domingo, 27 de abril de 2014

ANFITRIÃ(ANFITRIÃ!) - verbete wikcionario etimo


Um adulto.

Em que pese
Esta  a tese
De minha mãe
Sobre a morte
De minha avó.

Vovó  acendia
Todo ano
Para cumprir promessa, creio,
Ou por ser viúva velha, imagino,
Uma fogueira a São Pedro
Final do mês de  junho
Quando o frio tiritava na gente.
Comparecia mãe, pai e suas crias,
Que éramos nós:
Irmãs, irmãos e eu
( eu sem mim não posso ser...
- dramático!).
O filho de vovó,
Meu tio ( único tio que tenho,
Único filho homem dela nascido)
Também vinha
Acompanhado da  família :
 esposa  e dois filhos,  à época,
depois  nasceu um terceiro,
Mas não sei se este caçula participou
Daquele fatídico São Pedro
Sem graça ou garças.
Esgarçadas nuvens,
Foguetes de meu tio,
Que espocaram,
Cerveja jorrando em torrente
 goela abaixo de meu progenitor,
 pipocas, bombas,  traques ...
- E truques na convivência política
A conservar em face
A máscara salvadora da hipocrisia
Que encobria o monstro nosso
E o de Frankenstein,  que irrompeu
na obra de Mary Shelley,
Escritora inglesa de plenos foles
Para estória de terror,
 esposa do poeta   Shelley,
esteta de gênio,
Amigos de Lord Byron,
Notável  literato europeu,
Cheio do “mal do século”
Que pode ser lido
Nas  “Confissões “ de Alfred de Musset.

Sei que num depois de um tempo de alegria solta
Meu pai e meu tio ou brigaram entre si
Ou foi com um estranho que se intrometeu na farra,
Pois o quintal era protegido
tão-somente  por uma cerca de arame farpado.
Lembro , também, que minha avó
Muito se aborreceu,
Mas como era boa anfitriã(anfitriã!)
Mesmo  tendo sob tenda
os piores caracteres humanos
Apenas tangeu  todos os convivas para fora
Com maneiras elegantes
De grande dama nobre
Que tange o alaúde
Com esta  cantiga de roda ,
Que segue cega:
“Acabou a brincadeira, olê, olê, olá...
Acabou a brincadeira olê  seus cavaleiros!”
( Ou seria “cavalheiros” que,  no caso, nem o eram,
Senão de Triste Figura).

Foi a última vez que vovó
Acendeu  fogueira ,
Pois no ano seguinte ascendeu sua  alma
De seu corpo morto
Ao horto das ermitoas.
Nenhuma  assunção,
Pois era uma senhora real,
Não  uma senhora mítica.
Porém isso é tudo o que dói:
A realidade ou realeza  majestática da morte.

Neste jogo de xadrez
Que a fogueira de minha avó
Pintalgou na luz e nas trevas,
Que dá e tira a vida do vegetal  ao homem,
No jogo de xadrez
De  luz e sombra da vida e morte,
Pode-se analisar friamente o caráter de cada presente
Naquela noite que dorme na minha infância,
Mas ainda sonha com minha avó viva
Junto à minha mãe
Que acabou de perder a alma
Arrancada do corpo
Pela operação cada vez mais comum
Da  iatrogenia, doença da medicina
Em contato e colisão com laboratórios
Produtores de remédios
Não para o corpo,
Mas para o acúmulo frenético do Capital.

Depois de algum tempo
Que minha  avó faleceu,
Mãe me confessou no século
Que com aquela cantiga de roda infantil
Vovó prenunciava sua morte para  breve,
Pois estava com câncer no reto
E eu, criança, de nada sabia,
Mesmo porque criança não crê na morte
Dos entes queridos.
Jesus não ressuscitou?!  Então!

Todavia, em que pese
O pesar da morte de vovó
E de mãe há um átimo,
Esta a tese de mãe...
- a tese de mãe que posso revelar,
Pois não desejo desvelar a face do mal
Por detrás da máscara de ferro
Dos condenados prisioneiros do século.
O mundo  construído pelos homens
Não passa de uma leva de prisioneiros :
Os criminosos poderosos mandando meter a ferros
Os ladrões escorraçados do poder
Ou alijados do mundo social e político
Desde  nascituros:
Essa a parte do  direito,
Direito das obrigações e penais,
 que  resta aos nascituros pobres
e aos  “Miseráveis” de Victor Hugo, poeta francês
que não se olvidou do Corcunda de Notre-Dame
de Paris e de Brasília.
( Isso pode dar em quadrilha :
Marli amava mãe
Que amava vovó
Que me amava ( creio)
Que não amava ninguém
Porque era criança
( eu era “um pinto feliz no lixo”,
Ciscando, comendo minhocas, insetos,
Estudando besouros e saúvas...
Hoje ouço “Besouros” ,
“Os Besouros” que cantam em inglês)
E criança é espontânea
E não sabe o sal de amar,
Mas mais que amar
Sabe e prova outros sais minerais.
Marli casou-se com seu marido,
Mãe morreu,
Vovó já havia morrido
E Sandra, que não tinha estrada na história
Pisou  firme na senda
Ao mandar fazer  uma tatuagem
Na qual  exprime  seu amor imenso,
Mar oceano,
E  eterno por mãe.
Eu, pusilânime, não tive coragem
De cortar na carne
E , por isso, cortei neste espaço virtual
Onde não há pacto com o sangue
Nem arco-íris que lembre a Iris dos olhos
Que houve um pacto divino
Entre Deus e Noé
Depois que a pomba voltou
Trazendo a paz no voo
Em forma de  talo de capim verde
Trazido no bico
Que costurou o acordo
Entre o sol e a erva
- na clorofila que alimenta a vida).
 Ficheiro:Rock dove - natures pics.jpg
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