espaço de teatro cômico 
aberto em anfiteatro na Hélade,
o qual adorna Adorno,
Theodor que odora
o objeto noemático de Manuel Bandeira,
num ligeiro estro 
que cria Teodora
a quem o poeta assevera que adora,
mas cria um impasse 
com a noese do vulgo,
cujo vulto, transtornado em médico e monstro,
na parede iluminada à vela,
faz a cunhagem dessas moedas mentais
que mentiram, pois este é seu exercício noético,
vez que não são "noetós"
como o fora Theodor Adorno
um dos expoentes da Escola de Frankfurt,
mas pessoas alienadas 
enquanto objetos no mercado
de ataúdes, alaúdes
para roçar a mente de Maria de Lourdes
e outras personagens de exéquias,
cuja Vela padrão não são os cadáveres
tampouco as Cefeidas
( variável Cepheid ou Cepheida),
cujo protótipo é a Delta Cephei
e Alderamin, Alpha Cephei,
Constelação Cepheus
que segura o último suspiro  de mãe
no céu noturno
e na vela que tange do cais do porto,
enfunada pelo ventre do vento
em veleiro velado,
que leva, cegonha, a alma de minha mãe
pelos caminhos traçados no Livro dos Mortos
do antigo Egito,
que se evangelizou
Nos Evangelhos que a Vulgata 
trouxe do latim vulgar
à treva do vulgo ignaro  e brutal.
( Tudo em toda fuga,
sem Bach ao Clavicórdio ou Cravo,
para fugir do velório
e sua brutalidade mediana,
sua tortura de inquisição,
santo ofício que sobreviveu também 
na medicina e outras práticas burlescas,
quando o médico, o juiz ou advogado
não é mais um ser humano livre
até de  si e de seu topete
e sim representa o clube inglês dos alienados
atores sociais, que são as pessoas(personas,
- jamais gratas, mas mui desidratadas)
Atuando no papel ( papelão!) 
De inquiridores de dores,
inquisidores sem quinze dores, 
sobre os quais não há
um só que se lhes apiade.
 
Alaúde, Alaíde, para a elegia
de Maria de Lourdes, minha mãe!
Porquanto volto a ouvir
o silêncio pesado e plúmbeo 
que vem dos céus
não mais mimado no anil
do violinista azul,
mas um silêncio ranheta, rançoso, rancoroso...
sem rabeca, sem Rebeca, sem rebento primaveril...
ser vi, servil, subserviente...
 
Um ataúde não é uma alaúde,
pois na operação de se mudar o fonema
deixa-se mudo um artefato
mas não emudece o instrumento musical
que canta em outro artefato cultural
- "Presto", prestíssimo
 para as exéquias que se seguem
Em ritmo de rito
e rio doce seco no álveo abandonado a nado.
Já o alaúde é um instrumento melódico,
módico( modal?) ao modo
da família dos cordofones
e seu timbre 
cabe na alma do mel;
por isso, a  melodia,
de-dia e noite-e-dia
toca à Via Sacra
que terminou para Maria de Lourdes Gribel,
porém continua para mim
no alaúde que pude 
por em arranjo de aliteração
“Apud”e ao modo de Cruz e Souza
de trinar, doutrinar, limar...
.
Toca alaúde, Alaíde,
para Maria de Lourdes
que viveu ( viva!) em virtude,
E jaz agora em mansuetude
de arroio que brinca de saltar seixos
e pedras nas perdas da madrugada,
nas pedras de Pedra de Maria da Cruz,
 Dada, se douda a falena
 nas asas da madrugada,
 a prantear com aljôfar
o morto fora do porto do corpo
e, outrossim, o vivo nas flores singelas,
vivazes, assaz nos lilases das "Liliáceas"
que abrem  os caminhos
às veredas com buritis...
( Buritis tem dois "tis" em "Titi",
irmão de mãe).

No que tange ao ataúde
 que, no árabe grafado,
também aponta para a substância da madeira,
matéria em celulose,
é feito para guardar a morta
desatada do contorno melódico,
conquanto ainda esteja
atada ao lúdico,
mesmo o mais módico
que chega  a beirar
o beiral do silênco
com andorinhas pardacentas,
no qual pousam em cantochão
distante algumas jardas de mosteiros,
 abadias frias dadas em côvados covardes
e conventos, que há de convir,
são cenóbios,  casas cenobiais, monastérios,
lugares para vida contemplativa
daqueles monges com face de terra
e daquelas monjas que amam a Deus
sendo reciprocados 
pelo amor de Deus,
ó  amados e amadas,
que o são no sal da vida sã, santa, sanada...
O alaúde tem abelhas
tecelãs terceiras das ligeiras
Ordem das avelãs e amêndoas
e  do mel que doa da lã melódica,
lânguidas, longas melíferas colmeias...
lançadas do cântico do alaúde
que eleva a alma da minha mãe
ao espírito que se esvazia
nos foles de Deus, do céu,
os  quais se expandem em plenos pulmões
com a música da sanfona ou acordeão
que acorda o acordo
na corda musical do pacto
que o senhor mandou sangrar
para poder assinar
com o sinal de sina do arco-íris
que conta ariris (patoris)
em bandos na neblina matinal
pelo grito nos céus azuis ou cinzentos
acima de telhado gris
que rebaixa os anis
ao nível dos homens vis.
Alaúde, Alaíde (ide!)
A prantear pelo caminho do mar
o passamento de minha mãe,
 Maria de Lourdes,
senhora dos alaúdes,
- que eu a nomeio assim
com minha autoridade de homem livre
das peias e doutrinas sociais.
Entrementes, se é a  vida da minha mãe
que me escapa pelas frinchas dos dedos
no tempo serpenteado pelas areias
divididas na ampulheta do homem
e soltas no Relógio de Areia do cosmos constelado,
tal qual um Adão com costela,
no período das águas,
com a clepsidra humana
separando águas de tempo,
- Nos instantes de luz...:
que fazer e a quem instar
Neste instante de Deus-me-acuda
Com a saracura?
E a  que deus, instância, entrância celeste...?!
A que lua, a que loa, 
- a que ladainha recorrer?
se o tempo em minha mãe
se transmutou em pedra
e de tempo involuiu para templo
tal qual o sangue do Mar Vermelho do corpo.
Toca, Alaíde:
Toca o alaúde.
Toca um alaúde
Da ala de lá
Onde gira o gavião no céu
- descorado, sem lápiz-lazúle...
Sem lápide que lapide,
Nem se apiade  do infeliz
Ante o lugar denominado "Gólgota",
Golfada a golfada 
de sangue em doação ao pó
Que, arredemoinhando-se ou endemoinhando-se
no silente em si menor do redemoinho 
que mói a mói,
sibila no silvo da selva
que silva na serpente
envenenada por peçonha inimiga.
.
Posto o morto,
no caso, a morta, 
na enseada da morte,
em que porto
irá aproar, ó Eloá?
Em que momento soçobrará?!...
Ou já soçobrou com a nau corporal,
projetada por Salvador Dali
em sua  demência plena,
preenhe de genialidade.
 
Vá, alaúde,
Toque a Alá,
O clemente, o misericordioso...
 
Posta a morta
a que porta
baterá?
À porta torta do batel
- que naufragou
e nem tinha porta
ou porto seguro
Onde atracar?!...
- Aonde ir,  fugir,  se  à deriva...
O ataúde atou o corpo
de minha mãe
e o arrastou "redemoinhando"
para os subterrâneos
onde não há Hades,
Há seol
e há-de haver catacumbas,
rio Estiges, barcas e Carontes.
O ataúde, seu derradeiro barco,
 tocou-lhe a alma de alameda longa
que subiu aos céus
para encontrar um reino
todo dela,
todo mãe,
pronto e à espera
de sua soberana,
desde o rasto na areia
dos pés do primeiro tempo

em que ela pisou
na cabeça da serpente,
que é a vida :
mixórdia ou mescla de peçonha e remédio.

Mas se haverá céu e céus
nas acepções das palavras
para além dos azuis,
- o que não haverá
 senão todo o impossível?

No céu que creio
está o sol
plantado com se fora
um olho ciclópico,
o mar embaixo a remar

na preamar, baixa-mar...
e o luar encimando...- tudo,
porquanto  os deuses saem e entram em mim
assim como emergem as ervas da terra,
as víboras das tocas...
Ismália da loucura trágica
narrada dramaticamente
pelo poeta Alphsus de Guimarães,
um 'Pobre Aphonsus, pobre Aphonsus!"
no dobre de finados dos sinos
que anuncia minha mãe...
no rito iniciático prescrito 
no Livro dos Mortos.
Um livro que não a livra...
do rio de pó da morte.
 
Toca, Alaíde,
O  alaúde choroso
Que rompe a barra da alva
Com uma flor de laranjeira
A ser entregue a ela
Que viveu e foi  vívida e vivida
No amor que encarece os dias
E aquece as noites
Nas labaredas do afeto.
Lareiras natalinas.
Toca, alaúde,
Toca a esmo
Uma canção composta por si mesmo:
Um alaúde cantor e compositor,
Poeta em letra de anil.
 
Deus deixa a caverna
que tenho dentro de mim;
sai silente com  o querubim e o serafim
da sua comitiva divina,
com seu séquito angélico,
tal qual saem corujas, mochos e morcegos
de seus valhacoutos.

Contudo, a única fé que tenho,
trago-a em mim;
a única razão em que creio
e com a qual mensuro e conto
está dentro de mim :
o resto é xarope de groselha
para inglês beber.

Minha mãe faleceu;
no entanto,  metade do corpo dela
( corpo vem com água de alma e alga,
espírito de fogo)
foi deixado de legado vivo
em meu corpo,
pois a outra metade do meu organismo
pertence ao meu pai,
continuando, pois, o casamento deles
a viger dentro do meu corpo.
No que creio
é que minha mãe
que acabara de falecer
tem uma metade em mim
que a morte não pode levar
nem com seu exército bilionário de bactérias,
- pois metade do seu corpo
( e no corpo vai alma em água
e espírito em fogo)
ela me deixou de legado vivo :
- a metade do corpo que fora dado a ela
na herança genética.
Na outra metade do meu corpo
vive meu pai,
ambos casados
em corpo, alma e espírito
dentro de mim!

Do exposto, depreende-se que a metade
que foi pasto das bactérias comensais
pertencia a ela
- que teve que morrer pela metade,
pois a morte não se completa
senão depois de largo ciclo de vida
quando a outra metade morre
em todos os filhos e netos,
bisnetos,  tataranetos...
- e vai gerações! quase sem fim
a cavaleiro do fim. 
Cata, alaúde,
Nos cantos noturnos
O gosto de fim em mim
Que vaga pelos cata-ventos do imaginário.

Ao ver minha mãe no "sarcófago",
contemplei pela terceira vez
a minha própria morte,
ainda de posse da consciência-corpo
que me faz recordar
da minha existência 
- até o dia do Senhor,
quando meu corpo for desconectado
do aparato vivo  da natureza
e minha memória corporal
fugir pela janela
Através de uma rede de falenas
Que levarão minha memória consciente,
A qual multiplica o milagre
De abrir minha consciência
No encadeamento de atos e fatos
Que constituem o tempo:
O tempo do ser é o presente,
- o resto é tempo sem  ser.

 
Antes do passamento de minha mãe
assisti meus passamentos em minha  avó 
e posteriormente em meu pai...
corpos vacantes no deserto sem água,
sem batismo de profeta João...
 
Toca, Alaíde :
Toca alaúde...
Toca o alaúde,
Um alaúde toca,
sai do breu da toca
E a garra da noite se fecha,
Hermética:
Hermética hermêutica
é a morte e a vida.
A existência : tensa exegese
sem nenhum exegeta que a possa desvelar.
Todavia, meu coração
ainda tem a batida 
que percutia o peito
quando em presença dela
com o ser emitido pelo fogo,
pela água, pela terra 
e pelo ar
que sabe a saxofone
na inspiração que compõe
E espalha a vida 
na forma de melodia
em corpo de erva
que engole o sopro angélico
e devolve a expiração 
que leva ao mundo extra-corporal
o timbre do saxofone
e a derradeira melodia da alma
que sai da prisão do corpo
pelo sopro que dá fuga à alma.
(Fuga que Bach comemora
ao Cravo bem temperado)

Seria a vida um Cravo bem temperado por Bach-Deus
Ou Deus-Bach, Bachianas, Balzaquianas, Anas...- Bolenas?"...


Ficheiro:The musicians by Caravaggio.jpg
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