terça-feira, 22 de março de 2011

CASA DE POEMAS NA POESIA DE ADÉLIA PRADO

A casa amarela à capela /
sem arranjo de banjo de anjo ancho /
arrasta entardeceres anoiteceres amanheceres /
o ser que seja no tempo /
que venta folhas amarelas do outono /
e mora do outo lado do amarelo florido /
adejante em borboletas /
pictografado nas borboletas amarelas /
paralelas ao conceito do vôo /
também esvoaçante ao vento do azul-pomba /
no céu enrolado em anil /
( o rolo de anil ou o pergaminho azul ) /
de uma ternura feminina /
na poesia visceral vegetando em Adélia Prado /
( Poesia vegetante-vegetativa de Adélia Prado ) /

A casa é oca no espaço cavado por dentro /
( oco cavado no amarelo /
amarelecido pelo tempo /
com sua sua brocha ou pincel ) /
- casebre oco por dentro do côncavo /
escavado em arqueologia para paredes nuas /
cova para semente /
seminal vácuo /
- casa cavada na veia cava /
que não cava a cova /
- cava a fava ( Vicia Faba ) /
de extensa família botânica enramada no chão /
- a família "Fabaceae "/
família das leguminosas ( "leguminosae" ) /
onde estão o feijão ( "Phaseolus vulgaris" ) /
a ervilha ( " Pisum sativum") /
a alfafa ( "Medicago sativa" ) /

Casa é túnel /
( cavado pelo poema de Adélia Prado ) /
abrindo-se à entrada da mulher /
escavada na rocha geológica /
de objeto arqueológico em egiptologia constante /
no "pi" radiano e na equação de Planck /
quantificando a frequência da luz /
( Mulher é ser não-lido /
- ilegível ser indescritível /
não decifrado na Pedra de Roseta /
- Esfinge respirando as areias do deserto /
aonde Jesus foi para ser tentado /
e Santo Antão também ) /

Casa é ser côncavo aberto ao ser convexo /
coabita na caverna que alberga a virgem transpassada e o varão /
que cava e cabe no interior das trevas /
em energia escura do buraco negro /
de onde se origina o universo /
pela explosão de partículas cósmicas /
a qual precede a luz /
mel de abelhas enxameadas em galáxias chiantes com rãs palustres /
paul pântano charco /
charneca em flor de Florbela /
( Casa é mulher /
a mulher sempre é a casa /
e uma das colunas /
que segura o teto e o arquiteto /
mesmo depois da fuga do arquiteto /
- da outra coluna /
- da coluna Boaz /
que ela é Jachim /
e sustem o teto e o arquiteto /
sob o teto que Sansão não derrubará ) /

Mulher é casa não infensa à demolição /
cabana choupana chalé palácio castelo /
túnel escavado por dentro /
- túnel escavado pelo arroio geológico e arqueológico /
onde cabe um varão vigoroso /
e posteriormente o deus menino Amor /
que o mancebo esquecera em semente na terra santa /
e trouxe como guirlanda de flores ao ventre materno /
- a terra dentro da terra /
- terra interior /
no mais interior da Terra /

Verseja Adélia Prado /
escavando a idéia de túnel e exílio /
mulher adentro /
no seu descampado de poetisa que pisa erva /
dança em cima de ervas daninhas com boninas /
e sobe com o lagarto pela hera /
ou às costas da liana que toma de assalto a muralha do castelo /
- a fortaleza aonde se escondia /
o senhor de baraço e cutelo /
sonhando ser o dono do mundo /
no interior do ventre do castelo /
onde dorme em posição fetal /
e sonha no escuro /
de um sono que não permite ao feto /
abrir os olhos /
antes de emergir à superfície /
onde o sol bate na água /
- num toque de tambor /
percutindo o som que produz a mão-de-luz /
no espaço exterior /
onde se vai paulatinamente fortalecendo no amarelo /
cor vital refletida na luz do vitral /
da gótica catedral /

Entranhado no amarelo /
a casa de poesia de Adélia Prado /
brinca de esconderijo no amarelo /
amarelecido na amarelinha /
- casa de brinquedo /
e bonecas do milho ao vento /
que sopra o milharal /
à maneira de um moinho de vento /
ou dos fios de madeixas fulvas /
no único pé de milho grafado em signos por Ruben Braga /
um poeta adejando com a borboleta amarela /
- que espoleta! /

Não obstante sei /
que naquela casa para o amarelo subir nas paredes /
de tanta alegria! /
há outrossim a dor /
que amarela os lábios /
porque o homem é o Homem das Dores /
flagrado pelo profeta Isaías /
cujas piores dores não doem no corpo /
pois são dores morais /
floridas na lírica intimista /
vazada em lírica intimista /
- e a mulher é o mesmo ser /
com outra planta no corpo /

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