sexta-feira, 30 de julho de 2010

HISTÓRIA : LOUCA ISMÁLIA DO "POBRE ALPHONSOS"


Toda história é penteada como a louca /
a desgrenhada /
- a desgrenhada Ismália! /
solta em Cabeleira de Berenice /
ensandecida Ismália /
cabelos penteando a lua amarela no plenilúnio /
( lua que às vezes ganha um carmim de carinho )/
ou a lua branca do novilúnio /
- louca Ismália! /
saltando do poema do pobre Aphonsus /
com seus responsos de sino no coruchéu /
para este abismo de poesia aberto aqui /
com rima para o mito herbaico de Lilith /
cujo corpo jovem e sedutor enrosca uma serpente /
( flexuoso corpo luxurioso /
pura luxúria em pecado /
que secreta a peçonha da víbora /
que inocula a morte na alma /
pelo mar vermelho do sangue ) /
traduzindo todo o poder sexual feminino /
na força da píton e da pitonisa /
que a mulher abriga ambas /
sob a alma em umbela /
albergando a sombra /

Toda história é uma loucura escrita /
e muito mais : uma moira não escrita /
que ronda o pensamento desde os gregos filósofos /
- em pós dos quais não houve mais contexto /
para filósofos e filosofias /
mas decrepitude em teólogos /
e doutores com títulos /
- titulares do Direito às sandices de Ismália /
quando ficou louca /
e deixou de ser rainha /
que é o que toda menina /
antes que o destine sopre um vento sem folhas ao vento /
- vento sem moinho de vento ou coqueiro /
- palmeiras ao vento para dar adeus com as palmas /
verde palmas que aplaudem o passar da ventania /
e o ficar do coqueiro com vespeiro de negros marimbondo /
embora eu ame as vespas pintalgadas /
pequeninos marimbondos xadrez ou pedrês /
na arte natural pensada por Deus /
e executada com os violinos de suas mãos /
- que são as mãos da natureza /
as mãos do próprio Deus /
executando pensamento de engenheiros a tocar violino /
com Deus de violinista azul para o céu /
e violinista verde para as ervas daninhas /
cá na baixada da aldeia aonde desceu Marc Chagall /
no pára-quedas do arcanjos descaídos /

A história de uma vida /
é um complexo impossível de ser lido /
- para depois ser escrito /
porquanto a demência não é captada /
pelos sentidos e inteligência vigilantes /
uma vez que o contexto é véu para a inteligência
( nem se lê porque não há contexto /
que passe de um indivíduo em sua experiência vital /
a outro indivíduo frio /
fora do fogo que cozeu aquele contexto único /
moldado num único indivíduo /
- que fez aquele pensamento e sentimento /
que juntou aquele sentimento e pensamento num cadinho /
cujo fogo uniu indissoluvelmente /
paixão e razão /
formando uma inteligência única /
oriunda daquela união vital estável /
para toda a vida /
casada num indivíduo ) /

A história trágica de Ismália /
que lamentavelmente enlouquece /
talvez em preto e branco /
no jogo de xadrez do dia da casa branca do sol /
para noite negra no frade e no monge dominicano /
quiçá numa noite aberta ao desespero em alcateia /
do tempo que se moveu do anil ao anum /
no céu e nas coisas e seres abaixo de azul /
- a tragédia de Ismália /
é a tragédia que todos nós /
podemos encontrar num abrir de portal do tempo /
no espaço-anfiteatro escavado na rocha do tempo parado em pedra /
para encenar a nossa tragédia /
- que um dia ou noite virá /
em xadrez de galos na madrugada com lua calada /
ou em dia claro voante em anil antes do corpo negro de anum em bando /

Nenhum comentário:

Postar um comentário