A natureza é uma tocatta e fuga para dois violinos /
que dois violinistas tocam /
sendo o violino a própria natureza /
tocata em flor e mar /
- Inobstante, os violinos dos artífices são : um Stradivárius e um Amatis /
obras máximas dos dois geniais fabricantes de violinos da Itália /
uma vez que o violino /
por ser um instrumento musical máxime em exprimir a paixão /
tão-somente podia vir da alma italiana /
tão apaixonada como um São Francisco de Assis na senda da pobreza extrema! /
nos afrescos de Giotto /
( Oh! mar! - amar é o que é mar /
de mar a mar /
que mar é amar /
independente de aposto a letra alfa /
no largo vôo da envergadura do albatroz /
na pesca do peixe no bico do pelicano /
pai de grande família : Pelecanidae ) /
Amar é ir a mar remar mar a mar /
até amar ao chegar semi-morto /
na areia branca onde rola e repousa o náufrago /
de tanto mar a nadar /
mar aberto a mar /
a amar mar e terra alva calçando com suas sandálias de areia /
o pé da terra onde nasce a palmeira /
bandeira ao vento /
como se fosse o coqueiro um navio pirata /
com a bandeira da vida verde desfraldada /
sussurrando cantigas de amar ao vento /
que vem ventando a ventania furiosa de amar o mar /
e vergar as tamareiras amadas de mar a mar /
até a preamar chamar o luar para amar o mar /
que ama a margem ao modo de amar do mar /
com Tritão e Poseidon na poesia de mar amar /
que mar é amar Netuno e Anfitrite (Salácia) /
oh! mar de muito mar! /
de sete mares /
e muito amar /
até debaixo d'água verde ou azul /
consoante os olhos postos no mar /
sejam dos de meu irmão /
ou de meu falecido pai /
que vive e existe pleno em mina mente /
onde o tempo é meu produto /
- o tempo é produção do homem /
pois a natureza não executa atos /
mas tão-somente fatos /
porquanto atos são movimentos exclusivos do ser que habita o homem /
e são originários da mente racional e emocional do ser humano /
( o ser humano é o portador do ser /
e outrossim o senhor do ser) /
enquanto os fatos são irracionais /
e não se originam de nenhuma vontade /
nascendo de causas e efeitos /
obedientes a princípios imutáveis /
pois não diferente dos atos /
os fatos não são movidos pela vontade /
motor do ser humano /
e o ser supremo cujo templo é o ser do ser humano /
penteado de lua ou aurora /
belo como a mulher e criador como o menino /
que tudo começa com sua vontade férrea /
iconoclasta que derriba velhas tábuas de valores /
e põe deuses e ciências a beijar o pó do chão /
no ósculo humilhante /
pois somente o homem é grande /
sendo os arcanjos pequenos /
e os demais seres suas criações poéticas ou científicas /
artefactos tecnológicos ou teatro ritualístico /
Oh! mar, ó mar, Omar! /
amar-te de Marte /
ou de Marta /
ou da marta com sua pele preciosa para casacos de madames /
Ah! mar, há mar de Marte a Marta /
que amar vai de Marte a Marta /
e de mártir em mártir /
até a morte de mar a mar do ato de amar /
na amargura do mar morto /
- morto mar morto amar ) /
O violinista verde toca o musgo /
(tange o musgo como música /
na musa que dança no violino /
todo de clorofila vertido /
na glicose da musa /
que põe o mel da abelha nas cordas do violino /
e na baqueta deixa o favo /
aspirando o espírito longânimo da geleia real /
dieta para abelhas-mestras /
abelhas-rainhas cercadas de aias ) /
expande a cor do musgo no musgo /
no seu pastoreio de ervas daninhas /
heras e lodo e verdes mares /
( ai! mares! que há mares /
nas dores dos mares /
que magoam viúvas /
por dentro de seus mares de saudades /
- mares onde jazem saudosos /
tantos homens e mulheres e crianças /
que não alcançaram a ilha de Robinson Crusoé /
depois que o navio adernou /
após o naufrágio trágico e célebre do Titanic /
- e forma tantos tontos Titanics! /
que soçobraram inopinadamente no mar /
ao encontrar um recife ou um escolho ou iceberg /
frio como a rigidez horripilante da morte ) /
Mares, ah! mares!, oh! mares!,ai! Mares /
expressos em ondas no azul da sombra do anil /
à sombra espessa do anil posto na flor do chão para ervas daninhas /
e no céu para aves hábeis como a fragata ou a águia ou o milhafre e o gavião /
- anil tocado com sentimento pelo violinista azul /
o violinista celeste de sentimento piegas /
homem comum oriundo do povo /
pastor de outros ares e montes Urais /
fascinado pelo horizonte sem fim na asa do pássaro /
ou da borboleta que passa leve e lépida /
na leveza da levedura de cerveja /
amarela flor do ar /
inflorescência em vôo /
nos jardins suspensos no ar /
volúvel volúpia volante /
folha volante no raso do amarelo outonal /
com a face no chão de folhas e flores /
anjos e arcanjos naturais /
- primeiro passo vegetal para o natal da fênix /
tocada em violinos febris /
para ouvidos de poetas /
habituados a ouvir esses violinos Stradivárius e Amatis /
que a cada novo outono no chão esparso no amarelado /
pelo tom do ouro do renascimento /
da ressurreição e reencarnação de ervas e folhas e flores nas árvores /
e arbustos ou lianas que há a trepar em sebre e muros ou muralhas de velhos castelos /
convoca Paganini a tocar o melhor Stradivárius /
que a natureza esconde num museu /
cujo palácio exuberante está localizado na mente humana /
aonde vão os poetas e artistas em peregrinação /
que ali está sua Meca /
na aldeia de dentro do ser humano /
- aldeia congelada na imaginação /
que somente a paixão ardente do poeta descongela /
e faz da aldeia que era uma cidade-fantasma /
que era um cemitério para avantesmas /
uma vila habitada por eremitas felizes /
aonde vai um circo de cavalinhos para as crianças sorrirem á vontade /
e lembrarem que poeta-pintor de nome Chagall /
arquitectou tantas aldeias assim /
que continuam congeladas em suas obras /
cobertas pelas Eras Glaciais /
que gelam a sensibilidade e o senso de beleza dos homens comuns /
- pobres diabos de sangue frio /
tal qual os lacertídeos e as serpentes sem paraíso /
Mares, ó mares, oh! mares, Ah! mares /
sim, há mares e há mares e amares /
ainda mais para lá dos mares /
mares de cá e/ mares de lá /
mares de Alá /
- mares de Alla /
cujas águas pintam nos olhos os verdes da mata atlântica! /
e os olhos verdes eternos de meu pai! /
que foram os maiores mares que já vi de mar a mar /
a rebentar nos recifes e escolhos /
- mares de amar até sem ouvir o bramido do mar /
até mesmo e ainda de olhos vendados pela escuridão hermética da noite /
mais negra que o anu-preto /
Mar que ressoava lá dentro /
de tanto mar verde era o amar do mar /
nos olhos verdes de meu pai! /
- verdes de querer o verde /
( e de te querer verde ) /
como o queria apaixonadamente o poeta Garcia Lorca! /
( Há mares que vem para mares /
e há mares que vem para amares /
- mares sem males /
só mares e amares! /
nos sete mares os sete amares /
correm junto a corrente do Golfo /
e a corrente de Humboldt ) /
Todavia há mares que pintam o azul /
nos olhos do anjo azul do último rebento /
do filho caçula de meu pai /
cujos olhos açulam e mexem com o azul dos céus /
revirando nuvens e olhos de pombas em solitude de vôo /
- olhos azuis que fitam fixamente o anil /
que se mescla em cor de sonho de alva onírica /
dentro daqueles olhos em azul angelical /
de criança mimada que se pensa dono do mundo eternamente /
Ai! que esse belo tom de anil /
os olhos de meu pai desmanchava com o amarelo-ouro /
que adornava o verde mar em procela e procelárias /
vivos em seus olhos complexos /
- de uma beleza complexa e invulgar /
e de uma fúria das Fúrias mitológicas /
que pareciam esconder Medusas e suas serpentes /
quando o ódio de mar revolto os toldava /
e fazia naufragar veleiros /
( Meu progenitor era um Robinson Crusoé que alcançou a nado a praia /
depois que seu barco foi à deriva /
um velho veleiro que sempre é metade do homem /
centauro de seus inventos /
como o demonstra uma parábola gráfica e pictórica de Salvador Dali /
na obra intitulada " o Barco " /
onde um homem acaba de sair molhado de mar como o pintainho da gema e da clara do ovo /
e está com o veleiro junjido às costas /
logo que sai à costa /
tal qual um Robinson Crusoé /
cujo barco naufragou /
mas continuou preso às espáduas do homem /
porque a invenção do homem /
traz sempre o princípio do centauro /
que é o homem metade animal e metade ser humano /
que se transmuta em meio homem no corpo /
e meio barco ou outra invenção sua /
presa e arraigada ao seu corpo /
como parte artificial /
que não se pode retirar /
sob pena de morte /
já que o homem não sabe mais viver /
sem o seu invento /
que incorpora também ao e principalmente ao seu espírito /
porquanto é um produto da mente /
que do nada tira outro ser ou ente /
que o ser do homem dá à luz /
como demiúrgo que é ) /
Meu pai era um violinista verde /
( aquele violinista totalmente embriagado! /
que Marc Chagall pintou ébrio /
e ainda com sede de mais vodka! ) /
e todo o violino verde mais o violinista verde /
cabiam nos olhos de verdes mares do meu pai! /
cujos olhos tingiam o mar de verde /
só de olhar ou mirar o mar /
tal o vigor que aquele olhar irradiava /
porque há mares e mares /
e mais mares que os sete mares /
haviam e conviviam no âmbito verde dos olhos de meu progenitor /
mas mais que mares /
muito mais que mares /
- há amares /
amares /
e havia mares e amares nos olhos do meu pai! /
para além dos mares verdes e azuis /
que balouçam bergantins /
e põe gaivotas no ar /
como se fossem ovos /
- ovos postos no ar /
escarnecendo a gravidade /
e quaisquer outras leis /
que os engenheiros têm de respeitar /
porquanto não têm a liberdade do gênio /
nem a licença do poeta /
que fazem geometria do nada /
e constroem motores e edifícios /
nas suas arquiteturas /
que um dia os engenheiros inteligentes acharão o ritmo /
de onde poderão encetar o cálculo /
e achar o caminho material para plantar edificações e aparelhos /
que antes era impossível construir na prática /
tirar da prancheta do arquitecto /
ou do "design" que o projectou /
na pura arte de usar o pensamento /
livre de quaisquer amarras /
para lá onde as normas fincam proibições incolores /
indolores /
e em Dolores /
cujos filhos já não vem com tantas dores /
como antes eram os filhos concebidos por Maria /
então cognominada Maria das Dores /
Nossa Senhora das Dores /
mãe sempiterna do Homem das Dores /
( que somos nós /
os seres humanos /
que carregamos todas as dores do mundo /
porque o animal só parece saber da dor física /
O homem, entretanto, conhece a pior das dores /
a pior das cruzes /
o maior e mais terrível calvário / que é a dor moral! /
- a dor para a qual não há sequer lenitivo /
nenhum paliativo ) /