Pan, o deus Pã, o terror pânico, é, nesta última versão da palavra,
realidade. Não há tervigesar, o pânico ou terror pânico, é o Pã grego ( o
Peter Pã?! ) e a Síndrome ou Transtorno do Pânico, no jargão do médico e
psiquiatra. Cada um com sua linguagem, configurando o objeto, da
ciência, do mito ou da práxis, na neurose ou psicose, no mito, que
configura a linguagem, e no rito que configura o espaço geométrico na
dança, música, drama e demais representações dessa práxis, que é o
ritual, dentre outras
inúmeras linguagens para objetos, dado pelos aparatos linguísticos do
discurso, na palavra falada, cantada ou escrita e a práxis que desenha o
ritual religioso , social, político, científico, enfim, o teatro posto
no drama ou rito ou práxis do que se pensa.Cada linguagem ou ciência
nomeia ( dá o "nous", ou inteligência ) do seu objeto, que é diverso,
tanto quanto o nome e a
figura geométrica no espaço vago e sem formas dos conceitos
transferidos pelos vocábulos.Dentro da engenharia há uma práxis, assim
como também na ética, no pensamento e em qualquer atividade humana : é
como a política que está presente em todos os relacionamentos humanos.
Onde há dois, duas pessoas, representando seus papéis no drama social,
há política e práxis, obviamente. O mito social está inseto no drama
coletivo, o qual é seu rito. Essa é uma fórmula universal para todos os
dramas representados numa determinada civilização.
O objeto interiorizado e posteriormente alienado na exteriorização ( a
neurose, ou psicose, a histeria, por exemplo) mostra dois Pãs, ou
espécies da divindade, ou dois "medos-Pã" : um Pã introjetado ou
introspectivo, não alheio, mas apegado ao pensamento, fechado no
pensamento humano, sem saída, num labirinto para patas de Minotauro...; e
outro (Pã) alienado no mundo ou extrovertido, fora ou expulso,
regurgitado do pensamento para a técnica ou para o que há no mundo das
coisas fora do pensamento humano, embora concebido por este pensamento,
com as instituições, as invenções técnicas, tecnológicas, os artefatos,
enfim, técnicos ou doutrinários, tudo no sentido em que Jung colocava
a linguagem, ou sua ciência, dando as duas faces da mesma moeda : o
introvertido e o extrovertido, dois Narcisos no espaço do espelho ou
lâmina d'água do fosso.
As doenças todas estão sob a insígnia ( ou égide ) do deus Pã ; há mais
pavor que
doença; aliás, o que há é o medo Pã, como doença e sintoma ou
semiologia; o que há de fato é o doente que se fabrica assim para o
médico de plantão, exceto nos casos de acidentes; outrossim, no que
tange aos remédios, drogas ou fármacos, o que há é mais placebo e
sugestão e auto-sugestão do que imagina a vã
ciência não aparelhada com linguagem apta a observar certas realidades e
objetos
dessas "certas realidades" suprimidas da linguagem ou não supridas por
elas. É como se falar em mundo paralelos : há linguagens paralelas
( e
amarelas de impaludismo!).
Os médicos, em geral, não sabem qual a doença ou mal de que sofre o
paciente em sua paixão; todavia, sabem de um nome para denominá-la;
assim, ficam somente na
nomenclatura e não passam à efetividade prática, à causa, ou á
engenharia médica ou
práxis necessária para a cura ; a práxis ou engenharia química fica
adstrita somente à feitura
dos remédios. A nomenclatura, que é menos que a linguagem, ou apenas
parte da linguagem, sem a gramática e suas relações e ilações lógicas, a
qual faz a ciência no abstrato, na arquitetura do pensamento, a que se
seguem as engenharias e outras linguagens para os objetos a que vão de
encontro; a nomenclatura fica sendo o único e unilateral conhecimento
que o profissional, em geral, e outrossim o profissional de saúde acaba
tendo do doente e da enfermidade ou
síndrome, não a ciência enquanto linguagem, que então, neste caso, se
torna linguagem-fóssil, encontradiça nas pedras dos caminhos longos,
redondos, em voltas sem fim, como quem está perdido no deserto imenso,
ancho, sem anjo, com Pã tocando a flauta ( ou o diabo no meio da melodia
do meio dia : zênite).
A dicotomia e outras relações duplas ou triplas, ou
quádruplas, etc., entre o indivíduo e a doença, como entes ou objetos
separados, é impensada, desprezada.
Quando a nomenclatura toma o lugar da
linguagem não é possível chegar ao conhecimento que está desenhada na
linguagem, arquiteturalmente, nas concepções do pensamento que vão ser
aplicadas ao conhecimento, o qual, depois dessa fase, passa à práxis e
engenharia na aplicação dos princípios ( da razão),nos quais está
contida a sabedoria, lida sob a forma de práxis em natureza; na menor
folha, ou palma, de palmeira podemos ler este livro da sabedoria,
derradeira fase da inteligência, encetada no homem e passada aos demais
entes humanos pela linguagem ( os genes da cultura), na qual estão os
conceitos que se apóiam nos princípios ou leis naturais lidas na linha
da vida ( e não linhagem do pensamento, pois o princípios ali
encontrados vêem de fora do pensamento, estão na existência ), o que
pode constituir a ciência, dependendo da propedêutica e da capacidade
cultural e intelectual do indivíduo que lê e interpreta, ato no qual a
linguagem comunica e é a ciência que comunica em forma arquitetural, ou
conceptual, abstrato, intuitiva, enfim, uma geometria e uma linguagem
matemática atende as comunicações da geometria em espaço e tempo; tempo,
que está na visão e leitura do homem de algo matemático-motor que está
"in natura" e mal podemos compreender senão sob a ótica de movimento.
O tempo é o movimento que percebemos, mas mais que isso é um conceito
complexo, no qual estão colocadas várias funções e concepções que não
pertencem ao conceito de tempo, mas apena os abstrai para mais ( a
grande abstração) e não para menos ( pequena, média ou comum abstração),
pois no conceito de tempo tem muito mais objetos do que o tempo, assim
como sói acontecer em outros conceitos preso entre a grande e a pequena
abstração, ou seja, a abstração que põe muito mais do que tem no objeto
de estudo e naquela que tira matéria e deixa apenas a forma , como
ocorre na pequena ou mediana abstração, que ignora propositadamente as
infinitas relações dos objetos para poder isolar um objeto de estudo.
Todavia,
o pior de tudo é quando a mente alerta e insaciável buca outros
objetos, em relação ou unidos indissoluvelmente aos objetos primários,
isolados no consolo do espírito da abstração pequena.Na interiorização e
exteriorização de vários desvarios e de experiências vividas, do mito,
oriundas do mito, quando surge o deus Pã, enquanto doença ou outra forma
de incômodo, aí é que está exposto em toda sua complexidade a questão da
linguagem, agora com tom poético, e as demais linguagens da ciência e
da práxis em suas relações.
O complexo Pã ou medo-Pã não é simplesmente um deus, mas algo mais vasto
e fundamental, que separa mito e realidade, pensamento ( não teoria) e
práxis. Entendo como práxis todo comportamento humano
livre. A engenharia, a arquitetura, a ética, os ritos, dentre outros
comportamentos e atutides humanas, são práxis. O mito ou ciência na
linguagem mitológica ( na lógica, no "logos", na logística que ampara o
mito e o rito : sua práxis), é, sob um determinado prisma
científico-filosófico) do Complexo Pã, ou Complexo Medo Pã, dá o mesmo
conhecimento e práxis
que a geometria, em sua relação com o ser humano, ou seja, a relação
espacial, que abstrai, na geometria, a temporal, mas a põe na ralação
com o homem que, a ver ou abstrair o espaço na forma geométrica, tirando
matéria e concomitantemente tempo, permite observar que tempo,
movimento da matéria, parece inexistir na forma; sem embargo, como as
formas geométricas são mutáveis ( mutação ), até nas formas que um homem
desenha diferententemente de outro ser humano, já demonstra que o tempo
ou movimento também vai nas formas, pelos movimentos na geometria
euclidiana clássica e demais geometrias não-euclidianas, como a
geometria
analítica de Descartes e outros. As linguagens para as geometrias, bem
como para qualquer ciência são inúmeras e se contam pelos objetos que as
aguardam plácidos.
O Complexo-medo Pã, vem evocar a individuação e, outrossim, o oposto do
processo da individuação : a unidade ( ou o ser de Parmênides, filósofo
de escola eleata, escol de onde vem o berço da ontologia, parte
essencial da primeira filosofia em terra ou alienada do pensamento do
pensador filosófico já, antes de Sócrates ; daí pré-socráticos, a
história da filosofia ). A individuação é a fonte de toda paixão (
sofrimento, frustração, infelicidade, desunião, nascimento ou
composição do corpo e morte ou decomposição da matéria de que é feita o
organismo, etc. ) : a paixão de Cristo, a Paixão de Dioniso, que quando
despedaçado
( ou individuado, na metáfora, alegoria, que quer dizer, outrossim, esquartejado, decomposto na paixão da morte carpido ).
Neste estado, no qual o corpo se acha despedaçado ou decomposto,
Dioniso é chamado Sagreu e, destarte, deixa de ser uno com o todo, e
passa à trágica condição do indivíduo, que sofre, erra, ama,vive, morre,
e não recebe em correspondência o espelho do amor, em devolução justa à
paixão que emite de si para outro : alteridade, cuja tensão tem
diferença entre s indivíduos envolvidos nela, pois o ser humano é um
Narciso, macho ou fêmea ( epiceno) que suicida-se ao afogar e si, na
sua solidão basta, individual, impossível de romper : a prisão da
solidão : "Ecce homo", eis outro homem, desconhecido da linguagem da
ciência ou sem linguagem perceptível ainda nos primeiros vagidos de uma
gutural nomenclara, pré-histórica, arqueológica, ou proto-histórica.
O processo de individuação é que traz a morte e, consequentemente, à
consciência da morte, porquanto a morte é para o indivíduo, não para a
natureza ou para o homem enquanto gênero e espécie. O homem enquanto
espécie afronta milênios ou mais; entretanto o indivíduo mal passa de um
breve momento, um interlúdio fosco. Esse processo de individuação ( que
informa a alma do budismo, do cristianismo, do induísmo, etc.),
ocasiona todos os transtornos na vida do ser humano, que, diferentemente da
erva daninha, o percebe, tem consciência da individuação e suas
consequências fatais.
A doença nasce dessa compreensão e apreensão da
realidade brutal, é uma regurgitação dos venenos consumidos vida fora :
vida social de coadjuvante, que a maioria leva às costas e o consequente
alcoolismo, tabagismo, alimentação deficiente, temperada no agrotóxico e
hormônios, conservantes potentes, desamor, baixa estima; pouco dinheiro
e poder pessoal, político, sócio-econômico ; miséria intelectual,
dentre outros fatores ;
portanto, noventa por cento da doença de um
indivíduo reside e é criada pelo doente, que é o ser humano desperto e,
evidentemente, levado e elevado à loucura ocasionada por este despertar
búdico ou crístico ou nietzschiano ( o Buda ou Nietzsche na
percepção do fenômeno dionisíaco, o Cristo, são alguns desses indivíduos
perceptivos da realidade crua da individuação ), ou seja, o indivíduo
ou o ente individual cuja compreensão da realidade, que o fere de
morte, desde o nascimento, torna-o um ser búdico ( iluminado, um Buda )
ou dionisíaco ( selvagem ou natural, instintivo, ou ingênuo, no
linguajar de Nietzsche) ou crístico ( dominados pelo amor ágape de
Cristo e São Francisco de Assis, dentre
outros), este próprio indivíduo e mais ninguém nem nada fora dele, é o
criador de sua doença, ou, se quiser, o curandeiro ou médico ou xamã
que se auto-cura, pois o corpo cura tudo, tem capacidade regenerativa e
degenerativa, fato que a ciência não pode adivinhar, nem quer admitir,
ou ousar sonhar, mesmo porque apagaria parte da política de dependência
social, o elo médico-paciente, farmácia-clientela, mestre-discípulo e
outras formas sociais de dependência cômica, senão trágica ; os outros
dez por cento da doença, que sobra, é somente
efeito colateral do doente, ou seja, a doença é somente esses dez por
cento, o resto dos noventa por cento da doença é criação do doente, uma
personagem
trágico-cômica entre os médicos. Tais efeitos colaterais são produzidos
pelo doente, drogas de farmácia, médicos, iatrogenia, alcoolismo,
tabagismo, vários tipos de envenenamento efetivo ou metafórico, etc..
Estes
indivíduos que vivem essa paixão que representam em si e para os outros,
são, enquanto indivíduos cônscios ou inconscientes de suas mazelas
representadas e sua paixão ( doença) , em geral, são seres humanos
despertos
repentinamente por algum sofrimento insuportável, uma guinada radical na
vida que o abalou completamente há alguns anos e que depois tem que ser
regurgitada como doença, no vômito social, a fim de evitar a morte
prematura. A doença é a própria cura perpetrada pelo corpo, cujo fito é
responder aos processos de infelicidade que envenenaram o organismo
durante a grande tribulação e somente acontece depois que passa à
"grande tribulação" que assola o solitário e abandonado indivíduo,
entregue à sua própria sorte, mormente quando a sociedade ( família,
empresa, igreja...) podem prescindir de sua existência ou esta se torna
um peso ; enfim, o estado em que se lança o corpo do
indivíduo para se salvar da morte certa, da doença levada a cabo pelo
indivíduo, na forma de neurose ou de química do corpo, é uma reação
natural e sábia do indivíduo
que percebeu o desamparo a a solidão inenarrável a que está sujeito, a
precariedade da vida, pois todo indivíduo é, antes de tudo, uma
personagem de tragédia escrita e representada
por ele, indivíduo, ente mortal, como Sócrates no silogismo, o ser
humano que se vê , de chofre, nu, expulso do seu meio, sem nicho, em
meio a intempérie assustadora,
a qual sopra a zarabatana envenenada de morte aos quatro ventos, nas
ventas
dos
cavaleiros do apocalipse diuturno e nos foles dos pulmões do moribundo.
Noventa por cento percentual da doença é fabricado pelo doente, seu
cérebro, sua mente e sua vida pregressa e atual, que ele rejeita (
rejeição, repulsa ) ; os outros dez por cento percentuais são efeitos
colaterais : médicos, drogas, química a formular ou reformular a matéria
ferida pela mente do indivíduo. Essa conclusão velada, por assim dizer,
está implícita no budismo pela doutrina do induísmo ( reencarnação, ou
seja, retorno das ervas nas sementes : o vegetal é a vida ou a alma da
vida que anima a planta, o animal, o homem e tudo o que possui vida ),
na doutrina do eterno retorno de Nietzsche, no cristianismo com a
ressurreição, que não passa de uma evocação óbvia da primavera : o fim
do degelo, o apagar a lareira. A Seicho-no-ie exprime , de forma
explícita, a doutrina hinduísta-budista e cristã, quando fala da
perfeição universal, na qual se reconhece a unidade e se demonstra a dor
da ser dilacerado em indivíduo, ou seja, na união com Deus, que é a
única salvação do indivíduo e do processo de individuação, que ocasiona
tanto mal e degeneração no mundo estribado na individuação : o mundo
infeliz de Sagreu, o indivíduo trágico em Nietzsche.
A ciência e a
religião são mitos temporais, ou linguagens para confirmar ou verificar,
dar crédito ou credibilidade a mitos; a poesia oculta nas equações (
expressões de linguagens ) fala de Deus e expõe a mitolologia de todos
os Hesíodos periódicos, em tabelas mensuráveis. Podem ser ponderados,
pesados na razão. A filosofia é a única forma de fuga e criticismo do
mito, mas por isso mesmo é um instrumento detestável, deplorável, eivado
das superstições e preconceitos, bem como contexto sujo, de seus
feitores e autores. Torna-se, destarte, algo inútil, pedante, kantiano,
fossilizado no diálogo escrito dos filósofos de todos os tempos, que
discutem hoje ( agora!) todos os tempos e sempre o farão, enquanto
houver língua e homem.
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