quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
REX: O CÃO DE MEU PAI
O ser humano livre /
é aquele ser despojado /
que não se preocupa nem consigo mesmo /
pois está em paz plena /
com o seu universo interior estruturado na saúde completa /
de corpo e alma sãs /
- corpo santo e alma beata /
no nirvana dos santos orientais /
e na saúde despojada de São Francisco de Assis /
ou santo Antônio antes da hidropsia /
O ser humano assim saudável é o santo /
salvo o corpo e o espírito /
com a alma plena de vida /
sem os incômodos e os cuidados /
que a doença traz /
junto com o médico e o monstro /
e seus ademanes /
( o monstro é o conjunto das drogas farmacológicas /
- a farmacopéia do demônio /
e o médico a pobre pessoa que nada sabe sobre o corpo individual /
mas antes sobretudo sobre o corpo da sanguessuga /
ou do corpus aristotelicus da doutrina médica /
ou um abstrato corpo humano inexistente entre os fatos /
meros atos do pensamento sonolento /
dentro do ovo dos sonhos paranóicos de Salvador Dali /
operando o olho e o olhar de Lacan /
ao som formal e pictórico do método crítico-paranóico ) /
Já o ser humano santo ou são /
ou saudável em espírito corpo e alma /
é o santo canonizado pela natureza /
única igreja da vida /
capela da alma santa /
O santo é livre / livre principalmente de si /
pois somos a pior prisão para nós mesmos /
( a pior masmorra e a mais sombria /
está nos nossos porões ) /
O santo anda alheio a si /
e em aparente paradoxo arraigado ao seu interior /
com radical de erva ou árvore frondosa /
enorme abacateiro ou doce cajueiro com os braços abertos em cruz no cerrado /
ou ipê roxo circundando o espaço com suas flores belíssimas /
Em paz com o universo interior /
o homem são volta-se para o mundo exterior /
onde ouve pássaros gorjeando /
e pessoas infelizes pedindo socorro /
( amoroso e feliz ser /
o santo pode se dar ao luxo de cuidar do outro /
pois está resolvido em si ) /
O homem santo se volta para fora de si /
para o mundo exterior /
uma vez que seu interior é um cosmos /
um todo hamônico e melífero /
sem quaisquer laivos de carência /
( Ao homem de verdade /
aquele que atingiu o ápice do seu ser /
galgou o supremo de seu ser /
basta conseguir amealhar o máximo de inteligência /
durante o curso da vida /
bem como o que puder de liberdade /
em uma sociedade de condenados às galés /
que somos todos pobres ou ricos /
sábios ou tolos /
poderosos ou frágeis criaturas sem destino no livro da vida /
e saúde total /
porquanto a saúde é a coroa do rei da vida /
única coroa que vale a pena ostentar /
conquanto com a modéstia suave /
que caracteriza o senhor da vida /
abaixo apenas do Senhor Deus dos Exércitos /
do clemente e misericordioso Allá ) /
O doente é o antípoda do homem santo /
O enfermo de corpo e mente /
se fixa no seu próprio ego /
no pequenino espaço que é o ego /
que nada mais é que um mísero momento no tempo /
porquanto o ego é apenas um pedaço diminuto /
em comparação com o ser /
que abarca o universo inteiro /
por fora e por dentro /
em todas as galáxias interiores e exteriores /
que demandam estrelas e constelações /
e super novas e quuasares e cefeidas /
com a vela padrão na mão /
No santo cabe o universo /
no verso e no anverso /
e ainda sobeja espaço e tempo /
para universo paralelos sem fim /
pois se há algum universo paralelo /
é o universo bolha que crimaos desde crianças /
quando em menino sopramos /
o que é anjo de verdade /
que na infância tudo é mais verdadeiro /
mais real que o espaço e o tempo posterior /
tem um teor de verdade e realidade que está nos sentidos /
como jamais estará depois da cobertura cultural /
a qual é um bolo confeitado que embota tudo /
desfigura e configura os sentidos /
no âmbito dos interesses dos donos da sociedade e da cultura vigente /
que envia ao verdugo ou ao psiquiatra /
quem não anda conforme a marcação do passo pelos grilhões nos pés /
( diapasão social ) /
e a máscara de ferro na face da personagem /
que toma o lugar do homem no anfiteatro /
Tudo o que ocorre na infância /
tem uma sobre-realidade /
(uma supra-realidade em camadas sedimentares ) /
que depois não existe mais /
O cão policial que apareceu lá em casa /
quando eu era uma criança /
Chamando nomes de cães /
meu pai chamou "Rex!" ao animal /
que de pronto atendeu ao nome /
e assim ficou sendo chamado /
Nunca mais houve outro cão mais real /
que este foi presente na minha infância /
o cão que acompanhava meu pai /
nas suas caçadas e pescarias à beira do rio São Francisco /
que nesse corpo líquido /
corpo de água /
não tem como o escabelo dos pés a cidade de Assis /
O cão companheiro de meu pai /
é mais real e realista que o rei /
e que o vocábulo "Rex" do latim /
pois ele vem lá da tenra infância /
da terra no corpo de um menino /
que olha o mundo com os primeiros olhos /
os primeiros ouvidos /
para violinos Stradivarius ou Amatis /
- as primícias /
as primícias que são reservadas ao Senhor Deus do universo! /
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